Quero escrever algo inútil
Inútil e sem nome
Sem nome ou estética
Nem mesmo moral no final.
Inútil como flores e
estrelas
Guitarra em agonia
Ou o coração da bateria
Inútil como um pensamento
profundo
Alegria da festa
Dores e dores
Do que implora em vão.
Orvalho matutino que beija a
flor
Bilhete esquecido na gaveta
E a aula enfadonha
Para o aluno que dorme.
Inútil como o amigo que nunca
voltou
E o plano que não se
concretizou
Como o gesto gentil
Para alguém cujas as costas,
é tudo que se vê.
Poesia sem rima
Canção que não toca mais
E para o estadista
estúpido...
O pedido de paz.
Relógio que atrasa
Agenda do ano passado
Jornal de ontem
Churrasco sem brasa.
Indignação de quem cala
E para quem fica: a mala.
Que seja assim minha poesia
inútil
Mas que pressione o braço que
não sangra
Amenize a ferida escondida
E preencha o vazio
Secando sem saber o porquê
Da lágrima que deixou de
rolar.