terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

KAFKA
Pise em cima, ela já não tem as patas de trás e nem marijuana pra fumar.
Construa um muro, mantenha elas longe, a não ser que precise de uma para fazer o trabalho que ninguém quer.
Atire com uma 12, bem na cabeça se ela for uma morta-viva.
Perfure até matar com um espeto de churrasco caso ela use a camisa de outro time.
Arraste de carro até que não lhe reste nada para ser enterrado.
Impeça ela de usar o mesmo elevador.
Mate ela de fome caso estiver obesa.
Pensando bem, jogue uma maçã que vai grudar nas suas costas até apodrecer. Esqueça que era seu irmão que passou por uma metamorfose.
Jogue seu livro sagrado nela, mas só se ela tiver outra religião.
Gás de pimenta e bala de borracha se ousar falar sobre igualdade.
Faça piadas nojentas com ela se a cor da pele for diferente.
Espanque até matar se encontrar uma na noite que use silicone.
Torture até confessar.

É apenas uma barata.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

SER E TER (ou cuidados com o que se tem)
Para ter um carro, é necessário:
- Demonstrar ter acuidade visual;
- Passar por um exame psicológico;
- Passar por um exame médico ou adaptar o seu veículo as suas necessidades especiais;
- Demonstrar conhecimentos básicos de primeiros socorros, direção defensiva, leis de trânsito e física... e o que mais se decidir em cursos nos quais a presença é obrigatória e comprovada pela impressão digital;
- Não ingerir bebidas alcoólicas;
- Pagar taxas anuais para que o veículo seja vistoriado comprovando que o mesmo é seguro;
- Ter extintor, triangulo, macaco e estepe (não esquece a lanterna, é bom ser precavido!);
- Se você usa óculos lenço de papel é recomendável;
- Pagar taxa de seguro obrigatório, e diz o bom senso que devemos pagar ainda outro... vai que...
Para ter um filho:
- Vocês sabem muito bem que basta fazer uma só coisa e esquecer o equipamento de segurança.
Preocupado?
Fica não.
A vó cuida.

Vai lá e faz outro! 

domingo, 12 de fevereiro de 2017

O PODER E O VIOLINO

A máxima que atribuem ao Esperidião Amin de que poder se toma com a esquerda e se toca com a direita, aqui adaptado pela minha falta de gosto por ênclises e mesóclises, fica mais ou menos assim ao contar minha trajetória: porrada se toma quando estamos na contramão.
Só lamento saber disso depois de tanta discussão infrutífera, tanto desgaste, de tantas vezes ser acusado de ser radical de direita pelos meus amigos mais à esquerda; e de radical de esquerda pelos meus amigos mais à direita.
Esta trajetória não é, acreditem, uma forma de procurar me dar bem nos círculos de poder. Me sinto, meio assim, como um Forest Gump ao contrário. Sempre estou do lado errado da história.
A percepção que quero compartilhar é de que o poder tem a capacidade de ensurdecer quem o detêm, especialmente quando o trono se amolda a bunda do soberano. É neste momento que o ritual de beija mão vai apontar quem são os queridinhos do rei, e ai daquele que ousar dizer que brioches não vão matar a fome do povo.
Enquanto isso longe das cortes, vejo a substituição das arenas onde pelejavam leões e cristãos por outra, virtual, onde se acusam mutuamente de ser mortadelas e coxinhas.
O ódio instalado cultuado por frases prontas se estabelece fortemente ao se transformar em ataques pessoais. Uma ideia é o suficiente para que lhe grudem rótulos inomináveis. O fenômeno se agrava quando se parte para a defesa de figuras de nossa recente história que claramente têm discursos desencontrados de suas práticas.
Além disso, fazemos tudo com desesperada pressa, pois a pesar de hoje haver a chance de passar tanta informação quanto se quiser preferimos a rapidez dos bordões. O que não couber em 140 caracteres simplesmente não pode ser dito.
Perdemos de longe a capacidade de discutir ideias e respeitar as pessoas. É muito mais fácil ridicularizar. Somada a nossa tendência de pertencer a um grupo sua vida fica mais fácil se você toma uma posição extrema e exclui quem não concorda de suas redes sociais. O que, aos quarenta e cinco do segundo tempo vai lhe colocar em um lado bem definido do campo do jogo com um monte de zagueiros para lhe defender.

Paulo Afonso matou a charada, com seu jeito bem-humorado de ver o mundo: “Remo, para com isso, os políticos brasileiros são ambidestros, batem com a direita e a esquerda, cruzam, cabeceiam e fazem o gol, apitam invalidando e depois correm para o meio de campo. Uma hora depois da confusão mandam mudar o replay e tudo vai parar no tapetão.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017


CAVALEIRO MARGINAL

Na janela lateral do cara lá de Marechal, quando eu falava longe de Honório... ou algo assim, era como Everest cantava Beto Guedes em uma parceria inesperada. Óbvio, que esta música acabou ganhando nova dimensão, a bela representante do Clube da Esquina ficou, para mim, com a cara do meu irmão.
Já a admiração que meu sogro tinha pelo Alceu Valença teve um quê de mistério. Feliz da vida, ele agradecia pela lembrança daquele pessoal de sua juventude. Eu ficava no vácuo, até que a bruma leve das paixões que vem de dentro, tantas vezes assoviada, mostrou a sua versão surpreendente: a turma alegre da estação de Engenho de Dentro.
Este é um assunto interminável:
Djavan nunca passou por um deserto amarelo.
Erasmo Carlos não estava te mandando chamar Dirceu.
Elis não te compara com um bife quando fala que você ama o passado.
Quando Claudio Zoli estava homenageando B.B. King, não pensava em tocar com roupas de banho femininas.
Nem o namorado da andarilha Beth Carvalho, na verdade um monarca, se tratava de um homossexual.
O gaiato do Herbert Viana não entrou de caiaque num navio.
Se você duvida que alguém possa cantar assim dá um google que outros exemplos aparecem rapidinho (ou você acha que eu lembrava de todos estes?).
Podemos esticar este papo um pouco mais: o famoso zagueiro zagueiro teve seu nome derivado de uma interpretação errônea do Roberto que falava sobre o divã.
Isto não ocorre por acaso, quando nós começamos a estudar as teorias sobre as nossas práticas em sala de aula podemos finalmente entender que as pessoas podem ser entre outras coisas auditivas, visuais ou sinestésicas. Isto explica o porquê de alguns alunos, que têm um bom inglês, não entendam nada por telefone.
Bem, está dito. Atire o pau no gato quem nunca cantou errado. Eu mesmo passei boa parte da minha vida pensando que mantissidão era uma palavra que deixava as pessoas nas nuvens, como que em um lugar calmo, de serenidade e paz. Lençóis de cetim onde amantes se dão.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

ELE PÕE OS OLHOS GRANDES SOBRE MIM

Sou contra.                   
Apesar de me tocar profundamente não dou um centavo a crianças na rua. Sempre há um adulto se aproveitando deste tipo de situação. Elas deveriam estar na escola e ponto (final, de exclamação e de vista).
As pessoas bem-intencionadas colaboram com uma relação escravocrata.
Quanto piores forem as condições das crianças e quanto mais miseráveis apresentarem, maiores as chances de que seus carcereiros lucrem.
Lá se vão eles pelas ruas, com cabelos colados, mãos sujas, feridos, surrados, maltrapilhos.
Dá uma dó tão sustenida que eu não caibo em mi.
Aí para aquele molequinho do lado da minha mesa na loja famosa de hambúrguer grelhado, como que sabendo que não sou dali, não habla nada... nem eu. Só fica meio assim se esforçando para ficar de pé. Não sabe andar há muito mais do que a metade de sua vida.
Finjo olhar para o outro lado.
Pego o saco.
Estendo a mão para fora de meu campo de visão.
Só assim penso que eu mesmo não sei o que estou fazendo.

Em minha defesa: tô gordinho mesmo, e aquelas papas fritas deviam ter toneladas de calorias.