SOBRE VERSALHES, GUADALUPE E
MARECHAL
“Aqui nessa casa
Ninguém quer a sua boa
educação
Nos dias que tem comida
Comemos comida com a mão”
O
famoso palácio não tem corredores, cada sala se comunica com àquela adiante. O
que parece ser apenas um incômodo arquitetônico tem um claro propósito. Havia
uma regra de que qualquer cidadão poderia levar os seus pleitos diretamente ao
rei. O problema é que cada uma das salas tinha seu protocolo, e só poderia
seguir quem o soubesse. Beleza... a esta altura você já imaginou quem conseguia
realmente se por diante da realeza.
Etiqueta
deve ser uma coisa muito legal, me lembro bem de quando alguém de meu bairro, entre
Marechal Hermes e Guadalupe, chegou com o bizu de que uma fábrica famosa de
camisas estava doando jogos completos de times de futebol em troca de cem
logomarcas.
Resultado.
Criamos uma espécie de milícia que impedia quem quer que fosse de passar na
nossa rua sem que “cedesse gentilmente” a etiqueta de sua camisa. Quando
completamos uma centena fizemos uma vaquinha para pagar a passagem de ônibus
para dois representantes que voltaram com as mãos vazias.
Isto
prova de que informações falsas eram passadas com velocidade espantosa pelo
mundo a fora muito antes de existir internet.
Mas
não é disso que quero falar.
Etiqueta
é quando você desliga o som antes de entrar no trem, coloca a mochila na
frente, cede seu lugar para a idosa que mal se aguenta, resiste ao impulso de
tirar meleca e não tosse na cara da garota ao lado.
Ética
é quando você faz o que é certo mesmo que ninguém esteja vendo, porque você
sabe muito bem o que está fazendo.
Juntas
deveriam ser regras de bem se viver em comunidade, mostrando respeito para com
as outras pessoas. Uma boa demonstração disto é a sua capacidade de obedecer às
leis de trânsito, pois as ruas não fazem parte do seu quintal.
Então, seu mané, abaixe o farol quando passa pelo outro carro na estrada!
Mas
se você usa a etiqueta para impedir que um necessitado de chegar ao rei há algo
de errado.
Outro
dia deixei o garfo cair. Como fui criado por pai, mãe e dez irmãos juro que
fico confuso com este tipo de situação. Um colega que sabe desta minha
dificuldade disse que a boa etiqueta seria fingir que nada aconteceu e deixar o
garçom pegar.
Não
tive dúvidas. Etiqueta não deveria ser uma ética diminutiva. Levantei e peguei
o garfo, afinal sou eu o desastrado da história.