(IN)CERTEZAS
Uma folha em branco deixa
de assim a ser quando recebe um carimbo escrito: Em branco.
Se um menino puser uma capa
azul ele não vira o super-homem, e caso tenha a infeliz ideia de pular da
janela... bem vocês sabem, a lei da gravidade (ainda) não foi revogada.
Quis começar este texto com
algumas certezas, pois cada vez menos as tenho.
Não sei se alguém quer me
dar um golpe.
Não sei como o universo se
organiza.
Mas, posso dizer que tem um
punhado gente um pouco mais perdida por aí.
Vi, outro dia um vídeo de
um congressista se dizendo preocupado com a colisão de um planeta de nome estranhíssimo
com a Terra, e de que forma o Congresso deveria se preparar para o evento.
Caraca! Esse
cara não tem uma assessoria mínima? Perguntei a um amigo. Não há ninguém para
avisar que ele está pagando um King Kong? Bem... ele disse. Se o cara está
perdido assim imagina o naipe de assessores que ele escolhe. Além do mais quem
vai correr o risco de bater de frente com a otoridade?
Chega outra informação.
Esta já vale a pena. Um cara fez uma pesquisa que delineou que o maior
indicador de que alguém vai participar do crime organizado não é a condição
social, nem a origem geográfica da pessoa (o que sei de experiência própria, as
favelas estão apinhadas de gente decente e trabalhadora!), mas sim da evasão escolar.
O processo seria mais ou
menos assim, o guri não vê a escola como uma chance de melhorar de vida, logo
se desinteressa. Depois vê seus resultados despencarem. É chamado de burro a
torto e direito e direto. Foge da escola. Toca a vida de outra forma.
Bem isso não contempla as
falhas de caráter. E elas também existem. Digo ainda que o desempenho acadêmico
não tem relação direta com a educação do coração, aquela que outras pessoas
preferem chamar de berço. Não uso este termo por entender que há órfãos de bom caráter
e filhinhos de papai que não prestam.
Fica ainda a questão que não
quer calar, a quem interessa uma escola que não funciona?
Seja como for a escola
deveria ser um ambiente acolhedor. E quando assim o é se torna um lugar mágico,
mesmo que não seja Hogwarts.
Sei disso porque assim era
a Baden Powell, lá em Guadalupe. Guardo com carinho o nome dos amigos: Carlos
Alberto (que Deus o tenha), seu irmão, Carlos Augusto, Evandro, Jaceara, as
duas Ivanas, Maria, Athaide... Ah! Bons tempos.
Só que não podemos esquecer
dos atores principais: eles exigiam disciplina. Contavam histórias. Liam para
nós o Homem que Calculava de Malba Tahan ou o Pequeno Príncipe. Desenhavam o
mapa mundi, uma célula, um organograma, nos ensinaram gramática e poesia, nos
faziam ler Érico Veríssimo. Nos contavam como era o universo, a Terra, e as
estações.
Maele, Nolasco, Fernando e
o inesquecível Chicão.
Obrigado por não nos deixar
pagar mico.
Obrigado por não permitir
que a vaidade nos leve a conclusões absurdas, mesmo que a nossa assessoria não nos
corrija.
Obrigado por tornar a Baden
um lugar melhor que a rua.
Uma geração inteira de
Guadalupe agradece.