quarta-feira, 30 de outubro de 2019


Muito obrigado

Lhe agradeço por ser meu aluno
Sem você não seria professor.
Lhes agradeço por serem minha prole
Sem vocês não saberia que única riqueza de um proletário é ser pai.
Lhe agradeço por ser meu amigo
Sem você a vida seria cinza.
Lhe agradeço por ser meu professor
Sem você perderia a humildade e a grandeza de ser eterno aprendiz.
Lhe agradeço por ser meu guia
Sem você me perderia na noite e ela que é sagrada só seria um labirinto.
Lhe agradeço por ser meu amor
Sem você não teria a benção de ser amado.
Dependo de você como os galos precisam da alvorada para tecer uma nova manhã.
Sou um individuo
Pois não posso ser dividido de você.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019


O Trickster
Discordo de quase tudo que um grande amigo diz, torcemos por times rivais, temos visões bem diferentes do que vem a ser ciência e política. Sou teórico, ele prático. Gosto de tapioca e ele de cazuela. Rimos o tempo todo.
O que forja uma amizade assim? O tempo... Não! Não é só isso, talvez a história. Então, vou contar algumas.
Esse cara veio para o Estádio de Mário Filho acompanhando o Colo-Colo, mas se apaixonou pelo outro time e simplesmente resolveu ficar, enquanto todo o resto da turma voltava para Santiago. Tinha uns 18 anos e só não passou fome frio devido a bondade de desconhecidos e de uma incrível capacidade de aprender muito rápido.
Adiciono a esta equação improvável ao seu jeito meio Carlitos. O que mais uma vez nos coloca em lados opostos no tabuleiro da vida, já que eu sou super quadrado.
Para você entender a capacidade do meu amigo em dar nós em pingos de éter, lá vai mais uma história.
Ele já estava uns vinte anos no Brasil e resolveu ver mais uma partida da Libertadores, comprou ingresso para a geral do mesmo Maraca só que desta vez não foi com seu uniforme rubro-negro. Já nos corredores do estádio procurou um guarda e disse: “Por favor señor, ¿dónde están los otros chilenos?”, cadê seu ingresso? – o guarda retrucou. “no entiendo”. “La tarjeta” falou outro guarda.” “La perdí” encerrou tristonho. E lá foi ele acompanhando o funcionario que por precaução lhe deixou na área vip, onde estavam outros conterrâneos. Bebeu um bocado de vinho, se divertiu demais, mas não pôde comemorar os gols de seu time.
Entre risos e histórias lá vai ele desfilando com seu coração generoso e sua mente atenta. E assim lá vamos sempre as turras disputando quem fala mais alto. Desce um chopp, mais uma teoria da conspiração. Mais dois, quase saímos no tapa para dizer qual é a forma do nosso planeta.
Concluo que diferenças inconciliáveis somente podem sobreviver nos braços de uma grande amizade.
E em verdade vos digo, é na dificuldade que se revela um amigo!



terça-feira, 1 de outubro de 2019


Estava fazendo uma tradução simultânea para alguns amigos de uma minhas músicas preferidas. Sabe? Tipo Good Times 98: “Parece para mim que você viveu a sua vida como uma vela ao vento”. Então o pensamento escapou de trem para outra música quase simultaneamente e esta diz: “as velas podem fazer milagres” e soltas assim as duas velas parecem estar trocadas.

Contexto. Não dá para saber o que diz uma palavra sem que ela se torne a pele do pensamento. Esta vela pertence aos Bee Gees em um convite a uma navegação nos ventos da imaginação. A própria palavra canvas (lona) nos remete a força que impulsiona os barcos, um milagre sem santos. Aquela conta a história de uma atriz que se derreteu como a cera das asas de Ícaro e nada tem em comum com qualquer navegação que não seja da própria alma de Elton John iluminada por uma loura platinada.

Ambiguidade. Na primeira vez que vi esta palavra, o livro didático trazia dois exemplos: “matou o leão o caçador” e “Joãozinho comeu o jantar e a Mariazinha também”. O gozador do autor poderia ter inventado anTRIguidade aproveitando para ensinar o que é neologismo. Mas, como menos é mais a mensagem chegou ao aluno que antes disso não gostava muito de Português.     

Em outro momento traduzi: “Porque o céu é azul. Isto me faz chorar.” Antes de pegar a sua caneta vermelha para me corrigir separando a primeira palavra e substituindo o primeiro ponto por um sinal de interrogação saiba que Lennon e MacCartney preferiram o because ao why e foi isto mesmo que disseram. Mesmo assim caso você queira interferir ao traduzir a frase para alguém basta mudar a entonação e os porquês mudam de sentido como um vetor multiplicado por menos um.

Isso tudo parece inútil, principalmente para alguém que assim como eu ama as exatas. Porém, o culto ao utilitarismo não pode justificar falas como: “a extinção de uma espécie não modifica em nada minha vida”. Segmentamos o conhecimento e aprendemos a valorizar o que pode ser contabilizado. Mas saber que um grande empreendimento foi feito em uma praia, cujo nome significa “pedra podre” poderia ter economizado uns trocados. Então quem é sensato não despreza os que os outros sabem.

Uma língua me abriu horizontes, então estou arriscando um pouquinho de Espanhol apesar de soar como o personagem de uma velha piada o “Pancho Ligerito”. Mesmo assim lá vou eu tropeçando em falsos cognatos que já me colocaram em maus lençóis, mesmo assim vamos em frente.

Misturar línguas para mim talvez não tenha a mesma força reveladora de estudar as matérias que me dizem um pouquinho da opus Dei, mas alegram mesmo os meus piores dias.

Continuo não sabendo para que me servem os micos leões, nem o porquê de as velas pretas não terem sido trocadas antes da chegada de Teseu em casa, o que o fez velar ao seu pai. Será que a Ariadne  estava embaraçada? Todavia, sei que todas estas pequenas loucuras me dão a certeza de que certas metáforas têm muito mais a dizer. Afinal de contas o ambíguo aqui sou eu.