A palavra vem de torcer que é o que as jovens faziam com seus lenços brancos, cujo propósito original seria acenar para os seus jogadores prediletos. Então a pergunta: “por quem você torce” se tornou o modo oficial de entender uma paixão incompreensível.
Aí alguém lá longe no campo chuta um objeto esférico,
que teima em quicar e rolar (aquele que chamo de Vossa Excelência), e este toca
as redes de um modo peculiar, é a pesca de um enorme atum.
Delírio.
Orgasmo coletivo por procuração.
Você não chutou nada. Não cabeceou nada. Não treinou a
semana inteira. Não entrou em campo com um tornozelo que mais parecia o pilar
do World Trade Center. Não tomou cotovelada do zagueiro de dois metros e noventa.
Não tomou um cartão amarelo porque reclamou. Não sentiu seu pulmão quase
explodir na corrida. Não deu um biquinho no momento certo.
Seja como for você grita!
E também o narrador que vai dizer: “lindo, lindo,
lindo”, ou “ripa na chulipa”, ou ainda (meu preferido) “olha lá, olha lá, no placar!”.
E também o empresário que trouxe um cara lá da Itália
para ver o seu atleta.
E ainda o dirigente que via as chances de reeleição minguando.
E o patrocinador que vai ver sua marca em destaque.
E o político que vai usar a camisa do time na próxima
live.
Não importa: você vai abraçar o cara ao lado, um maluco que você nunca viu antes e pular que nem pipoca.
Esse gol é seu.