Desculpe meu filho, sei que lhe disse que receberia seu pedido como uma missão, uma obrigação de vida e morte, pois o que você quer saber é fundamental para espiritualidade. Volto, todavia, de mãos vazias como qualquer carateca. E venho declarar que seu padrinho Yorubá se escondeu nas areias do tempo. Tudo que posso lhe oferecer agora é apenas o trecho de uma canção do Beto Guedes que fala dos que se perderam no caminho.
E que caminho. Naqueles dias você era pequenino, mesmo
assim já havia vencido dois dragões um pouco antes de sua primeira cerimônia.
Entretanto, devido as obrigações que se empilharam no nobre dever de vidas alheias
salvar não pude ir ao seu batizado católico. Fiquei triste agarrado no serviço
lá em Friburgo. Mesmo assim tudo se resolveu como por um encanto: contei para um
amigo e ele me propôs lhe batizar novamente.
Os acontecimentos se acumularam e quando vi você já
estava no colo de sua tia, todo de branco aos sons dos tambores, sendo
abençoado por uma entidade. Era noite, mas eu podia sentir o cheiro da luz.
Posso lhe dizer, todavia, que todos estavam ao seu
redor. Você é um herói de mil faces em um mundo de mil possibilidades. Iemanjá
estava lá, certamente sabendo que muitas vezes haveria um oceano entre nós. Exu
tacava pedras no passado mudando tudo. Oxóssi, Xangô e Iansã passaram por lá
também. Não sei bem o que eles fazem por você, contudo a obrigação de saber é
só sua.
De todos o que mais me chamou atenção foi Ogum, que
muitas noites antes havia me visitado em um sonho no qual pousara sua espada em
meu peito. Parecia que iria explodir meu coração, pois mesmo seu toque mais
leve pode erguer um elefante. Talvez você o conheça com o nome de Jorge e até já
o tenha visto visitando a Lua vencendo os dragões com seu cavalo.
Assim são os guerreiros.
Então não me pergunte mais qual é sua estrela guia, há
toda uma constelação lhe apontando os caminhos.
Tudo que posso lhe oferecer é minha benção: axé!