domingo, 30 de abril de 2023
Cançōes e orações
Sotaques e cães
domingo, 9 de abril de 2023
WAVE
Naqueles dias eu tive a oportunidade de frequentar a casa de minha querida família estendida, logo precisava saber como agir diante da chuva de hormônios que me atacava aos 14 e o total desconhecimento de como me comportar distante da beira de favela em que morava.
Lembro da música que resumia isso e dizia qual era o X do problema, pois palmeira do mangue não vinga na areia de Copacabana.
Eu precisava de um guia, e lá estava o João, mais que um primo: um irmão; e ele percebendo que eu estava perdido me ensinou qual era a lógica. O que era no final das contas muito simples, parecida com as regras não escritas do Muquiço. Eu só precisava entender que se pega jacaré de olhos abertos e boca fechada e se conseguisse encontrar alguma garota louca o suficiente para dançar uma lenta comigo seria de olhos fechados e boca aberta.
Das noites tudo que entendia era o som, então não importava muito se BUILD era como construir uma casa, ROCK AND ROLL LULLABY era sobre as agruras de uma mãe solteira e DEBORAH era a resposta a carta de uma filha. Tudo que precisava saber era colocar um torturante band-aid no calcanhar e manter o ritmo... dois pra lá... dois pra cá.
Já o mar não tem cabelo pra gente se agarrar e a tal vocação imprudente me fez pegar ondas de até dez pés mal sabendo nadar.
Poderia ser um inferno, mas lá estava meu psicopompo me levando em segurança diante dos maiores perigos: as garotas. Assim aprendi a passar por isso sem que as achasse culpadas de minhas próprias inseguranças, até que finalmente entendi o ânimo da ânima, para enfim saber que devemos ter amor para dar ao invés de implorar amores vãos.
Assim quem sabe você pode até pensar que eu poderia ser solidário aos pobres machos solitários, mas nem chego perto disso. Um homem de verdade tem duas chances de ser educado: uma pela mãe outra pela esposa. O que se parece muito com a dentição. Sei de casos de caras que tiveram que ser educados pelas filhas em momentos bem dramáticos uma verdadeira dentadura.
Hoje, finalmente sou capaz de entender os caminhos das ondas e cada uma das canções que embalavam os amores de verão. Afinal nadar é preciso, viver não! E que a menina que faz minha sinfonia já está para acordar e logo vou ler este texto para ela.