domingo, 27 de agosto de 2023

O pai da noiva

De tudo que já escrevi talvez esse seja o texto mais difícil de concluir no que tange à tentativa de não virar clichê. As citações são óbvias que passam pelo Vinicius pedindo para que a filha não cresça ao filme com Steve Martin homônimo ao título dessa crônica.

Seja como for, em algum dia dessa vida devemos ensinar nossas filhas a se defenderem sozinhas em uma sociedade que em geral vê a mulher como um monte de coisas que vão desde seres incapazes de um sobrenome que não venha de um homem, seja ele pai ou marido, até o apedrejamento, contra o qual se insurgiu o Rei dos Reis.  

Em se tratando de casamento até mesmo corro o risco do autoplágio ao lembrar que alertei um amigo que sua, então, noiva poderia se revoltar, ali mesmo toda vestida de branco com véu e grinalda, enquanto algum idiota dissesse no altar que a mulher deve ser submissa. A resposta a isso, caso não lembrem é que o produto bem-acabado é construído após o protótipo imperfeito.

Também sei, a duras penas, que tais posições já me renderam adjetivos nada lisonjeiros vindos da mansfera e seus redpills. Porém elas vieram de uma cláusula pétrea: sou admirador das mulheres, então como não ficar babando se uma delas é fruto de meu amor com o meu amor?

No fim das contas é ela que é a fera, e não o pai da donzela. Assim me cabe simplesmente aceitar que o lhe foi ensinado seja o suficiente para lidar com o patriarcado e entender que a vida segue em seus passos inexoráveis. Logo vou gentilmente apertar a mão do gaiato que ela escolheu (não se engane ao menos nesse século isso deveria ser uma premissa delas), sorrir para a foto e dizer entre os dentes: se você fizer besteira corto uma parte muito especial de seu corpucho, frito, mastigo e dou o resto para minhas cachorras... Não necessariamente nessa ordem.

Essa fantasia se desfaz ao compreender que ela vem de uma linhagem de grandes mulheres e, definitivamente não precisa de nenhuma bravata de seu velho.