Não foi a certidão de óbito, nem os gritos desesperados dos outros torturados que me fizeram chorar no cinema. Foi apenas uma mãe cansada que me fez desabar.
Conheci uma mulher assim, que também era mãe e também era minha. Assim como Fernanda Torres e Eunice Paiva pertenceram por uma breve momento, ao menos, a metade dos brasileiros.
Só que a mulher que me fez chorar no silêncio do cinema era apenas minha, não importando muito que ela fosse mãe de outros dez filhos, incluindo um que em 1970 era preso político.
Abro aqui um parênteses para mencionar a história de um menino que foi atacado por um jacaré e teve uma perna amputada. Ao chegar no hospital fez questão de mostrar a todos as marcas das unhas no braço, feito pela sua mãe que o salvou da morte certa.
Muito do que ocorreu só compreendi anos depois, pois, assim como Marcelo Paiva eu era muito menino para saber de tudo. Entretanto, disso sei. Temos em comum mães cuja coragem somente pode ser explicada com uma pitada de loucura.
Tânia Horst também é uma pessoa que poderia estar aqui mesmo nesse espaço falando de uma mãe que viveu entre loucura e a coragem. Paradoxalmente, para essa linda menina, a quem tenho honra de chamar de sobrinha, fica a obrigação de preservar a memória que sua genitora foi perdendo ao longo dos anos, o que a Fernanda, essa Montenegro, traduziu apenas com seu olhar.
Fernandas, Ilmas, Augustas, Eunices, Marias e Marias, Saibam que ainda estou aqui e não hei de esquecer.