“Senhor Reno”, chama a atendente, “pois não”, respondo sem corrigir. Entro no consultório, sem nenhum propósito de vendeta erro o nome da médica, que me fuzila com olhos verdes e S O L E T R A, a forma correta com a qual devo tratá-la. Se fosse alguém de meu círculo ela já saberia minha resposta padrão.
Quem tem nome estranho deveria estar acostumado. Já fui Rômulo, Ramos, Renê, Breno, Romo e até Rambo. Aprendi a não ligar para isso. Na verdade, chegou a ser uma vantagem quando eu era moleque e nenhum apelido pegava. Já tentaram Terremoto, o que seria muito adequado ao meu jeitinho polido e sereno. Mr Oar, em um Cursinho. Isso tudo sem contar pau d’água, só que na época eu não bebia.
Já falei sobre isso aqui mesmo, mas é estranho ter nome de príncipe sendo um vira lata, basta ter visto qualquer novela da década de 80 para saber que Albuquerque é nome de rico. O bom é que isso tudo deixa uma piada pronta para começar qualquer palestra. Se, por outro lado, uma pessoa realmente se interessa pelo assunto acaba virando uma boa forma de quebrar o gelo, pois ai vou lembrar da lenda da qual veio meu nome e na versão longa desfilar o nome de meus outros irmãos e irmãs o que vai do óbvio Rômulo a inesperada Cleópatra. Ou seja, está de boa. Mesmo assim pensar nisso tudo justo em uma segunda vai virar tema para a terapia logo mais.
Sei que há pessoas que chegam a entrar na justiça para mudar de nome, afinal ninguém merece ser chamado de Um dois três de Oliveira Quatro, Eustógio ou Riroca. Sobre essas pessoas tenho a vantagem de ter um nome apenas incomum. Então, se você errar tudo bem. E aqui chega o momento de dizer a tal resposta padrão: só a Aninha que não pode errar meu nome.
Esse assunto todo está mais que batido, só voltou aos meus neurônios depois do jogo de ontem. Sempre chamei o estádio de Morumbi, mas depois do chocolate que demos ontem decidi por um S no final, pois assim é que it (desculpem não sei mais como traduzir esse pronome) quer ser chamado. Uma multinacional pagou uma baba para que assim seja. Não é como uma minoria que paga muitas vezes com a própria vida por se auto referir fora da regra culta da língua de Camões.
Remo Noronha de Albuquerque
PS. Tive que voltar no consultório, pois o farmacêutico não deixou pegar o remédio, ele é um desses raros seres humanos que sabe que vale o que está escrito. Até mesmo desconfio que já foi apontador de jogo.