sábado, 26 de maio de 2012


QUISERA A QUIMERA

Quisera te contar uma história infinda
Cheia de epílogos
Que fale de flores do campo
De ônibus lotados
E de amores mundanos.

Quisera te colocar no Olimpo
Para te oferecer o amendoim
Vendido na esquina
Em que não sou vendido
E nas praças em que sou vencido
Nas bancas nos bancos
Nos barcos nos arcos
No tudo mais
E nos temas banais.

Quisera te amar na noite
Do sol dos teus cabelos
Pernas, odores e umbigo.

Quisera ter a voz
Para te dizer o que digo.

Ruinas


Do outro lado do lago
Vejo as ruínas de sua casa
Cada pedra
Cada telha
Cada cor que cai
Cai um pouco de você.

Vejo ainda caída
Nas margens plácidas
A imagem que foi minha bandeira
Sua casa
Sua cara
Minha cara
Que se cala
Tudo nos saiu tão caro...

E no crepúsculo
Vejo o ocaso
Do nosso caso.

A hora está marcada
Amanhã bem cedo
Vão partir a casa
De que demoliu meu coração.

sábado, 5 de maio de 2012


A CORAGEM DE ESCREVER

“Canto por que o instante existe
E minha vida está completa
Não sou alegre nem triste
Sou poeta”
Cecília Meireles

Todo mundo morre de medo de se expor, uma forma de representar isto é sonhar que estamos pelados diante de uma multidão. O que dizer então de pessoas que têm a coragem de escrever em jornais ou revistas?
Confesso que não dei a mínima para esta idéia quando comecei a frequentar esta coluna (estava escrevendo para um jornal de Carmo quando fiz este texto). Caso tivesse pensado com calma não estaria cozinhando este texto para o Inter Região agora mesmo. Eu não teria entregado um texto sequer para o editor, um amigo que admiro muito, nem andaria na rua apavorado com a perspectiva de ter magoado alguém sem sequer saber o porquê. Não leria o texto depois de publicado para ver repetições inadequadas ou atropelos à língua pátria.
O problema é que quando escrevemos crônicas expomos a nossa nudez mais extrema (vi isto em um livro chamado redação inquieta, que recomendo a todo pré-vestibulando): ao escrever desta forma expomos a alma, o que nem sempre é algo bonito de se ver.
Ainda bem que ninguém menos do que Fernando Pessoa perguntou se só ele é capaz de tal vileza... Então se você, assim como eu, morre de medo de ver o que escreve ser publicado, saiba que está em ótima companhia.
Ontem meu editor me falou que precisava de mais textos, e meu pavor se multiplicou em níveis estratosféricos: como fazer textos dignos de publicação e ainda por cima sob tamanha pressão? E ainda (viu só, usei esta expressão na linha de cima!) sob os olhares atentos de várias pessoas que poderiam se divertir com uma gafe qualquer.
Isto não é simplesmente como cair de bicicleta em uma rua movimentada, a perenidade da palavra escrita torna o erro em uma exibição em horário nobre, sabendo que alguém pode estar gravando tudo para futuras gargalhadas.
Então porque fazemos isto? Se a resposta fosse a simples terapia bastaria guardar os escritos em uma gaveta que o efeito seria (quase) o mesmo.
Mas outro texto me deu a resposta quando um poeta admitiu que tudo que fez na vida não ultrapassou os próprios passos (o que era uma mentira deslavada).
Não queremos isto! Queremos o risco, o fio da navalha, o incomodo, a inquietação. E no final das contas, quem sabe alguém que escreve melhor também não toma coragem de imprimir os seus fantasmas para compartilhar conosco.

PERGUNTAS

Tiveste a ousadia de me perguntar
Se te amo, e em que momento
Te amo e te amo
Enquanto sobre nossas cabeças
Houver um firmamento

Te amo como antes
E teu jeito simples e elegante

Te amo como o dia
Tempestade e calmaria
Te amo como a noite
Liberdade e açoite.

Te amo de manhã
Festa santa ou pagã
E à tarde quando teu corpo arde.

Amo teu corpo de violoncelo
E teu olhar de caramelo.

Tanto te amo que até acredito
No olhar tão bonito
Quando diz que me ama
No ranger de nossa cama.

Te amo como o sol ao dia
A lua à rua
E o peixe a maresia.

Te amo ao som vibrante
Da estrada sob carro possante
Quando tuas mãos tocam o meu volante.

Te amo como um beijo de novela
O vento à vela
E ao mar que enfim se revela.