sábado, 5 de maio de 2012


A CORAGEM DE ESCREVER

“Canto por que o instante existe
E minha vida está completa
Não sou alegre nem triste
Sou poeta”
Cecília Meireles

Todo mundo morre de medo de se expor, uma forma de representar isto é sonhar que estamos pelados diante de uma multidão. O que dizer então de pessoas que têm a coragem de escrever em jornais ou revistas?
Confesso que não dei a mínima para esta idéia quando comecei a frequentar esta coluna (estava escrevendo para um jornal de Carmo quando fiz este texto). Caso tivesse pensado com calma não estaria cozinhando este texto para o Inter Região agora mesmo. Eu não teria entregado um texto sequer para o editor, um amigo que admiro muito, nem andaria na rua apavorado com a perspectiva de ter magoado alguém sem sequer saber o porquê. Não leria o texto depois de publicado para ver repetições inadequadas ou atropelos à língua pátria.
O problema é que quando escrevemos crônicas expomos a nossa nudez mais extrema (vi isto em um livro chamado redação inquieta, que recomendo a todo pré-vestibulando): ao escrever desta forma expomos a alma, o que nem sempre é algo bonito de se ver.
Ainda bem que ninguém menos do que Fernando Pessoa perguntou se só ele é capaz de tal vileza... Então se você, assim como eu, morre de medo de ver o que escreve ser publicado, saiba que está em ótima companhia.
Ontem meu editor me falou que precisava de mais textos, e meu pavor se multiplicou em níveis estratosféricos: como fazer textos dignos de publicação e ainda por cima sob tamanha pressão? E ainda (viu só, usei esta expressão na linha de cima!) sob os olhares atentos de várias pessoas que poderiam se divertir com uma gafe qualquer.
Isto não é simplesmente como cair de bicicleta em uma rua movimentada, a perenidade da palavra escrita torna o erro em uma exibição em horário nobre, sabendo que alguém pode estar gravando tudo para futuras gargalhadas.
Então porque fazemos isto? Se a resposta fosse a simples terapia bastaria guardar os escritos em uma gaveta que o efeito seria (quase) o mesmo.
Mas outro texto me deu a resposta quando um poeta admitiu que tudo que fez na vida não ultrapassou os próprios passos (o que era uma mentira deslavada).
Não queremos isto! Queremos o risco, o fio da navalha, o incomodo, a inquietação. E no final das contas, quem sabe alguém que escreve melhor também não toma coragem de imprimir os seus fantasmas para compartilhar conosco.

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