segunda-feira, 23 de maio de 2016

Os inomináveis


Há um tipo que é considerado como capaz de uma das expressões mais vis e nefandas da humanidade, estranhamente o seu ato não é criminoso, pelo contrário, é incentivado.
Colaboracionista, ass kisser, capacho, lambe-botas... imagino que um montão de línguas mundo a fora tenha pelo menos um título nada lisonjeiro para o que chamamos de puxa saco.
Esta é uma figura simplesmente odiável, pois a mesma mão que puxa saco também pode puxar tapetes. Quem é capaz de bajular para subir na escada corporativa é capaz de muitas outras coisas.
Bem... nada contra ter um bom relacionamento com o seu chefe, na mesma medida que não é anormal buscar um relacionamento amistoso com a maioria dos seres humanos. (Sim! Maioria. Ser amigo de todo mundo além de falacioso nos coloca na posição de banana de plantão. Não podemos aceitar sossegados qualquer sacanagem ser coisa normal).
Só que as figuras capazes de dizer coisas como:
- Se espirrar no caminho saúde!
- O senhor é a segunda pessoa que eu mais gosto, e a primeira é quem o senhor indicar.
- Deixa eu ter o prazer de carregar a sua pasta?
- Quem não puxa saco, puxa carroça.
Ou outra coisa do gênero, há muito tempo já ultrapassaram as suas cotas de serem ridículos.
Um cara assim perde o seu próprio tempo, irrita a equipe e incomoda o chefe com assuntos irrelevantes. Ou ainda pior, vedam a quem decide a possibilidade de uma crítica sincera, impedindo a chance de correção atos indesejáveis, uma vez que sempre concordam. Então fica a pergunta... por que existem?
Faço esse questionamento acompanhando a visão de que um ser vivo assim permanece por uma questão utilitária, pois uma borboleta morre após procriar, e certas aranhas se alimentam do macho assim que eles cumprem sua missão. Um ancião, por exemplo, não é inútil, ele serve de cola às famílias, de suporte às tradições locais e é uma referência para as questões insolúveis.
Tendo tal visão como moldura resisti a uma resposta mais simplista de que os puxa sacos sobrevivem às custas de egos alheios, o que apesar de ser um tanto verdadeiro não explica o fenômeno de um modo mais abrangente. De qualquer modo, podemos classificar estes seres em duas tipologias, os que o fazem conscientemente, manipulando seus chefes e os outros que também têm seu próprio ego massageado pela proximidade do poder.
Isso! Poder é a chave.
Esses papagaios de pirata são indicadores de poder, e quanto mais alguém os têm mais poderoso se mostra na sociedade.

O poder sem medidas apodrece as pessoas, e é nesse mofo que esses serem inomináveis prosperam. 

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Mestre dos magos

MESTRES DOS MAGOS

Enquanto Patrick Rothfuss não se digna a escrever o terceiro livro de sua saga eu fico aqui jogando candy crush. Frustrante é pouco, já começo a pensar em uma solução violenta, algo como um sequestro com requintes de crueldade.
A coisa tá tão feia que até na discussão comparativa entre kvothe e Harry Potter já me meti. A única coisa que posso dizer sem sacanear muito quem ainda não leu é dizer que ambos são assim, assim estudantes universitários.
A grande diferença está no uniforme, enquanto este usa uma veste que o alinha aos seus colegas, aquele tem um modelo único, conquistado de um modo inusitado.
O fato é que com ou sem uniforme é comum sofrer abusos em escolas, ambos personagens passaram por isso, por pertencerem a classe social errada.
Entretanto, qual afinal é a classe certa? Sempre entendi o mundo como a divisão entre a casa grande e a senzala, só que no caso de quem estuda, há muitos que querem ser feitores. A escola, então, passa a ser objeto de clareamento de pele daqueles que não conseguem esconder o estigma dos grilhões em seus punhos.
Duvida? Quantas vezes; oh! Nobre leitor ristes daqueles que pronunciam “gaufo”? Ergo sum usastes a língua pátria e seus desígnios, na nobre arte da exclusão dos incultos que sequer sabem a correta nomenclatura de sua brilhante prataria.
Sem querer ser chato pra cacete, ou mais realista que o rei, reconheço a educação como meio legítimo de ascensão social, sob o risco de ser xingado de burguês. Ora, moro em área urbana, recebo  o suficiente para cair nas garras do Leão, tenho confortos que o trabalho me trouxe, então não posso me destacar incólume desta pecha.
O que me incomoda na verdade é perceber que usamos o conhecimento adquirido em escolas públicas como instrumento de estratificação, e uma marca indelével disto é a instituição do trote.
Toda vez que vejo alguém de Grifinória em uma esquina todo colorido, imagino que há um aprendiz de mago esperando para beber de graça.
Por outro lado, se alunos da Sonserina, se juntam para beber cerveja amanteigada em um bar em um certo dia do ano, pode acreditar que eles vão utilizar todo seu conhecimento para não pagar a conta a sair rindo do coitado do garçom. Afinal no mundo da magia todos sabem que há leis que não pegam nem por um decreto.
Agora se isso ocorre em uma escola como a Corvinal, há o risco de se formar uma nefasta hierarquia onde manda quem pode, obedece quem tem juízo. Só que neste caso o prejuízo pode se estabelecer entre aqueles que deveriam ter metas comuns, e inimizade onde deveria haver união. Todavia, a maior perda ocorre quando se formam capitães do mato, prontíssimos a reproduzir os ditames da casa grande, por puro temor ao senhor; e chibata na senzala por desprezo aos escravos.

Ainda bem que isso só acontece em Hogwarts.