MESTRES
DOS MAGOS
Enquanto Patrick Rothfuss não se digna a
escrever o terceiro livro de sua saga eu fico aqui jogando candy crush. Frustrante
é pouco, já começo a pensar em uma solução violenta, algo como um sequestro com
requintes de crueldade.
A coisa tá tão feia que até na discussão
comparativa entre kvothe e Harry Potter já me meti. A única coisa que posso
dizer sem sacanear muito quem ainda não leu é dizer que ambos são assim, assim
estudantes universitários.
A grande diferença está no uniforme, enquanto
este usa uma veste que o alinha aos seus colegas, aquele tem um modelo único,
conquistado de um modo inusitado.
O fato é que com ou sem uniforme é comum sofrer
abusos em escolas, ambos personagens passaram por isso, por pertencerem a
classe social errada.
Entretanto, qual afinal é a classe certa?
Sempre entendi o mundo como a divisão entre a casa grande e a senzala, só que
no caso de quem estuda, há muitos que querem ser feitores. A escola, então,
passa a ser objeto de clareamento de pele daqueles que não conseguem esconder o
estigma dos grilhões em seus punhos.
Duvida?
Quantas vezes; oh! Nobre leitor ristes daqueles que pronunciam “gaufo”? Ergo
sum usastes a língua pátria e seus desígnios, na nobre arte da exclusão dos
incultos que sequer sabem a correta nomenclatura de sua brilhante prataria.
Sem querer ser chato pra cacete, ou mais
realista que o rei, reconheço a educação como meio legítimo de ascensão social,
sob o risco de ser xingado de burguês. Ora, moro em área urbana, recebo o suficiente para cair nas garras do Leão, tenho confortos que o trabalho me
trouxe, então não posso me destacar incólume desta pecha.
O que me incomoda na verdade é perceber que
usamos o conhecimento adquirido em escolas públicas como instrumento de
estratificação, e uma marca indelével disto é a instituição do trote.
Toda vez que vejo alguém de Grifinória em uma esquina todo colorido, imagino que há
um aprendiz de mago esperando para beber de graça.
Por outro lado, se alunos da Sonserina, se juntam
para beber cerveja amanteigada em um bar em um certo dia do ano, pode acreditar
que eles vão utilizar todo seu conhecimento para não pagar a conta a sair rindo
do coitado do garçom. Afinal no mundo da magia todos sabem que há leis que não
pegam nem por um decreto.
Agora se isso ocorre em uma escola como a Corvinal, há o risco de
se formar uma nefasta hierarquia onde manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Só que neste caso o prejuízo pode se estabelecer entre aqueles que deveriam ter
metas comuns, e inimizade onde deveria haver união. Todavia, a maior perda
ocorre quando se formam capitães do mato, prontíssimos a reproduzir os ditames
da casa grande, por puro temor ao senhor; e chibata na senzala por desprezo aos
escravos.
Ainda bem que isso só acontece
em Hogwarts.
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