segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A AGULHA

Então Alicia Florrick teve que pagar uma multa de cinco mil dólares, pois ela sabia algo sobre seu cliente que não foi revelado para a outra parte.
Estranho, o pouco que sei sobre direito não se aplica aqui, pensava que o fato de que alguém não ter obrigação de gerar provas contra si mesmo fosse algo assim como universal. Imune as culturas jurídicas mundo a fora.
Mas, o que realmente me chamou atenção foi como ela conseguiu esconder o que importava dos adversários, ela ofereceu a eles TODAS informações que ela tinha à sua disposição, enterrando o que era relevante em uma pilha de data, tornando inescapável a metáfora de agulha em um palheiro.
Grande novidade! O quanto sabemos é inútil.
Não estou falando de lendas, histórias familiares, técnicas para jogar futebol, o jeito certo de empunhar um pincel, a expressão de sua mãe quanto está estressada, a cor da camisa que a sua namorada usava no primeiro encontro.
Não, não é isso. Cada uma destas inutilidades é essencial para dizer quem somos.
Mas quando você lê um jornal, procura num site ou google um texto, logo você se vê obrigado a saber de que forma um jogador matou sua amante, qual maquiagem a celebridade usa, qual é o corte de cabelo da artista.
Se este texto empurrasse as minhas mãos para o caminho do debate ele já nasceria morto.
Ninguém debate mais nada.
Só queremos forçar nossas opiniões sobre os outros, e ridicularizar quem nos opõe.
Prefiro o caminho mais reto (e publicável), quero apenas poder encontrar quais textos vão ser votados na Câmara de Deputados, sem que este tenha passado pela resenha de quem quer que seja, e copiado e colado, e recopiado e recolado, para depois re-recolado e re-recopiados aos milhares. Para que no caminho não haja acesso ao texto original.

Mas isso também está enterrado em um enorme palheiro. 

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