terça-feira, 3 de outubro de 2017

(IN)CERTEZAS

Uma folha em branco deixa de assim a ser quando recebe um carimbo escrito: Em branco.
Se um menino puser uma capa azul ele não vira o super-homem, e caso tenha a infeliz ideia de pular da janela... bem vocês sabem, a lei da gravidade (ainda) não foi revogada.
Quis começar este texto com algumas certezas, pois cada vez menos as tenho.
Não sei se alguém quer me dar um golpe.
Não sei como o universo se organiza.
Mas, posso dizer que tem um punhado gente um pouco mais perdida por aí.
Vi, outro dia um vídeo de um congressista se dizendo preocupado com a colisão de um planeta de nome estranhíssimo com a Terra, e de que forma o Congresso deveria se preparar para o evento.
Caraca! Esse cara não tem uma assessoria mínima? Perguntei a um amigo. Não há ninguém para avisar que ele está pagando um King Kong? Bem... ele disse. Se o cara está perdido assim imagina o naipe de assessores que ele escolhe. Além do mais quem vai correr o risco de bater de frente com a otoridade?
Chega outra informação. Esta já vale a pena. Um cara fez uma pesquisa que delineou que o maior indicador de que alguém vai participar do crime organizado não é a condição social, nem a origem geográfica da pessoa (o que sei de experiência própria, as favelas estão apinhadas de gente decente e trabalhadora!), mas sim da evasão escolar.
O processo seria mais ou menos assim, o guri não vê a escola como uma chance de melhorar de vida, logo se desinteressa. Depois vê seus resultados despencarem. É chamado de burro a torto e direito e direto. Foge da escola. Toca a vida de outra forma.
Bem isso não contempla as falhas de caráter. E elas também existem. Digo ainda que o desempenho acadêmico não tem relação direta com a educação do coração, aquela que outras pessoas preferem chamar de berço. Não uso este termo por entender que há órfãos de bom caráter e filhinhos de papai que não prestam.
Fica ainda a questão que não quer calar, a quem interessa uma escola que não funciona?
Seja como for a escola deveria ser um ambiente acolhedor. E quando assim o é se torna um lugar mágico, mesmo que não seja Hogwarts.
Sei disso porque assim era a Baden Powell, lá em Guadalupe. Guardo com carinho o nome dos amigos: Carlos Alberto (que Deus o tenha), seu irmão, Carlos Augusto, Evandro, Jaceara, as duas Ivanas, Maria, Athaide... Ah! Bons tempos.
Só que não podemos esquecer dos atores principais: eles exigiam disciplina. Contavam histórias. Liam para nós o Homem que Calculava de Malba Tahan ou o Pequeno Príncipe. Desenhavam o mapa mundi, uma célula, um organograma, nos ensinaram gramática e poesia, nos faziam ler Érico Veríssimo. Nos contavam como era o universo, a Terra, e as estações.
Maele, Nolasco, Fernando e o inesquecível Chicão.
Obrigado por não nos deixar pagar mico.
Obrigado por não permitir que a vaidade nos leve a conclusões absurdas, mesmo que a nossa assessoria não nos corrija.
Obrigado por tornar a Baden um lugar melhor que a rua.

Uma geração inteira de Guadalupe agradece.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Gostaria de ter uma memória privilegiada como a sua, também estudei na Baden Powell, mas não lembro do nome das amigas, e concordo com vc, não ha lugar melhor no mundo do que a escola, e quando os pais participam e melhor ainda. Texto maravilhoso como sempre obrigada por ascender minhas memórias tamvem.

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  3. Se eu te contasse os bastidores das estatísticas...

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