Determinante
Mais
uma vez recebo de um amigo que quer me pilhar a velha piada: “outro dia passou
e não usei Δ = b2-4ac.”
Sei
que deveria levar na esportiva, assim como quem aguenta as falas sobre um time
que cansa de cair para a segunda divisão.
Não
consigo.
O
assunto é sério demais para mim.
Cada
vez que ouço essa gracinha penso o quanto as pessoas foram torturadas em uma
sala de aula para conseguir odiar algo tão fascinante quanto a matemática.
Talvez
isto ocorra porque as salas de aulas são parte da sociedade, e não uma ilha da
fantasia isolada do mundo. Canso de ouvir falarem por aí que a solução é a
educação, como se só a escola fosse capaz de ser panaceia de um mundo doente.
Claro que é bom caminho, mas nossas dores não se resolvem somente ali.
Especialmente
ao se falar de matemática penso o quanto um profissional desmotivado e
desvalorizado deve lutar para que seus alunos acompanhem e avancem a cada
passo. Isso se não forem estes mesmos profissionais os responsáveis em fechar
as portas.
Essas
portas vão ser trancadas a sete chaves para todos aqueles que passarem a odiar
a matéria. O que vai se refletir na piadinha que começou este texto.
Graças
a Deus há muitos professores pelo mundo afora superando estas dificuldades
ensinando com técnica e qualidade. Alguns têm acesso a uma série de tecnologias
que facilitam sua labuta. Há sempre algo novo. Começou com o rádio, depois
foram as teleaulas, então vieram os computadores, quadros inteligentes,
programas de TI. Bem, a lista é infinita.
Quando
não havia nada disso um grupo de gregos meio doidos desenhavam uma estrela de
cinco pontas na palma da mão para se reconhecer mutuamente. Eles achavam que a
matemática e a música tinham mensagens divinas. Estudar seria, então, uma
obrigação espiritual.
O
desenvolvimento de uma sociedade com arquitetura, arte e engenharia
espetaculares foi uma consequência lógica, pois todas essas coisas têm
matemática em seu estofo.
Entendo,
é claro, que se desenvolver em alto nível em qualquer área é uma decisão
individual que vai demandar tempo e esforço, mas que cada macaco se pendure no
cateto que bem entender. Eu, por exemplo, não sei tocar nenhum instrumento; mas
gosto muito de música. Então, poderia esperar que quem não tem um pentagrama
tatuado na palma da mão ao menos aprecie a arte de Pitágoras, Thales, Euler e
tantos outros.
Voltando
aos professores, considero que nós somos atores essenciais em todo esse
processo. A próxima tecnologia de ensino, por mais P das galáxias que seja,
ainda não nos vai substituir; da mesma forma que a aula por rádio não o fez.
Nos
cabe inspirar àqueles que vão tocar este barco doravante.
Faço
um pequeno exercício para reconhecer estas pessoas, pergunto logo na primeira
aula o que eles querem fazer de suas vidas. É nesse momento que vejo as
respostas apinhar minha sala de futuros médicos, advogados, atletas, escritores
e historiadores. Ao final do curso ao refazer a mesma pergunta surgem
engenheiros, físicos e matemáticos. Que eles me desculpem, mas é assim que
aprendi a entortar a vida dos meus alunos.
Remo
Noronha