terça-feira, 12 de junho de 2018



MEU AMIGO VAI CASAR

Conheci Filipe na academia. Um dia, ele estava usando uma camiseta que tinha estampado EDUCAÇÃO FÍSICA. Fiz uma selfie nossa e com a outra mão tapei a palavra educação e escrevi na postagem: minha física não tem educação.
O que só era para ser engraçado, acabou nos definindo um bocado. O Filipe parece ser da minha família, só que é bem mais educado do que eu. Canso de dar broncas nele dizendo que ele devia bater de frente aqui, falar uma besteira ali ou arrumar uma confusão acolá.
Paciente e gentil, somente decide me avacalhar quando está no papel de meu personal trainer. Só assim o ouço gritando, mas são coisas como: Vai, vai, vai! Mais uma! Respira. Vamos nessa! E quando faço uma defesa legal, a minha preferida: valeu garoto!
Então, não é difícil entender o porquê de a Jéssica o ter escolhido. Cabe a elas essa escolha, pois são mais sábias. Sim Filipe, essa é minha primeira dica, trate ela como uma joia rara e lembre sempre que essa história de submissão ou de sexo frágil é tudo papo furado de quem não tem o que dizer. Elas são melhores do que nós. E se fomos feitos primeiro como é dito no Livro, é porque o protótipo sempre vem antes do produto final e melhor acabado.
O tempo passou e assim nossa amizade foi crescendo entre defesas e frangos, aulas de inglês e discussões filosóficas, até o ponto de você me escolher para padrinho nesta festa que será, certamente, inesquecível para nós. Como cereja de um bolo de casamento, a data coincide com a do primeiro beijo que a Aninha me deu. Como você bem sabe, vivo todo arranhado, mas não largo minha gata. Assim como espero que você nunca vá se cansar dos arranhões da sua.
Diferente dos padrinhos de batizado, conhecidos como godfathers, os padrinhos de casamento são nomeados como best men (fala sério – melhor homem para quem, cara pálida?). Uma distinção que não ocorre em português. Mas isto é muito significativo, posto que enquanto aqueles têm o dever sagrado de substituir os pais em casos extremos, cabe a estes beber que nem peixes e falar um monte de besteiras no dia do casamento. Porém, como não sei se vou estar sóbrio o suficiente, decidi escrever isto aqui para evitar de falar na hora H. Fica sempre o temor de tropeçar no véu de sua linda noiva, por fogo no bolo ou qualquer outro desastre que sou bem capaz de causar.
Sei que no final me caberia falar algo edificante e doce, para fechar com uma conclusão retumbante. Aqui entraria em cena mais uma vez o velho professor de inglês. Neste momento iria lhes lembrar mais uma vez que a palavra casamento pode ser traduzida de duas formas diferentes, como wedding ou marriage. Mais uma vez uma distinção que não ocorre na língua de Camões.
Wedding se refere a festa, que tenho certeza vai ser linda a despeito de todas as suas preocupações, das quais não cansei de ouvir nos últimos dias e ainda das ausências e dos contratempos. Mas lembre que muitas pessoas amadas estarão aqui para abençoar uma união feliz e duradoura. Será um dia de brilho e gala. Será uma festa, mas não esqueça que basta ter amigos como vocês por perto que já é uma festa.
Marriage se refere ao dia a dia. Se você fosse um cara de exatas e sua física não tivesse educação como a minha, eu poderia lhe dizer que relacionamentos são como senoides ou movimentos ondulatórios. Então, surfe nas cristas e torne os vales curtos e rápidos.
Finalmente é aquela hora que eu devo lhe dar um conselho muito importante: dê sempre razão à Jéssica, nunca esqueça quem é que manda e faça o seu papel de fingir ser mais o forte, caso um dia a barra pesar. Nunca deixe ela ter dúvidas de que ela é a pessoa mais importante de sua vida, construa uma família e jamais deixe que ela sequer pense que um mero cabelo branco vai diminuir o seu amor.
Nos 45 do segundo tempo, apesar do wedding ser super legal o que conta mesmo é o marriage.
Para a Jéssica fica apenas uma lembrança, de que foi o Filipe que me escolheu para dizer estas besteiras, mas que foi ela que escolheu o melhor homem.

Remo Noronha

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