Coisas que se aprendem quando temos 10 irmãos
Aprendi que se dois irmãos brigam o melhor a fazer é
não tomar partido.
Aprendi que ao se arrumar confusão na rua qualquer
irmão vai correr para ajudar, mas se você estiver errado vai tomar cascudo do
mesmo jeito assim que chega em casa.
Aprendi que quando você finge que está estudando os
seus irmãos mais velhos não mexem contigo, mas o bom mesmo é quando você
aprende que estudar é melhor do que fingir.
Aprendi a ser mimado, mas que as pessoas da rua não
têm o mesmo cuidado ao lidar com crianças. E esta é uma lição bem difícil.
Aprendi a cantar “Daniel Boone quer café” para
incentivar o Maninho a ir à padaria para trazer pão quentinho.
Aprendi a calcular frações bem rápido. Quando só há
sete pães para onze irmãos, com forte senso de justiça, nenhum professor precisa lhe
ensinar o que são sete onze avos.
Aprendi que quando só há uma TV com tantos irmãos,
você nunca vai conseguir ver desenho bem na hora de um filme.
Aprendi que torcer por um time vai fazer você rir e
chorar com seus irmãos.
Aprendi que se você jogar bola mal a sua única chance
é ser goleiro.
Aprendi que fazer pipas dá mais dinheiro que soltar
pipas.
Aprendi que catar latinhas, garrafas e cobre vai lhe
dar o suficiente no fim do mês para ostentar e comprar uma coxinha no
supermercado.
Aprendi a tratar com respeito as garotas na rua,
porque é chato para cacete ter um monte de irmãs bonitas sendo perturbadas por
caras sem a menor noção.
Aprendi que ser café-com-leite nas brincadeiras mais
pesadas, pode não ser o mais divertido, mas é melhor que voltar para casa
mancando.
Aprendi que as roupas dos irmãos logo, logo vão caber.
Aprendi que se você tem um caquinho de vidro no pé é
melhor passar pela sua mãe fingindo andar normalmente, caso contrário logo ela
vem com uma agulha.
Aprendi um montão de coisas sobre segurança, como por
exemplo, passar debaixo de uma escada ou quebrar um espelho dá azar. Mesmo
assim, aprendi o que é ter um braço quebrado, um pedaço do couro
cabeludo raspado e um monte de cicatrizes.
Aprendi que não é uma boa ideia brincar com giletes.
Aprendi que não se deve escalar o móvel da cozinha para
pegar um garfo. Neste mesmo momento também aprendi que óleo quente na cabeça
dói para caraca.
Aprendi que quando os meninos fazem 10 anos, eles
podem se orgulhar de dormir numa esteira no chão da sala, junto com os outros
irmãos.
Aprendi que cama é coisa para crianças e meninas.
Aprendi que é mercúrio cromo e não “mercúrio corno”;
mas só depois de uma irmã entender, com uma longa e cuidadosa conversa, que não
havia ninguém preocupado em saber o que é infidelidade.
Aprendi que ao se sentar entre a uma irmã e o namorado
dela, rapidinho se ganha um trocado para comprar picolé.
Aprendi a ter ciúmes.
Aprendi que família sai na porrada mesmo, mas aí de
quem falar mal de um irmão.
Aprendi que quando se mora perto de uma favela não é
boa ideia um irmão bater em um traficante no jogo de futebol.
Aprendi que só uma mãe, com a coragem do tamanho de um
bonde, poderia fazer um cara que bateu em um traficante voltar para casa em um
pedaço só.
Aprendi a falar a língua do P sem que ninguém me
ensinasse.
Aprendi que quando você aprende um código secreto você
não deve ficar entusiasmado quando alguém fala SO-por-VE-pê-TE-pe. E que basta
um pequeno grito de alegria para todo mundo descobrir que você já sabia uma
língua secreta que deveria ser exclusividade dos irmãos mais velhos.
Aprendi a amar.
Aprendi que a gente continua amando os irmãos, mesmo
quando eles vão embora.
Aprendi que a vida nos oferece outros irmãos, mas nada
pode se comparar a ser o mais novo de onze.