quarta-feira, 17 de julho de 2019




Sobre Pequenos Príncipes e Caubóis de Brinquedo

         Tudo se resume ao fato de que a vida é breve, uma viagem só de ida para o futuro. Assim como no conto do jornalista que encontra o guru (ato falho – quase escrevi guri, mas quem além do nosso menino interior pode indicar o caminho certo?) e se espanta dele ser tão despojado, então pergunta: “Como você vive com tão pouco?”. “Mas, você também, só tem uma mochila” responde com outra pergunta o guru. “Sim, mas só estou de passagem” replica o jornalista. “Eu, também,” encerra o guru.
         Lembrei disso quando informei um grande amigo que estou vazando feito a maré e ele lamentou a minha partida. Os amigos são de tudo o mais difícil de deixar, acredito que por isso o Woody faz questão de que nenhum brinquedo fique para trás. Fica, então, um soluço entrecortado e um olhar para o que passou. Podemos achar que a resposta seja um frio distanciamento de tudo, mas na verdade ela vem da raposa ao explicar ao Pequeno Príncipe de que ao cativarmos uma Rosa ela se torna única.
Já se vão 25 anos de Carmo, mas está claro para mim que este ciclo está à beira de acabar. Deixo a casa enorme, o quartel que comandei duas vezes, as escolas nas quais trabalhei, o café do Amarelinho, o cuidado do meu jardineiro, o jogo de dominó logo de manhã, a praça infinita, o treino no campo do Botafogo, a igreja com torre atrás. Mas o difícil mesmo é deixar memórias e amigos.
Dentre todos de quem mais sinto falta é de um menino que me cativou. Ele é a mistura de um Caubói de Brinquedo e o Pequeno Príncipe. Foi ele quem fugiu das minhas aulas de física para jogar ping-pong, foi com ele que reaprendi a jogar War, foi ele quem trouxe os cachorros para casa, foi ele a quem ensinei que deveria andar de bicicleta mesmo com o joelho recém ralado, foi ele quem proibi de ver Power Rangers para parar de bater na irmã, foi ele quem decidiu a hora de ir embora.
A casa está vazia, não tem mais a oração do Pai Nosso de mãos dadas com todos na mesma mesa, não tem mais discussão de quem é a vez no videogame, não tem mais o ato de colocar todo mundo no carro para ir até a cidade ao lado só para comer misto quente.
Então, peço perdão para os que ficam. Ou melhor ninguém fica. Estamos todos de passagem. E esta certeza me chega quando tomo coragem para ver o mesmo desenho que víamos juntos cantando “amigo estou aqui”. Eu sabia que ia chorar e chorei. O caubói cresceu, foi para longe, encontrou o seu caminho.
Então, assim de repente ele me liga e pergunta “como é ter 27 anos e o que devo esperar?”, é um baita sinal de amadurecimento. Um pouco antes ele iria achar que poderia ter todas as repostas sem perguntar ao seu velho. Digo apenas que a única obrigação que temos é nos tornar nós mesmos nesta caminhada e para isso devemos saber quem somos. O resto... Ora, o resto é só uma viagem curta.




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