Sobre Pequenos Príncipes e Caubóis de Brinquedo
Tudo se resume ao fato de que a vida é
breve, uma viagem só de ida para o futuro. Assim como no conto do jornalista
que encontra o guru (ato falho – quase escrevi guri, mas quem além do nosso
menino interior pode indicar o caminho certo?) e se espanta dele ser tão
despojado, então pergunta: “Como você vive com tão pouco?”. “Mas, você também,
só tem uma mochila” responde com outra pergunta o guru. “Sim, mas só estou de
passagem” replica o jornalista. “Eu, também,” encerra o guru.
Lembrei disso quando informei um grande
amigo que estou vazando feito a maré e ele lamentou a minha partida. Os amigos
são de tudo o mais difícil de deixar, acredito que por isso o Woody faz questão
de que nenhum brinquedo fique para trás. Fica, então, um soluço entrecortado e um
olhar para o que passou. Podemos achar que a resposta seja um frio
distanciamento de tudo, mas na verdade ela vem da raposa ao explicar ao Pequeno
Príncipe de que ao cativarmos uma Rosa ela se torna única.
Já se vão 25 anos de Carmo, mas está claro para mim que este
ciclo está à beira de acabar. Deixo a casa enorme, o quartel que comandei duas
vezes, as escolas nas quais trabalhei, o café do Amarelinho, o cuidado do meu
jardineiro, o jogo de dominó logo de manhã, a praça infinita, o treino no campo
do Botafogo, a igreja com torre atrás. Mas o difícil mesmo é deixar memórias e
amigos.
Dentre todos de quem mais sinto falta é de um menino que me
cativou. Ele é a mistura de um Caubói de Brinquedo e o Pequeno Príncipe. Foi
ele quem fugiu das minhas aulas de física para jogar ping-pong, foi com ele que
reaprendi a jogar War, foi ele quem trouxe os cachorros para casa, foi ele a
quem ensinei que deveria andar de bicicleta mesmo com o joelho recém ralado,
foi ele quem proibi de ver Power Rangers para parar de bater na irmã, foi ele
quem decidiu a hora de ir embora.
A casa está vazia, não tem mais a oração do Pai Nosso de mãos
dadas com todos na mesma mesa, não tem mais discussão de quem é a vez no
videogame, não tem mais o ato de colocar todo mundo no carro para ir até a
cidade ao lado só para comer misto quente.
Então, peço perdão para os que ficam. Ou melhor ninguém fica. Estamos
todos de passagem. E esta certeza me chega quando tomo coragem para ver o mesmo
desenho que víamos juntos cantando “amigo estou aqui”. Eu sabia que ia chorar e
chorei. O caubói cresceu, foi para longe, encontrou o seu caminho.
Então, assim de repente ele me liga e pergunta “como é ter 27
anos e o que devo esperar?”, é um baita sinal de amadurecimento. Um pouco antes
ele iria achar que poderia ter todas as repostas sem perguntar ao seu velho.
Digo apenas que a única obrigação que temos é nos tornar nós mesmos nesta
caminhada e para isso devemos saber quem somos. O resto... Ora, o resto é só
uma viagem curta.
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