quinta-feira, 15 de agosto de 2019


Na mesma bat-hora no mesmo Bat-canal

Para que ninguém ache que sou mais realista do que o rei, admito que já fiz trabalhos escolares colocando o nome de quem nem sequer apareceu na reunião planejamento.
Volto ao velho tema da cola, que pelo jeito está cada vez mais elaborada, aceita, consolidada e até mesmo comercializada.
O fato é que recentemente algumas pessoas têm me procurado para fazer os tais trabalhos acadêmicos.
Fico espantado com isso, o que me põe na posição de um Batman barrigudo.
“Perai” que já, já lhe digo o que isso significa.
Na década de 60 fizeram uma versão televisiva do Cavalheiro das Trevas que tinha tudo para dar errado. O que ouvi falar sobre a série (jamais deixe a verdade atrapalhar uma boa estória!) é de que o diretor ficou puto com o projeto e fez tudo à moda vamos que vamos para se livrar daquela bosta, pois ele tinha coisas melhores para fazer. Os roteiros e as personagens eram tão ridículos que acabaram sendo engraçados. Resultado: um tremendo sucesso. E - Ai de mim - com o direito a falas como: “Benditos dentes escovados três vezes ao dia”.
Bem. Não sou tão anjinho assim e sei que no mundo real as coisas são como são.
Só que não tem jeito, ainda me espanto quando alguém me manda um zap pedindo para fazer “apenas um trabalhinho, que não é nada demais”.
Outro dia uma senhora quase me bateu devido a minha recusa (Ou nem tanto – ainda é um pouquinho difícil me encarar- afinal ela não era nem o Coringa e nem o Pinguim). E tive que explicar umas dez vezes que eu não me incomodaria de fazer o trabalho junto com o filho dela, explicando passo a passo como deve ser feito, só que eu não aceito ser pago para fazer o trabalho escolar de quem quer que seja, sob qualquer pretexto.
Então, meu queixo cai no chão quando vejo alguém postar sem nenhuma cerimônia em uma rede social aberta: “Faço trabalhos acadêmicos”.
Sei que é mais fácil ser ético com a barriga cheia, mesmo assim isso me causa calafrios.
E se quiser chamar alguém de Batman barrigudo aproveita e faz uma fila. Não sou o único que suou frio quando vimos na tv pela primeira vez um Presidente da República afirmar que para ficar no Governo um partido não pode debater e sim votar junto. E isso faz tempo, imagina com o que dizem hoje, estabelecendo que o famoso Centrão conglomera tudo de pior que existe na política, tornando qualquer sacanagem ser coisa normal.
Considerar a possibilidade de ter um olhar inocente para qualquer situação que seja não deveria simplesmente ser um caso para a internação em um hospital psiquiátrico. Cada vez mais percebo que todos os sistemas políticos e estruturas sociais estão à beira da ruína e somente uma reviravolta em nossa noção de valores poderia mudar algo. O problema é que os ponteiros dos relógios não param e não podemos mais justificar os meios pelos fins, o que nos põe em uma sinuca de bico.
Tudo isso me leva de volta a um momento em que um amigo pediu que eu escrevesse uma lauda sobre o Pequeno Príncipe, que ele nem teve tempo de tocar. Como já disse não sou tão anjinho assim e a vontade de expressar (mais uma vez) o que eu gostaria de dizer sobre o amante da Rosa e da Raposa foi maior.
Em minha defesa a outra parte do trabalho foi sobre outro príncipe, o de Maquiavel. Então, eu obviamente não quis, não pude, e não teria como escrever qualquer palavra. Tentei ler este cara umas três vezes, porém mesmo depois de todas as explicações históricas e contextuais minhas ânsias de vômito foram maiores nunca permitindo que passasse da décima página.
Entenda que não tenho estomago fraco para textos sobre luta ou sangue. O Sun Tzu, por exemplo, já me acompanhou por um bom tempo. Até porque, não é difícil respeitar, mesmo que você discorde, um cara que te explica como decidir diante de dilemas e guerras, sejam elas reais ou metafóricas. Afinal derrotar um inimigo em campo de batalha faz parte do show, mas arrastar seu corpo por três dias e três noites diante do reino derrotado nem pensar. Alguém deveria explicar ao Aquiles que atos de guerra podem ser perdoados, atos de tortura jamais.
Há ainda outro fato para ser dito aqui neste texto, mesmo sob o risco de torná-lo uma tremenda colcha de retalhos.
O que vejo em resposta a questões definitivamente sérias não podem mais passar de simples jogadas de marketing ou vistas como oportunidades para lucrar. Toda vez que alguém disser que plantou um bilhão de árvores em um campo de futebol desconfie: o que há de ecobobo, ecobabaca, ecochato, ecoidiota e ecoaproveitador não está no gibi. Mas pode acreditar em todas aquelas pessoas que catam latinhas para sustentar a família.
O que nos resta então?
Se poderia pedir algo para aqueles que virão é que não se perca a perspectiva quixotesca de colocar uma roupa que mal esconde a barriga, uma capa e uma máscara em forma de morcego. Batmans barrigudos estão em falta e o mundo definitivamente carece de pessoas que não tenham superpoderes dispostas a mudar o jogo.



segunda-feira, 12 de agosto de 2019


MÃO DE PAU

Para quem não sabe sou um tipo que tem um carma tão pesado ao ponto de não nascer grama onde piso. Talvez você também seja assim. Primeiro você tentou ser atacante, mas é um cara grandão e meio desajeitado, então é deslocado para lateral, mas é muito lento. Finalmente tenta a zaga, mas é defenestrado depois da segunda pixotada. Esqueci algo? Que tal o meio de campo? Pensando bem, deixa para lá. Ali é um lugar para desfilar categoria, não é para quem chama a bola de Vossa Excelência.
O que nos resta? Algo, mais ou menos assim: “Bicho pega no gol só esse jogo, o João quebrou o dedão e não temos outro para pôr no lugar”.
Você não sabe nem o que está fazendo, só que tem aquele tipo de coragem própria dos loucos. Além do mais para jogar uma partidinha de futebol você não se incomoda de chegar em casa todo ralado.
Assim está feito.
Mais um arqueiro, guarda-metas, goalkeeper, mão-de-alface, mão-de-quiabo, maluco-do-time, vai-que-é-tua, frangueiro, mão-de-pau, enfim... goleiro.
Esta é a posição mais original e solitária do futebol. Nela lhe dão o superpoder de usar as mãos, mas vão lhe cobrar por cada erro.
Dizem que médicos, pilotos de avião e goleiros não podem errar. Só que todo mundo erra.
No meu caso particular o erro é uma das minhas maiores características. Se faço conta somo um e um para encontrar onze. Se falo a língua pátria nunca sei se uma palavra tem um ou dois erres ou esses. Falo inglês fluente, porém meu spelling é uma desgraça, e não vou ficar espantado se escrevi spelling errado!
Assim toquei a vida, uma exibição de gala aqui, uns frangos ali. Até que finalmente encontrei a pelada que sempre quis: um time de tigres... de bengala, de muleta e até de bom futebol (pelo menos alguns de nós, já jogou bola de verdade). E lá vamos nós para mais um encontro na manhã de domingo.  Logo vai começar a pelada dos veteranos do Carmelo.
É maravilhoso nos divertir com um jogo de futebol com caras que pouco se importam com o resultado, em um jogo no qual dividir uma bola sob o risco de machucar um amigo é impensável.
Ontem foi ainda melhor, chegou um bando de moleques da vizinha cidade em seus brilhantes uniformes azul-escarlate. E não sei se por ironia ou se por amor decidiram torcer justo por mim.
A cada defesa ouvia: GOLEIRO, GOLEIRO, GOLEIRO!
Estava divertido à beça, até o momento em que tomei um frango, algo quase regulamentar da minha vida. Não uma falha qualquer: um gol contra. Levantei pensando em me irritar quando um menino gritou: FICA CHATEADO NÃO VOCÊ É BOM! Então, os outros me aplaudiram.
Quantas vezes você gostaria de ter uma plateia tão linda em sua vida? Há erros de vida e morte, momentos em que uma falha pode estragar algo precioso. Nos demais deveríamos rir e aprender uma lição qualquer.
Quando acabou o jogo fui até a arquibancada para dar boas vindas a minha cidade aos pais e mães que trouxeram aqueles meninos espetaculares. Agradeci profundamente a educação a eles oferecida. Há bens preciosos espalhados no mundo, mas nada se compara ao fato de que as crianças são o melhor do nós.

domingo, 4 de agosto de 2019

Inversões

Parabéns querida
Nesta data para você
Muitas felicidades
E muita vida.

Devo
Não pago
Nego quando tiver.