segunda-feira, 12 de agosto de 2019


MÃO DE PAU

Para quem não sabe sou um tipo que tem um carma tão pesado ao ponto de não nascer grama onde piso. Talvez você também seja assim. Primeiro você tentou ser atacante, mas é um cara grandão e meio desajeitado, então é deslocado para lateral, mas é muito lento. Finalmente tenta a zaga, mas é defenestrado depois da segunda pixotada. Esqueci algo? Que tal o meio de campo? Pensando bem, deixa para lá. Ali é um lugar para desfilar categoria, não é para quem chama a bola de Vossa Excelência.
O que nos resta? Algo, mais ou menos assim: “Bicho pega no gol só esse jogo, o João quebrou o dedão e não temos outro para pôr no lugar”.
Você não sabe nem o que está fazendo, só que tem aquele tipo de coragem própria dos loucos. Além do mais para jogar uma partidinha de futebol você não se incomoda de chegar em casa todo ralado.
Assim está feito.
Mais um arqueiro, guarda-metas, goalkeeper, mão-de-alface, mão-de-quiabo, maluco-do-time, vai-que-é-tua, frangueiro, mão-de-pau, enfim... goleiro.
Esta é a posição mais original e solitária do futebol. Nela lhe dão o superpoder de usar as mãos, mas vão lhe cobrar por cada erro.
Dizem que médicos, pilotos de avião e goleiros não podem errar. Só que todo mundo erra.
No meu caso particular o erro é uma das minhas maiores características. Se faço conta somo um e um para encontrar onze. Se falo a língua pátria nunca sei se uma palavra tem um ou dois erres ou esses. Falo inglês fluente, porém meu spelling é uma desgraça, e não vou ficar espantado se escrevi spelling errado!
Assim toquei a vida, uma exibição de gala aqui, uns frangos ali. Até que finalmente encontrei a pelada que sempre quis: um time de tigres... de bengala, de muleta e até de bom futebol (pelo menos alguns de nós, já jogou bola de verdade). E lá vamos nós para mais um encontro na manhã de domingo.  Logo vai começar a pelada dos veteranos do Carmelo.
É maravilhoso nos divertir com um jogo de futebol com caras que pouco se importam com o resultado, em um jogo no qual dividir uma bola sob o risco de machucar um amigo é impensável.
Ontem foi ainda melhor, chegou um bando de moleques da vizinha cidade em seus brilhantes uniformes azul-escarlate. E não sei se por ironia ou se por amor decidiram torcer justo por mim.
A cada defesa ouvia: GOLEIRO, GOLEIRO, GOLEIRO!
Estava divertido à beça, até o momento em que tomei um frango, algo quase regulamentar da minha vida. Não uma falha qualquer: um gol contra. Levantei pensando em me irritar quando um menino gritou: FICA CHATEADO NÃO VOCÊ É BOM! Então, os outros me aplaudiram.
Quantas vezes você gostaria de ter uma plateia tão linda em sua vida? Há erros de vida e morte, momentos em que uma falha pode estragar algo precioso. Nos demais deveríamos rir e aprender uma lição qualquer.
Quando acabou o jogo fui até a arquibancada para dar boas vindas a minha cidade aos pais e mães que trouxeram aqueles meninos espetaculares. Agradeci profundamente a educação a eles oferecida. Há bens preciosos espalhados no mundo, mas nada se compara ao fato de que as crianças são o melhor do nós.

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