Nike foi retratada em um dos livros de Percy Jackson
como um ser inquieto. Antes de ser conhecida como uma marca desportiva ela era
aquela deusa alada nas mãos de Athenas. Se eu disser o nome romano dela tudo
passa a fazer sentido: Vitória.
Neste momento que estamos tendo que lidar com tantas
perdas é necessário entender como levantar a cabeça, mesmo quando não chegamos
no topo do podium.
Por tremenda coincidência ou por profunda sensibilidade
de um DJ ouvi duas belas canções consecutivamente: “Marvin” e “Alone again”. Ambas
têm uma batida desconexa com o texto. São histórias profundamente tristes com
um compasso desconcertantemente dançante.
Um estranho pensamento me veio naquele momento. O que
mais lembro do Pelé são justamente três gols perdidos. A visão de chutar do meio
do campo. A defesa do goleiro inglês, prevendo o futuro e pulando para o lado certo,
um gato esticado. Ou (muito) melhor ainda foi ver o goleiro uruguaio ficar
totalmente perdido naquilo que não foi (nem de longe) um lance de futebol, mas
um passo de balé.
Você pode ter todas críticas do mundo ao Edson que
ele era antes do nascimento de Pelé, como pode ter a qualquer outro ser humano.
Já falar mal do craque naqueles lances é complicado. Nós podemos até saber
perder gols, mas não com toda aquela arte.
A competição exacerbada pela deusa alada e suas
promessas de louros e medalhas no final não podem deixar que venhamos a perder
aquilo que nos faz humanos.
Incontáveis vezes perdemos. Você pode preferir ser
exonerado a aceitar uma sacanagem qualquer. Um piloto pode perder um campeonato
mundial por ter um adversário batendo nele propositalmente. Cassandra perdeu a
sanidade tentando avisar que a cidade estava perdida. Marvin pode estar sozinho
novamente, sem os carinhos dos pais e sem colheita para se sustentar. Podemos perder
um emprego. Um amor. Até mesmo pai e mãe.
Acredito que há momentos nos quais devemos deixar a Nike
de lado e compreender o quanto (e como) perder nos define. Se você não acredita, veja novamente aqueles três gols perdidos volte a conversar comigo.
Mesmo assim não perca a esperança.