A
MENINA E O TREM
Para
Adriana Noronha
Uma
menina que ainda acredita
Em
luas e trens
Assim como o Pinduca da música a menina esperava, ansiosa,
pelo trem.
Ela não corria para a estação para acenar como todas
outras crianças do bairro. A mágica acontecia bem ali. O trem dos adultos passava
do outro lado da rua. O dela passava na parede branquinha da sala.
O trem só passava no fim da tarde, mas era um trem
fantasma, que desaparecia se alguém acendesse a luz. Como se ele mesmo fosse
assim todo de luz.
Na imaginação dela ele vinha da estação de Santa Luz. Cheio
de moças com laço de fita e rapazes engomados do cabelo ao sapato.
O trem maluco, chegava na sua sala sem pedir licença e
passava sempre de cabeça para baixo.
Um dia ela brigou com outras duas meninas bem maiores
que não acreditaram no que contava:
“Um trem feito de luz passa na parede da minha casa,
ele vem de cabeça para baixo. A luz que faz ele vem de um buraquinho na outra
parede”
“Mentirosa”, foi a resposta suficiente para puxões de
cabelo e até um tapa! Não importava se ela ia voltar com a farda toda
amarrotada. Ela podia levar poeira, lágrimas e até sangue para casa, mas
desaforo...
Naquele dia o trem parecia dizer para ela com seu colorido
crepuscular: Vou passando, vou passando, vou passando, piiiiuuuuiiiii.
O trem vai para a Lua. Chegando vai encontrar a menina
sentada num cantinho. Protegida por São Jorge e fazendo amizade com o dragão.
Nunca para a viagem. A estação é primavera, outono, inverno e verão.
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