Um dia vi um lobo falando bem dele dizendo basicamente
que ele era um líder que falava o que pensava.
Não esqueço do alerta da Lupina: há lobos que se
vestem com a pele de cordeiro, mas também há lobos que se vestem com pele de
lobo.
Enfim, é preciso mais que intuição para avaliar o lobo
que chega. Cansei de ver lobos velhos se enganarem sobre o caráter dos outros
como se fossem filhotes.
Alguns sinais são óbvios:
- Se não trata uma loba como a encarnação da Grande
Loba.
- Se valoriza demais a matéria.
- Se perde o controle com facilidade.
- Se tem todas as respostas sobre o que é sagrado, mas
desconsidera qualquer visão diferente.
- Se cansa falar de sua própria integridade, mas de um
jeito ou outro acaba tirando vantagens.
Ou ainda:
- Se um lobo fica o tempo todo lembrando quem ele é,
provavelmente ele mesmo não sabe.
Mas principalmente:
- se traz a fagulha do ódio nos olhos.
Outros detalhes são mais sutis, e se resumem em uma
intuição diáfana e um cheiro podre que não conseguimos definir muito bem.
Assim foi a chegada do Rasteiro.
Eu imaginava que ele não conseguiria enganar a ninguém.
Tão direto era o seu ódio e a maneira com a qual ele sempre desprezou as seguidoras
da Grande Loba. Sei que já disse isso antes: não há nada de errado em seguir o
Grande Cão, mas há muito de desprezível naqueles que não respeitam a centelha
do sagrado nos outros.
E assim ele trouxe a semente do ódio, travestida em
culto ao Grande Cão.
O ódio se espalhou por todas as terras.
Mas de tudo o que mais lamento foi a corrupção chegar
aos corações dos inocentes e dos simples.
Cães e o lobos que antes amávamos hoje rosnam quando
passamos. E se não tem motivos para nos odiar, inventam. Eles não têm muito a
ganhar com isso. Mal sabem que o ódio é filho da ganância. É um ferrão que fere
a quem atinge, mas também mata a abelha.