segunda-feira, 27 de junho de 2022

Pra você

 Hoje acordei pensado que iria compor uma canção para você. Uma melodia bobinha, dessas que até toca na rádio (se você tiver os contatos certos), as palavras doces escorregavam em rimas pobres. Estava tudo tão bonitinho.

Logo acordei e o superego descartou tudo.  Só porque tenho tanto medo de (pare)ser ridículo. Nesta altura do campeonato deveria saber que canções bobas movem o mundo, mesmo que elas não me pertençam. Ou mesmo que nem sequer tenham sido compostas.

Que tal encher de rimas com verbos terminados em ar? Que tal juntar as batatinhas cujas ramas se espalharam pelo solo? Que tal misturar “te amo” com você e achar que confundir pronomes de tratamento pode até ser desculpado.

Oh! Vasto mundo. Não é todo mundo que é Raimundo ou Drummond, mas os poetas de pé quebrado também amam.

Então, por que não?

Arranco um sorriso bobo de sua cara linda, pouco importa o que digo.

Hoje acordei com uma canção explodindo em meu peito não a escrevi por medo, mas a canção que está lá perdida no mundo dos cristais de Platão é toda sua.

sábado, 25 de junho de 2022

Futuro do indicativo


Ficção científica é uma de minhas maiores paixões junto com o estilo de fantasia, o fato é que muitas vezes é difícil distinguir entre um e outro. Para não correr o risco de apanhar dos trekies ou dos discípulos do mestre Yoda, permitam-me mostrar a diferença em um terreno mais seguro: em “2001 uma odisseia no espaço” quando um monolito aparece do nada é fantasia e quando o som não se propaga no espaço é ficção científica.

Então antes de falar sobre a “Mulher do viajante do tempo” (vou fazer de tudo para não ter spoiler) permitam-me classificar a série como um exercício de fantasia pois as viagens no tempo (pelo que sabemos de ciência hoje) não são possíveis, e mesmo que fossem trariam um problema bem chato de resolver. Assim como determinou Galileu a Terra se move e; a despeito de não haver um referencial universal (o que gerou toda a confusão que o Einstein desvendou) tornariam tais viagens absurdamente complexas. Para simplificar apenas me diga se você pode dizer exatamente onde estava há um ano. Se o seu referencial não estiver muito bem calibrado poderia ser teletransportado para locais bem desagradáveis, como o núcleo de uma estrela. Isso porque estamos em movimento em relação a todo sistema solar, girando ao redor de um eixo, movendo helicoidalmente em relação a Via Láctea (ufa!). Em síntese não é fácil ser o Marty MacFly com um Delorean.

Enfim, se classificarmos a série como fantasia a vida segue mais fácil. Assim poderemos nos dedicar as metáforas. Semelhante a abordagem sobre o mal de Alzheimer, brilhantemente descrito em “Benjamin Button”.

Afinal sobre o que a tal da mulher do viajante do tempo, com suas idas e vindas, nos diz? Talvez o explodir do sentimento platônico que tenho a cada vez que vejo a foto de meu amor quando ela ainda sequer tinha concluído a primeira comunhão. A realidade, porém, é que naquela época eu não estava pronto para conhecê-la, mas Jorge Vercilo já havia matado essa charada me perdoando pelos amores de antes.

Do mesmo modo, ora me dedico a fazer aulas para alunos que não têm condições de pagar o merecido valor a outros (melhores) professores, nesse momento sempre penso o que o Remo de hoje quase sessentão teria a dizer a sua versão adolescente. Como minhas derrotas falam muito mais de mim do que minhas vitórias, seria inevitável determinar para minha versão jovem uma boa dose de sofrimento (que infelizmente, junto com o tempo, é um dos melhores professores que existe).

Talvez o que a série tenha em seu cerne seja o alerta de que devemos viver o aqui e o agora. E que a viajem no tempo-espaço é inevitável e vai acontecer inexoravelmente em direção ao futuro, o que é por nós sentido.