Ficção
científica é uma de minhas maiores paixões junto com o estilo de fantasia, o
fato é que muitas vezes é difícil distinguir entre um e outro. Para não correr
o risco de apanhar dos trekies ou dos discípulos do mestre Yoda, permitam-me
mostrar a diferença em um terreno mais seguro: em “2001 uma odisseia no espaço”
quando um monolito aparece do nada é fantasia e quando o som não se propaga no
espaço é ficção científica.
Então
antes de falar sobre a “Mulher do viajante do tempo” (vou fazer de tudo para
não ter spoiler) permitam-me classificar a série como um exercício de fantasia
pois as viagens no tempo (pelo que sabemos de ciência hoje) não são possíveis,
e mesmo que fossem trariam um problema bem chato de resolver. Assim como
determinou Galileu a Terra se move e; a despeito de não haver um referencial
universal (o que gerou toda a confusão que o Einstein desvendou) tornariam tais
viagens absurdamente complexas. Para simplificar apenas me diga se você pode dizer
exatamente onde estava há um ano. Se o seu referencial não estiver muito bem
calibrado poderia ser teletransportado para locais bem desagradáveis, como o núcleo
de uma estrela. Isso porque estamos em movimento em relação a todo sistema
solar, girando ao redor de um eixo, movendo helicoidalmente em relação a Via Láctea
(ufa!). Em síntese não é fácil ser o Marty MacFly com um Delorean.
Enfim,
se classificarmos a série como fantasia a vida segue mais fácil. Assim
poderemos nos dedicar as metáforas. Semelhante a abordagem sobre o mal de Alzheimer,
brilhantemente descrito em “Benjamin Button”.
Afinal
sobre o que a tal da mulher do viajante do tempo, com suas idas e vindas, nos
diz? Talvez o explodir do sentimento platônico que tenho a cada vez que vejo a
foto de meu amor quando ela ainda sequer tinha concluído a primeira comunhão. A
realidade, porém, é que naquela época eu não estava pronto para conhecê-la, mas
Jorge Vercilo já havia matado essa charada me perdoando pelos amores de antes.
Do
mesmo modo, ora me dedico a fazer aulas para alunos que não têm condições de
pagar o merecido valor a outros (melhores) professores, nesse momento sempre
penso o que o Remo de hoje quase sessentão teria a dizer a sua versão
adolescente. Como minhas derrotas falam muito mais de mim do que minhas
vitórias, seria inevitável determinar para minha versão jovem uma boa dose de
sofrimento (que infelizmente, junto com o tempo, é um dos melhores professores que
existe).
Talvez
o que a série tenha em seu cerne seja o alerta de que devemos viver o aqui e o
agora. E que a viajem no tempo-espaço é inevitável e vai acontecer
inexoravelmente em direção ao futuro, o que é por nós sentido.