Passei boa parte de minha vida dormindo, e posso falar essa frase engatinhando a palavra óbvia: LITRALMANETE, o que muitas pessoas fazem quando na verdade deveriam dizer metaforicamente. Isso é explicitado em um episódio clássico de “How I met your mother” aquele do: “I literally mean literally” o que em inglês americano vira um tremendo trava línguas.
Então me ofereçam a chance de recomeçar. Passei boa
parte de minha vida dormindo: METAFORICAMENTE. No exato momento em que isso o
digo falecem as obrigações de ser explícito. As metáforas têm um pulmão
pulsante e nem sempre vão na direção apontada pela intencionalidade do autor,
do ator, da plateia; ou até mesmo de quem passa, distraído na porta do teatro.
Aqui o espetáculo é de dança e assim sendo sua arte
irmã deve trazer os sons necessários. Entenda bem: estou exatamente agora lhe
tirando para dançar, sou um Jonny Rivers meio desajeitado. Mesmo assim estendo
a mão arranhando meu inglês enferrujado ao repetir a pergunta: “Do you wanna
dance?” Quando o faço ao mesmo tempo o tempo me diz seta grande para baixo,
seta pequena para baixo de novo... a mão esquerda vai titubeando nas cordas
pensando: G, Am, G, Am, G, Em...
Um monte de processos está transformando meu pobre cérebro
em um festival de fogos de artifícios. Tento lembrar da pronúncia correta e do
significado de cada palavra, o trem de pensamentos descarrila e a Cecília Meireles
aparece de repente lembrando que a poesia tem asa ritmada, o Jobim diz qual é o
tom, a galera do Roupa Nova já está lá no Clube da Esquina pedindo um Whisky à go-go.
Tento casar a sílaba certa com as passagens, os calos doem, mas firmo os dedos
nas cordas então canto porque o instante existe.
Estou na metade da gestação desse novo aprendizado, enquanto
isso o El Cabong (Sou esse tipo de doido que dá nome ao violão, no caso em uma
referência a um antigo personagem de Hanna Barbera) anda por aí comigo debaixo
do braço e se tiver motivo é mais um... (não dá ainda para dizer samba, a
levada é bem difícil, mas eu chego lá).
Mando um áudio para o Ciro, que tem muito mais estrada,
e ele compara fazer música as artes marciais, assim temos mais uma coisa em
comum para celebrar nossas conexões apesar de estarmos metade do globo
terrestre distantes. Chego na casa de amigos perguntando se gostariam de ouvir
alguma das músicas que finjo saber. Fico ansioso pela chegada da quinta-feira
para ter mais uma aula com o professor Renato. Resisto a tentação de enrolar
quando a música nova é difícil. Compartilho momentos com a Aninha e as vezes
até tocamos juntos. Inevitavelmente penso nas relações matemáticas.
Agora entendo a tigresa que simplesmente disse: Como é
bom poder tocar um instrumento!
Então, se você pode dispor de um tempinho para cuidar
de sua alma não deixe essa oportunidade passar: ACORDE.