quarta-feira, 8 de maio de 2024

De volta para o futuro

Recebo o meme este mostra que estamos cada vez mais parecidos com os Jetsons, enquanto nos deparamos com robôs e carros voadores. Posso até concordar, principalmente quando lembro o quanto o trabalho do pai é precarizado, sem horário certo para terminar e que seu chefe pode fazer uma vídeo chamada inoportuna para uma nova demanda.

O desenho veio na esteira dos Flintstones, onde ocorre um passado idílico que nunca aconteceu, como normalmente é qualquer nostalgia que quisermos evocar. Temos também a série, interminável, da família padrão encarnada pelos Simpsons e essa se ancora no aqui e agora.

Mas, dentre Georges, Freds e Homers de quem sinto saudade mesmo é do Dino da Silva Sauro. De fato, fico espantado de como a série não passou de uma temporada, mesmo assim quase nos matou de tanto rir.

Nesse contexto passado, presente e futuro resolveram me visitar neste mês em que tive a péssima ideia de comprar uma máquina de lavar da _______ (nome da empresa suprimido para evitar ações jurídicas,  mas se você estiver curioso basta rimar ). Para no final de contas chegar à conclusão de que o prazo de reparo proposto pela garantia do fabricante não passa de uma obra de ficção.

E lá vou eu tentar ser ouvido por quem recebe para isso, mesmo sabendo que ninguém realmente ouve velhos. Nessa estória, estou vivendo um misto de o “dia da geladeira” e o “poço de piche”. Caso não lembre dos episódios de A Família Dinossauro, vale a pena pesquisar para rir e filosofar. No caso do eletrodoméstico fica a reflexão de como nossa dependência da tecnologia pode  ser quase tão importante quanto oxigênio. No outro se desenrola a despedida da Zilda e a alegria do Dino em se livrar de um peso morto. Tendo sido uma criança chata, um adolescente insuportável, um adulto no mínimo excêntrico não tenho grandes esperanças de ser um velho bacana. Então, vendo da perspectiva de quem deveria me arremessar é até difícil não ser solidário.

Talvez eu só queira destilar um pouquinho de veneno ao considerar que ainda nesse ano serei, oficialmente, um cidadão sênior; portanto elegível ao poço de piche, mesmo que esse seja apenas metafórico. De certo, o que percebo é que vivemos relações cada vez mais etiquetadas com preços bem definidos pela lei da oferta e procura. Portanto, não é a melhor coisa do mundo resolver ficar velho justo quando nós estamos em excesso na sociedade. Principalmente quando algum de nós decide não estar à venda. Todavia, a alternativa de não chegar a ficar velho não me seduz nem um pouco. Já que estamos usando referências antigas posso lhe dizer que o nome do filme é “O céu pode esperar”.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Charlie de todas as cores

Recentemente me vi perdido ao ver o Rei Charles, o Ray Charles, o meu amigo Charlie Brown (do Benito de Paula), o dono do Snoopy, o Carlitos e todos outros que possam responder ao grito de: Hei, Charles! Aonde você vai?

Essa imagem gritou na minha frente um pouco depois da assunção ao trono do soberano da Inglaterra (não vai ter jeito os epítetos terão que povoar esse texto, do mesmo modo que ocorre quando uma criança lhe pergunta se um pato sem pata é viúvo ou manco), para logo depois ouvir o samba alegre do menestrel de Nova Friburgo acolhendo um amigo estrangeiro.

Modelos representativos importam. Leciono física há tempo bastante para entender que a ciência não passa de uma representação interpretativa da realidade. E ao sair da sala de aula posso dizer, sem medo de ser feliz, que estou me apaixonando pelo avatar de minha esposa a cada postagem dela no Zap. Isso ao compreender que me encanto com representações transitórias e o que elas trazem, mesmo sendo apenas sombra de uma mulher fantástica.

Por outro lado, foi apenas um pequeno gesto que o monarca fez que me trouxe todo esse incômodo. Também incomodado ele acenou para um mordomo que, telepata, tirou um objeto do campo de visão de seu suserano. Pode parecer uma besteira, mas no final das contas diz bem que a acumulação de riqueza traz em si os maiores males da humanidade. Incluindo o fato de que alguns se acham no direito de se sentirem melhores que outros, apoiados por todos os aparatos jurídicos e sociais; o que inclui uma certa etiqueta como diminutivo de ética.

Penso de forma divergente e espero que haja igualdade na diversidade, porém se tiver que escolher alguém para ser o melhor de toda essa confusão meu voto fica dividido entre o vagabundo de cartola e bengala e o pianista que superou todas as adversidades, inclusive a percepção de que seu instrumento tem teclas de ébano e marfim.