- Bicho, você não vai acreditar! Tô namorando uma mina sensacional.Ela é uma gata, maneira e esperta.
- Mentira, C não pega nem resfriado!
- Não acredita? Olha a foto dela aqui.
- Já sei, recortou de uma revista e fez uma montagem. Cara, tá precisando ir pro Pinel. Todo mundo mandou a letra que ia ficar doido de tanto estudar matemática.
- Juro. Ela não é imaginária que nem a raiz de menos um.
- Beleza, C tá namorando a mina, mas ela sabe disso?
- Ainda não, tô meio tenso de falar com ela. Acho que quando ela souber disso ela desmancha comigo.
Era bem o tipo de conversa que nós tínhamos frequentemente, entre o humor e o desespero. Afinal quem ia querer os caras duros, magricelos e desengonçados que viviam discutindo sobre o último episódio de Jornada nas Estrelas?
Se a viagem no tempo fosse possível e não causasse paradoxos de fluxo espaço-temporais (algo como - tudo bem você conseguiu voltar no tempo, mas já parou pra pensar que a Terra mudou de posição o suficiente desde então para que você voltasse justo no núcleo de uma estrela?) eu falaria pro cara de 14,15, 16,17 ou 18 pra ficar calmo que a hora iria chegar.
Ontem tirei essa foto dela aí, que não é montagem e nem foi recortada de uma revista. Eu havia acabado de tocar Todo azul do mar em homenagem a ela e aproveitei um segundo de distração para mostrar ao mundo que a garota realmente existe. Para completar a história ainda teve a audácia de dizer que não gostou da foto, pois não estava bonita (meu Deus! Ela não tem ideia do quanto é linda!)
Para o cara de 19 que finalmente a encontrou poderia dizer que More than words só faz sentido agora se pegar o coração dividido (dois átrios e dois ventrículos) e entregar as quatro partes para ela, a tal ponto que matéria, espírito, espaço e tempo mostrassem um único sentido possível para a vida.
Nessa história cada um dos pedaços é que têm o valor de i (se você não entendeu isso assista minhas aulas sobre números complexos), e que i elevado a quarta potência é igual a um, pois é isso que somos.