Havia duas juradas no programa de calouros. Uma era Márcia de Windsor, a outra era Aracy de Almeida.
Não importava muito o que o calouro fazia, pois o comportamento
delas não variava. Márcia balançava as joias e sorria com seus olhos azuis
(Pixinguinha que o diga) e bradava: minha nota é dez!
Araci dava um pigarro e vociferava é zero!
Um dia foram entrevistadas juntinhas e o repórter não
as poupou da pergunta óbvia.
Araci conta que o faz por pena daqueles que jamais teriam
condições de sobreviver a dura carreira artística, as gravadoras, as letras pequenas
dos contratos e, aos empresários que só queriam tirar proveito.
Márcia lembra que um dia fora convidada para cantar
Yesterday com uma enorme orquestra. Ao subir no palco esqueceu a letra e cantou
a melodia inteirinha com um hum-hum-hum sem fim. Foi as lágrimas, pois tinha
convicção de sua breve carreira tinha sido cancelada. Só que quando termina destroçada
foi surpreendida pelo público que a aplaudiu de pé por uma eternidade.
Desde então, passei a entender que o primeiro passo de
qualquer avaliação é avaliar o avaliador.
Hoje mesmo recebo a resposta de uma editora me
incentivando a defenestrar um projeto de mais de quarenta anos, pois um livro
de crônicas e poesias com 280 páginas ninguém lê.
Ela trabalha com isso e deve ter razão. Mesmo assim, devo
declarar que o que conto deve estar crivado de viés e imprecisões, por exemplo,
sobre a cor dos olhos da jurada. Afinal a TV lá de casa era em preto e branco.
Então posso até pensar que deve haver exceções pois
essa é a página 281.
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