quinta-feira, 27 de junho de 2024

Média 5

Havia duas juradas no programa de calouros. Uma era Márcia de Windsor, a outra era Aracy de Almeida.

Não importava muito o que o calouro fazia, pois o comportamento delas não variava. Márcia balançava as joias e sorria com seus olhos azuis (Pixinguinha que o diga) e bradava: minha nota é dez!

Araci dava um pigarro e vociferava é zero!

Um dia foram entrevistadas juntinhas e o repórter não as poupou da pergunta óbvia.

Araci conta que o faz por pena daqueles que jamais teriam condições de sobreviver a dura carreira artística, as gravadoras, as letras pequenas dos contratos e, aos empresários que só queriam tirar proveito.

Márcia lembra que um dia fora convidada para cantar Yesterday com uma enorme orquestra. Ao subir no palco esqueceu a letra e cantou a melodia inteirinha com um hum-hum-hum sem fim. Foi as lágrimas, pois tinha convicção de sua breve carreira tinha sido cancelada. Só que quando termina destroçada foi surpreendida pelo público que a aplaudiu de pé por uma eternidade.

Desde então, passei a entender que o primeiro passo de qualquer avaliação é avaliar o avaliador.

Hoje mesmo recebo a resposta de uma editora me incentivando a defenestrar um projeto de mais de quarenta anos, pois um livro de crônicas e poesias com 280 páginas ninguém lê.

Ela trabalha com isso e deve ter razão. Mesmo assim, devo declarar que o que conto deve estar crivado de viés e imprecisões, por exemplo, sobre a cor dos olhos da jurada. Afinal a TV lá de casa era em preto e branco.

Então posso até pensar que deve haver exceções pois essa é a página 281.

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