Se você é criacionista certamente não vai gostar deste texto, então fica o aviso prévio. Mesmo assim, penso que qualquer pessoa tem o direito de acreditar no que quiser. O problema é levar isso para uma escola como se fosse científico. Lembremos que a ciência formula teses, ou seja, tudo o que temos como “certo” construído por ela pode (e deve) ser refutado para a construção de uma tese melhor. Por exemplo, a física de Newton foi contestada pela de Einstein, que por sua vez viu seu mundo microscópico ser destruído por Planck e companhia. Ou seja, qualquer tese científica deve ser contestada e pode estar errada. Enfim, se você defende que seu livro sagrado é científico está partindo do princípio de que ele pode estar errado.
Isso dito podemos pensar em nós mesmos como espécie, revisitando diversas metáforas literárias. Voltando a vaca fria. Não vou fazer ciência, apenas proponho um exercício de autoconhecimento.
Tudo começou com uma conversa no sábado em que um amigo apontou que não tem qualquer esperança em relação ao futuro de uma humanidade tão destrutiva. Coincidência ou não acabei de ver a entrevista de Saramago no Jô, que nos coloca como a única espécie capaz de crueldade. Discordo de ambos. O grande autor nunca viu um vídeo no qual Orcas “brincam” com seus filhotes como se fossem bolas de vôlei até o óbito. O que não tenho mais como mostrar para o laureado autor. Já o amigo me ofereceu a réplica, que também vem de Portugal. Mais exatamente dos sapadores (bombeiros) portugueses em seu lema: “nada do que é humano nos é estranho”. Penso que eles querem dizer que se importam com gente. Porém estabeleço outra interpretação: nas crises mais sérias que vivi vi desde atos de nobre heroísmo até comerciantes que vendem garrafas de água a preços estratosféricos lucrando com a desgraça alheia.
No campo filosófico lembro do instrutor que nos apontou que somos mamíferos de grande porte, assim vamos proteger nossas crias tal qual fazem os touros selvagens, enquanto ratos e gambás descartam as crias para sobreviver. Para este nobre professor diria hoje o primeiro filme da tri(hoje quadri)logia de Matrix nos classifica como vírus que destroem o ambiente totalmente antes de infectar outra área.
Recentemente um amigo me comparou a um leão e que não deveria me importar com o que dizem as ovelhas. Concomitantemente, outro nos comparou a cães pastores que são temidos pelas mesmas ovelhas que protegem dos lobos. Por outro lado, penso que quem se preocupa com o coletivo acaba se comportando como suricates que ficam de sentinela para protegem parentes distantes.
Disto tudo poderia concluir com a fala do, paleontólogo, Pirula (a quem desejo melhoras) lembrando que somos primatas e nossa dominância sobre as outras espécies fica por conta de nossa capacidade de colaboração. O que, no entanto, não nos livra da intuição de que o perigo mora ali ao lado onde está um predador de verdade. Deste modo, muito o que temos de mesquinhes é advindo de nossa crença de que tudo pode dar errado. Em resumo, é difícil mesmo não ser pessimista em relação ao nosso destino como espécie. Todavia para não terminar essa canção com uma nota menor, deixo aprisionado aquilo que não saiu da caixa de Pandora e lhe proponho que você escolha de que espécie é.