terça-feira, 1 de julho de 2025

TEMP(L)O

O tempo que contemplo

É a medida entre o ínfimo e o infinito

A curva que se faz espaço

O Deus Olímpico que devora

A menina que se assenhora

O futuro que que se constrói com escolha do agora

O espelho que requebra na entropia

O que não pode voltar, sequer um dia

É aquele que nos prega as peças

Peças revividas com papéis diferentes

A mãe, o pai, o avô... em início fim e meio

Até mesmo para o filho que não veio

A areia que desconta

A estrela que desponta

E enfim, a (in)certeza do fim.

terça-feira, 24 de junho de 2025

E=mc2

O tempo vive aprisionado nas cordas de meu violão. 

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Encontro


Para Flávio, um Rocha que pensa diferente

 

Um é Luís o outro Luiz, nem sei se esses e zês podem ser a diferença entre eles. Por isso digo o que sei: um é filho de Januário, outro de Luís. Um tem sete baixos, o outro o violão. Um nasceu para ser guache na vida, o outro tenta ser um homem direito. Um reclama que uma esmola para alguém são ou mata de vergonha ou vicia o cidadão. O outro diz que um homem se humilha se castram seu sonho que é sua a vida e a vida é o trabalho. E tanto andaram de viés que se afastaram irremediavelmente.

Um dia resolvem que a vida deles é andar por esse país pra ver se um dia há um descanso feliz. Um encontro que aconteceu de fato, a despeito de ser tão improvável.

Sei bem o que passaram. Visões de mundo mais nos afastam do que unem. Penso que o politeísmo de tempos passados bem poderia ser uma solução melhor que se chamar Raimundo. Se Deus é único, quem é o único que sabe quem Ele é, e pode realmente dizer que todos outros são meros teatros burlescos com suas mitologias inverossímeis e improváveis?

Enquanto isso uma boa banda não pode ser só de guitarras, do mesmo jeitinho uma boa ideia guarda em si a probabilidade de estar errada, pois assim não sendo é só mais um fundamentalismo barato. Sei o que não sabes e sabes o que não sei (o que está dito tão fora de registro que nem deveria estar aqui em um espaço informal). Enquanto isso vejo o leão perseguir o antílope, aquele que correr menos não vai saber com termina a história. No fim ambos são grama.

Ontem tomei coragem e liguei. Você tomou coragem e atendeu. Coragem tem origem em coração. Então não posso dizer que discordo de você, pois essa é uma outra palavra que põe cordas no coração, apenas pensamos diferente, e temos muito que aprender juntos.

domingo, 4 de maio de 2025

Coquetel

A idade nos traz doses de ressentimento e gratidão. 
A porcentagem que escolhemos de cada um desses ingredientes faz toda a diferença.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Saudade e nostalgia

Ando meio cansado de ouvir que a palavra saudade só existe em português. Deixa eu (deixa-me - eu não aguento – pode até ser certo, mas é feio pra cacete!) dizer uma coisinha: NENHUMA PALAVRA SEQUER DE UMA LÍNGUA PODE SER TRADUZIDA TOTALMENTE PARA OUTRA. Imagina, por exemplo, que você nasceu em uma oficina mecânica e todos os seus parentes são mecânicos. Então quando falarem rebimboca da parafuseta vocês vão saber do que se trata, apesar da família de sua namorada em que todos são pescadores não tiverem ideia do que você está falando.

A coisa piora se alguém arrisca a cantada: ‘saudade do que ainda não vivemos”, que poderia até ser fofinho, não fosse dito por um macho tóxico. O tipo de cara capaz de ajudar um amigo (supostamente – olha aí meu jurídico imaginário) estuprador.

Saudade pode ser até única, porém acredito que as palavras têm significados vindo tempos imemoriais, perceba aqui que a origem (em termos de língua e história) fazem com que seja difícil até mesmo encontrar traduções (ou melhor sinônimos) na mesma língua. Saudade não é o mesmo que nostalgia, pois esta tem tudo a ver com dor (olha que a Marisa Monte tem a dela, eu a minha e você a sua), e apesar de saudade doer lá dentro é também fonte de prazer (a cantada já citada que o diga).

Talvez a culpa seja do tal Dom Sebastião. E antes que você me xingue por trazer referências que quase ninguém lembra, trata-se (que vontade de dizer “se trata”!) da história de um príncipe que morreu nas cruzadas. E deixou o povo português chupando dedo com saudades do que nunca viveu. Se ele voltasse e mantivesse os privilégios da corte como todos os outros de antes (e depois) fizeram, ninguém teria saudades. Seria mais uma dor lembrar dele.

Como torço pelo time que tem mais história que presente, observo que o Vasco também sofre desse tal sebastianismo. O problema se agrava com o fato de que nossos reis e príncipes fizeram muito mais que se perder em terras distantes. Foram grandes de fato. Cabe a nós sabermos que hoje usam bengalas ou pelo menos óculos bifocais.

E perdoem a fala etarista, mas deixemos atletismo para atletas e não para jogadores aposentados em atividade. Esse é o mesmo discurso que faço ao dizer que (quase) qualquer um pode ser bombeiro. E estabeleço o seguinte teste: Tenho 113 Kg, se eu me jogar aqui no chão você pode me arrastar por 30m, trajando roupa de aproximação e cilindro? Se a resposta é não sinto muito, fica pra outra encarnação. Há uns 10 anos eu seria capaz disso, hoje não mais. Por isso é que estou na reserva (ou seja, aposentado).

Então não me fale de saudades e de voltas, me fale como preparar quem está por vir, não me diga amanhã você quer sentir saudades como um (bom e) velho samba. Diga que nesse Sanatório Geral vai passar, como neste outro (ainda melhor) samba pra nossas novas gerações.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Através das lentes

Sem seus óculos, Herbert Viana reclama da ausência.
Sem os meus o manacá de meu quintal é uma pintura de Renoir.

domingo, 13 de abril de 2025

Per capita

Quando saio por aí convidando as pessoas a se inscreverem no canal onde leciono física e matemática é muito comum me dizerem “sou de humanas”, então respondo: “eu também”. Não há nada mais humano que calcular se as provisões vão bastar na estação seguinte, medir o terreno que o vizinho quer tomar ou encontrar padrões.

Sei que tais pessoas não se convencem muito, então resolvi fazer a engenharia reversa para explicar que os textos que você encontra aqui mesmo em meu blog, apesar de parecerem criativos, nada mais são do que a consequência lógica de buscar conexões. Quase a resolução de uma equação.

Basicamente paro para pensar nos temas do dia e suas correlações, por exemplo, vou tentar colocar aqui bem juntinho Vegetti e Carlos Gardel. Porém, isso só vai ter o cheiro de arte se não for óbvio, como o fato de parecerem argentinos, até porque Gardel é francês.

O lance é que estou as voltas com uma nova (para mim) canção chamada por uma cabeça, e ela é difícil pra cacete. Isso me obriga a pensar nela horas a fio. O título me fez desconfiar de alguma relação com as corridas no jóquei, o que se confirmou. A surpresa ocorre quando entendi que a metáfora se estendia a um relacionamento romântico que não foi adiante por pouco ou até pelas sutilezas que fazem o tango uma forma alegre de tornar em dança uma tristeza qualquer.

Apesar de ter dois pés esquerdos e nem tentar me arriscar a dançar, tento juntar minhas mãos, não menos sinistras para reproduzir um tasquinho de tanta beleza. Isso me obriga a ser insistente, então até mesmo vendo o jogo do Vasco continuo teimando em dedilhar as seis cordas. De repente tenho que me conter para não jogar o violão para o alto quando sai o gol de nosso centroavante. E como foi? Lógico que com cada fibra de seu coração, com as pernas, braços, abraços do cabelo ao umbigo, de corpo inteiro, enfim.  Com a alma do menino que torce. Desde a ponta dos pés que insistem e esquecer dos 37 anos até a capital arma do artilheiro. Tudo em uma homenagem ao maior que já passou por aqui, justo na semana de seu aniversário.

Finalmente sei que você pode estar chateado comigo, perdendo tempo com milongas, enquanto a Argentina passa por problemas realmente sérios. Entretanto, ouça bem o que digo: quando perdermos tudo de nossa alma latina e não sobrar nenhum centavo para um aposentado tomar chimarrão em frente a Casa Rosada ainda haverá a arte para dizer quem somos.

Assim quando algum burocrata disser um país está bem devido a renda produzida por pessoa ser o suficiente, não deixe que seu coração de humanas se perder nas contas. E pergunte para quais cabeças vai o capital.

No tango, a cabeça do Gardel está focada na de um nobre cavalo. Hoje a pelota chega na cabeça do Pirata, ontem seria do Dinamite. São essas cabeças que fazem toda a diferença.