terça-feira, 20 de dezembro de 2016

PRATA


Carmo, 21 de dezembro de 2016
Para Aninha, o amor de minha vida
A palavra é de prata o silêncio é de ouro, mas se quisermos dizer qual valor algo tem é preciso (necessário, exato) saber o que é raro e para que serve. O alumínio, assim que começou a ser feito era o mais caro de todos metais. Assim como no momento em que querem nos calar a palavra certa é mais valiosa que o silêncio amedrontado. E é sobre palavras e a prata quero falar um pouco.
Poderia começar com a história do time deveria se chamar de Rio da Prata, e saiu assim por um erro de tradução com o nome de River Plate, mesmo que prata em inglês seja silver. Este time não é de um país qualquer é da Argentina, e sua origem remete à prata em latim. O que nos primórdios da sua história trouxe muito interesse, até porque la plata fez com que espanhóis grávidos de ganância subissem o rio de águas prateadas.
Também podemos falar de espelhos, aí a palavra a ser dita é especular como uma projeção imprecisa da realidade. Mas esta interpretação em particular fica um tanto sem sentido, caso o espelho seja plano, e sua base seja de prata, que é o metal que melhor reflete, assim temos a realidade duplicada, feita de luz, espetacular.
A nossa visão da realidade e o que ela reflete, me levou a uma homeopata, ela me disse que sempre estou em busca de demonstrar o meu próprio valor, pensou em Aurum metallicum, mas mudou de ideia, me orgulho de fazer parte do grupo de pessoas cujo senso de valor não é tão óbvio.
Conheci outras pessoas de prata, não são milionárias desta coisa chamada dinheiro, muitas delas achei por aí nas duas profissões que tive em minha vida, são bombeiros e professores, lutam pela vida a fora, têm algo de sacerdotes, compartilham seu calor.
Sim prata é excelente transmissor de calor.

Tudo isto caiu como um raio de prata sobre minha cabeça que andava perdida por aí, quando lembrei que o meu remédio é Argentum, justo hoje se completam 25 anos que casei com uma menina maravilhosa.  Nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar em minha vida tanto calor, é ela quem me cura, o espelho que reflete o melhor de mim, o rio que ao avançar para o interior engravidou minha vida, todo metal precioso, a sacerdotisa de minha espiritualidade, a nuvem argentina que precede o dia de sol, o time que incrivelmente deu liga, a palavra de amor que preenche o meu silêncio.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

PARA OS MEUS FILHOS
Queria para vocês um tudo, contudo...
nem sempre posso ser preciso quando mais precisam.
Ou dizer como lhe dar com as pessoas que cansam enquanto vocês alcançam.
Quais ritos devem resolver os conflitos.
Qual farsa disfarça, mesmo quando se desfaça.
Como agir diante do sonho distante.
O fazer de um laço ou cortar de um aço.
Não importa o que penso ou dispenso;
mal posso alertar: olhe o que escolhe.
Hoje o caminho lhes pertence e seus passos lhes dirão de suas vidas o compasso.

E ao partir levem meu inteiro coração, e este ilumine a cada ação.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

LOST

Naquela tarde de setembro, a aula tinha justo acabado e por um momento interminável eu não sabia para onde ir, qual ônibus tomar ou onde eu morava. Em 1984 a convivência com a minha mãe passava por uma dessas complicações que só poderia ser explicada pela Isabel Allende, eu também tinha me desentendido com a minha amada irmã. O resultado disto foi morar em cinco lugares diferentes em menos de quatro meses.
Eu era um cachorro perdido de uma mudança. Resolvi andar pelas ruas de Madureira enquanto a crise tinha tudo para se agravar, tentei lembrar quais casas não eram minhas, e para onde deveria ir.
Então algo fantástico aconteceu, abri a mochila e lá estava ela: a camisa verde da Le coq sportif. Lembrei quem eu era: Goleiro do Palmeirinhas.
Quem me conhece razoavelmente sabe qual time faz com que minha mente racional se transforme na coisa mais supersticiosa do mundo, mas saibam o famoso navegante português não foi meu primeiro amor.
Quatro anos antes era um cara desengonçado em uma busca alucinada por um tasquinho de popularidade e se (im)possível uma garota, justo elas que só queriam saber de mim nas vésperas das provas de matemática.
Tirando o meu time de geeks, isto é, os irmãos Marangon, o maluco do Renê e o Barney, não era muito fácil para mim fazer amigos. Caso você não é ou nunca foi um nerd, especialmente antes de The Big Bang Theory nos ter fornecido algum charme, não sabe do que estou falando. O nosso desajuste na sociedade nos leva ao refúgio dos livros, e este nos afasta do convívio social, em um ciclo que se funde na compreensão da dor e miséria de nossa própria existência.
Ai, conheci o Murilo, um moleque uns dois anos mais novo que eu, um talento enorme para o futebol perdido em um corpo franzino. O que tínhamos em comum era uma bola e uma vontade meio doida de treinar, treinar e treinar.
Um dia o Jurandir, um cara que sabia pegar no gol de verdade disse que não queria mais agarrar no horário ingrato de 8 da matina. Quase não acreditei no risco que o Murilo quis correr por mim: “Chama o Remo, ele dá conta”.
Milagrosamente sobrevivi ao primeiro jogo.
Naquele dia me juntei a Camelo, Paulinho, Marco Antônio, Zira, Rei, Chocolate, Maguila e Tatá. Inacreditável. Eu estava no time. Tínhamos torcida, tínhamos bandeira, éramos amados e odiados, ficamos mais de dois anos invictos, perdemos e ganhamos campeonatos.
Um time, um sonho uma lenda.
Se um dia você for a Guadalupe pergunte sobre os meninos que usavam camisas verdes.
Hoje de manhã soube que outros meninos com camisas verdes se sagraram campeões, um reconhecimento nascido pelo adversário que sabe não poder jogar contra um mito.

Hoje sou Chapecoense. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A AGULHA

Então Alicia Florrick teve que pagar uma multa de cinco mil dólares, pois ela sabia algo sobre seu cliente que não foi revelado para a outra parte.
Estranho, o pouco que sei sobre direito não se aplica aqui, pensava que o fato de que alguém não ter obrigação de gerar provas contra si mesmo fosse algo assim como universal. Imune as culturas jurídicas mundo a fora.
Mas, o que realmente me chamou atenção foi como ela conseguiu esconder o que importava dos adversários, ela ofereceu a eles TODAS informações que ela tinha à sua disposição, enterrando o que era relevante em uma pilha de data, tornando inescapável a metáfora de agulha em um palheiro.
Grande novidade! O quanto sabemos é inútil.
Não estou falando de lendas, histórias familiares, técnicas para jogar futebol, o jeito certo de empunhar um pincel, a expressão de sua mãe quanto está estressada, a cor da camisa que a sua namorada usava no primeiro encontro.
Não, não é isso. Cada uma destas inutilidades é essencial para dizer quem somos.
Mas quando você lê um jornal, procura num site ou google um texto, logo você se vê obrigado a saber de que forma um jogador matou sua amante, qual maquiagem a celebridade usa, qual é o corte de cabelo da artista.
Se este texto empurrasse as minhas mãos para o caminho do debate ele já nasceria morto.
Ninguém debate mais nada.
Só queremos forçar nossas opiniões sobre os outros, e ridicularizar quem nos opõe.
Prefiro o caminho mais reto (e publicável), quero apenas poder encontrar quais textos vão ser votados na Câmara de Deputados, sem que este tenha passado pela resenha de quem quer que seja, e copiado e colado, e recopiado e recolado, para depois re-recolado e re-recopiados aos milhares. Para que no caminho não haja acesso ao texto original.

Mas isso também está enterrado em um enorme palheiro. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Não

Não. Não me pergunte como emagrecer 20Kg em um mês.
Não. Aluno não quer dizer sem luz.
Não. Cadáver não vem de Carne dada aos vermes. Nem forró vem de for all.
Não. Não havia nenhum complô para o Brasil perder a copa contra a França, eles simplesmente eram melhores e o Zidane provou isto na copa seguinte.
Não. Aquele cara que se disse abduzido para Alfa Centauri é maluco mesmo.
Não. Você não vai perder as férias e o 13º salário no ano que vem.
Não. Eu não trago o seu amor de volta em três dias.
Não. Não há um método 100% seguro para ganhar na loteria.
Não. Comunista não come crianças no almoço (sem ambiguidades, por favor).
Não. Não matei Salomão Hayala, ou sequer a Odete Roitman, só tive vontade de matar as pessoas que só falavam disso.
Não. Ano-luz não é medida de tempo, se você se irritar com algo e responder não é ação-reação, peso não é o mesmo que massa...
Não. Sidney Magal não morreu. Elvis sim.
Não. Quem aumenta também inventa.
Enfim. Parem de reproduzir tudo que ouvem por aí sem pensar. Este mal hábito faz com que idiotices sem qualquer lógica se espalhem, e ganhem a força de verdades insofismáveis. Isso explica o porquê de um boato chegar antes da notícia. Que as pessoas sejam crucificadas antes de se saber o que, de fato, ocorre.
Isso acontece até mesmo no meio científico, só porque alguém publicou um estudo não o torna inquestionável, pergunte sempre: Qual é o contexto? Quais são as restrições? Quem financia?
Imagine então, uma mera publicação nas redes?
Bem, é isso está dito...
Não. Celacanto não provoca maremoto.


terça-feira, 28 de junho de 2016

TRIPALIUM


- Bom dia, gostaria de estar falando com o Sr. Iolau?
          Só pode ser pegadinha, pensei, eu tinha acabado de conversar com um amigo sobre os 12 trabalhos, cheguei a olhar ao redor para saber se tinha alguém filmando.
- Me desculpe, é engano.
- O Sr. Tem certeza? Estou verificando aqui nos arquivos... O Sr. Não conhece ninguém com esse nome?
          Cheguei a pensar em dizer que sim... O sidekick quase desconhecido do Hércules. Mas ao contrário de um amigo que A-D-O-R-A zoar com o pessoal de telemarketing, procuro trata-los com enorme respeito.
          Trabalho, Hércules que o diga, tem a mesma raiz que tripalium, que nada menos é que um instrumento de tortura romano. De fato, ao longo da história, uma série de ocupações têm um quê de sofrimento.
          Alguém tem que catar o lixo que jogamos despreocupados na rua. Alguém tem que passar oito horas por dia nas casas de banhos dos cemitérios. Alguém tem que desentupir o esgoto. Alguém tem que passar o dia inteiro em uma sala mal arejada, morrendo de tédio, diante de um computador com aquele headphone escroto, tentando te convencer a comprar algo supérfluo. Alguém tem que revisar os meus textos.
          Me identifico, explico tim-tim por tim-tim, que não sou eu essa pessoa, solicito que não ligue mais para o meu fixo...
- Bom dia, aqui e´ do banco XYX, gostaria de estar falando com o Sr. Iolau?
          De novo? Esse pessoal gosta de testar nossa paciência. Repito o processo todo, me identifico...
          Sabe aquela piadinha do dos cachorros Grapete e Repete? Pois é na manhã seguinte...
- Bom dia, gostaria de estar falando com o Sr. Iolau?
          Já estou com aquele jeitão de cavalo de guerra usando as roupinhas das princesas da Disney. Mesmo assim me identifico...
- Bom dia, gostaria de estar falando com o Sr. Iolau?
- Iolau é a cabeça do meu pau.

Engraçado, nunca mais me ligaram.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Subidas e descidas (ou o que ouço por aí)


Ei, ei, ei... Ô... Ó ai!..  Ó auê ai ó!

- Maizé, fala pru Cazalberto pra cumprá café... Na hora difazê sêle pergutá sé pra popó, diz qué pra pôpocupó.

- Mermão, taquissssiaqui ta muitu caru?
- Ih! Só nu tiru, e tá mais que um galu!

- Achá uma acha nois acha. Difici é achá uma acha quenum racha.


(vô nem pô meu nome nu final, sacanagi dizê qué dinhautoria)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Os inomináveis


Há um tipo que é considerado como capaz de uma das expressões mais vis e nefandas da humanidade, estranhamente o seu ato não é criminoso, pelo contrário, é incentivado.
Colaboracionista, ass kisser, capacho, lambe-botas... imagino que um montão de línguas mundo a fora tenha pelo menos um título nada lisonjeiro para o que chamamos de puxa saco.
Esta é uma figura simplesmente odiável, pois a mesma mão que puxa saco também pode puxar tapetes. Quem é capaz de bajular para subir na escada corporativa é capaz de muitas outras coisas.
Bem... nada contra ter um bom relacionamento com o seu chefe, na mesma medida que não é anormal buscar um relacionamento amistoso com a maioria dos seres humanos. (Sim! Maioria. Ser amigo de todo mundo além de falacioso nos coloca na posição de banana de plantão. Não podemos aceitar sossegados qualquer sacanagem ser coisa normal).
Só que as figuras capazes de dizer coisas como:
- Se espirrar no caminho saúde!
- O senhor é a segunda pessoa que eu mais gosto, e a primeira é quem o senhor indicar.
- Deixa eu ter o prazer de carregar a sua pasta?
- Quem não puxa saco, puxa carroça.
Ou outra coisa do gênero, há muito tempo já ultrapassaram as suas cotas de serem ridículos.
Um cara assim perde o seu próprio tempo, irrita a equipe e incomoda o chefe com assuntos irrelevantes. Ou ainda pior, vedam a quem decide a possibilidade de uma crítica sincera, impedindo a chance de correção atos indesejáveis, uma vez que sempre concordam. Então fica a pergunta... por que existem?
Faço esse questionamento acompanhando a visão de que um ser vivo assim permanece por uma questão utilitária, pois uma borboleta morre após procriar, e certas aranhas se alimentam do macho assim que eles cumprem sua missão. Um ancião, por exemplo, não é inútil, ele serve de cola às famílias, de suporte às tradições locais e é uma referência para as questões insolúveis.
Tendo tal visão como moldura resisti a uma resposta mais simplista de que os puxa sacos sobrevivem às custas de egos alheios, o que apesar de ser um tanto verdadeiro não explica o fenômeno de um modo mais abrangente. De qualquer modo, podemos classificar estes seres em duas tipologias, os que o fazem conscientemente, manipulando seus chefes e os outros que também têm seu próprio ego massageado pela proximidade do poder.
Isso! Poder é a chave.
Esses papagaios de pirata são indicadores de poder, e quanto mais alguém os têm mais poderoso se mostra na sociedade.

O poder sem medidas apodrece as pessoas, e é nesse mofo que esses serem inomináveis prosperam. 

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Mestre dos magos

MESTRES DOS MAGOS

Enquanto Patrick Rothfuss não se digna a escrever o terceiro livro de sua saga eu fico aqui jogando candy crush. Frustrante é pouco, já começo a pensar em uma solução violenta, algo como um sequestro com requintes de crueldade.
A coisa tá tão feia que até na discussão comparativa entre kvothe e Harry Potter já me meti. A única coisa que posso dizer sem sacanear muito quem ainda não leu é dizer que ambos são assim, assim estudantes universitários.
A grande diferença está no uniforme, enquanto este usa uma veste que o alinha aos seus colegas, aquele tem um modelo único, conquistado de um modo inusitado.
O fato é que com ou sem uniforme é comum sofrer abusos em escolas, ambos personagens passaram por isso, por pertencerem a classe social errada.
Entretanto, qual afinal é a classe certa? Sempre entendi o mundo como a divisão entre a casa grande e a senzala, só que no caso de quem estuda, há muitos que querem ser feitores. A escola, então, passa a ser objeto de clareamento de pele daqueles que não conseguem esconder o estigma dos grilhões em seus punhos.
Duvida? Quantas vezes; oh! Nobre leitor ristes daqueles que pronunciam “gaufo”? Ergo sum usastes a língua pátria e seus desígnios, na nobre arte da exclusão dos incultos que sequer sabem a correta nomenclatura de sua brilhante prataria.
Sem querer ser chato pra cacete, ou mais realista que o rei, reconheço a educação como meio legítimo de ascensão social, sob o risco de ser xingado de burguês. Ora, moro em área urbana, recebo  o suficiente para cair nas garras do Leão, tenho confortos que o trabalho me trouxe, então não posso me destacar incólume desta pecha.
O que me incomoda na verdade é perceber que usamos o conhecimento adquirido em escolas públicas como instrumento de estratificação, e uma marca indelével disto é a instituição do trote.
Toda vez que vejo alguém de Grifinória em uma esquina todo colorido, imagino que há um aprendiz de mago esperando para beber de graça.
Por outro lado, se alunos da Sonserina, se juntam para beber cerveja amanteigada em um bar em um certo dia do ano, pode acreditar que eles vão utilizar todo seu conhecimento para não pagar a conta a sair rindo do coitado do garçom. Afinal no mundo da magia todos sabem que há leis que não pegam nem por um decreto.
Agora se isso ocorre em uma escola como a Corvinal, há o risco de se formar uma nefasta hierarquia onde manda quem pode, obedece quem tem juízo. Só que neste caso o prejuízo pode se estabelecer entre aqueles que deveriam ter metas comuns, e inimizade onde deveria haver união. Todavia, a maior perda ocorre quando se formam capitães do mato, prontíssimos a reproduzir os ditames da casa grande, por puro temor ao senhor; e chibata na senzala por desprezo aos escravos.

Ainda bem que isso só acontece em Hogwarts.

domingo, 17 de janeiro de 2016

SEMPRE NO MEU CORAÇÃO
You are Always in my heart
when the sky starts to gray

E assim lá vai mais um texto que cravaria um zero redondíssimo caso fosse avaliado por uma banca padrão ENEM. Principalmente no que tange a coesão e coerência, o que é algo fundamental, pois assim como eu já disse em fios de palavras: “teço um texto que acontece, e no instante em que o faço em suas linhas me embaraço”. Até porque a tal da coerência está perdida em um neurônio meu que é super preguiçoso e a coesão depende da sua paciência em suprir as lacunas nascidas de minhas inconsistências... mesmo assim lá vai.
Quando corro tento me distrair com qualquer pensamento maluco que quica na minha cabeça. Hoje eu estava cantando uma história que envolveu dois personagens muito amados: minha mãe que era a alquimia de uma quase ausência de formação acadêmica combinada com uma inteligência ágil e incomum, e o Anthony sobre quem vou ter de explicar um pouco mais. 
Mas antes devo dizer que este texto explodiu na minha cara por uma dessas coincidências impossíveis, assim que peguei no celular vi a postagem de minha prima, Raquel, com a MESMÍSSIMA música, em uma versão de Antônio Marcos.
Voltando a descontruir o texto preciso contar como um inglês duro queria dar o golpe do baú numa brasileira, supreendentemente (só pra inglês ver), também dura. E lá estava ele perdido em Nova Friburgo sem grana para voltar para Inglaterra, sabendo falar em português somente cruzeiros, amigos e namorar.
Enquanto isso eu era Aspirante a oficial no Sexto Grupamento de Incêndio e estava com o firme propósito de não estudar nunca mais na minha vida. Só que mais por tédio do que por sede de conhecimento comecei a estudar a língua de Shakespeare, e (re)descobri os caras de Liverpool daquele momento 4ever.
Então, quando o Anthony pediu (sabe-se lá como) ao sentinela para conhecer o quartel algum incauto disse: “chama o Aspira que ele fala isso aí.
Foi uma comédia. Eu estava no CABS há duas semanas, se fosse em francês minha apresentação do quartel seria algo como... O carrè vermelhè de bomberè... Depois de uma hora da pior conversação da história da humanidade, e um montão de gestos iniciei uma amizade para a vida inteira o que me forçou a obter fluência em tempo recorde.
Três meses depois o levei para o consulado no Rio, e me vi doido com um gringo, não menos louco, naquela semana que lutamos para encaixar ele num avião. E como eu tinha que trabalhar alguém teria que ser baby-sitter.
Resumo da ópera: lá estavam Anthony e Maria Augusta sem nada em comum além de cigarros e café.
Chovia, então ela disse com pompa e circunstância: “when the sky starts to gray”, era tudo que precisava ser dito para tornar o momento mágico.

Não vi a cena, mas na memória uma ponte se construiu. Não há nada mais belo do que dois seres humanos que fazem o possível para se entender. 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Ronco.
Tô gordinho.
Falo demais.
Sou desajeitado.
Ansioso.
Acelerado.
Sou péssimo para contar piadas.
Apesar de conseguir pensar em assuntos de razoável complexidade, canso de cometer erros básicos, o que explica minha ortografia horrível e meus erros de conta.
Distraído a ponto de passar por alguém e não ver.
Tenho um ego do tamanho de um trem.
Dorminhoco.
Compulsivo.
E o maior de todos meus defeitos é juntar uma certa rapidez de raciocínio com uma sinceridade simplesmente desagradável. Algo assim como não vou dizer, não vou dizer, e... é. Já era.
Enfim, sei tanta coisa ruim sobre mim mesmo que fico imaginando como consegui ter por perto pessoas tão adoráveis, amigos leais, companheiros de trabalho, família e uma baita namorada.
Sei que qualquer desses defeitos seriam o suficiente para arruinar uma relação, basta usá-lo na dose errada.
Exempli gratia (ah tinha esquecido de dizer, sei duas ou três citações latinas e as uso pra mostrar que sou foda – ah, e ainda falo palavrão!) ser perfeccionista é muito bom em geral, só que quando a pessoa usa isso em uma entrevista de trabalho, para dizer que é seu ÚNICO defeito, sai de perto que o cara é chato pra...
Então como é que a gente atura uns aos outros? (faço perguntas retóricas).
O macete é o namoro, é nessa hora que aprendemos a usar polvilho para disfarçar chulé, bala de menta para o mau hálito e conversa mole para parecer bacana.
Só que não é essa a resposta, a gente atura porque ama.
Então quero agradecer a todo mundo que me atura aí pelo mundo afora, são pessoas que acham que vale a pena lhe dar com isso tudo, só porque gostam de mim.
Remo Noronha

PS. Sou meu fã.