O PODER E O VIOLINO
A máxima que atribuem ao Esperidião Amin de que poder
se toma com a esquerda e se toca com a direita, aqui adaptado pela minha falta
de gosto por ênclises e mesóclises, fica mais ou menos assim ao contar minha
trajetória: porrada se toma quando estamos na contramão.
Só lamento saber disso depois de tanta discussão infrutífera,
tanto desgaste, de tantas vezes ser acusado de ser radical de direita pelos
meus amigos mais à esquerda; e de radical de esquerda pelos meus amigos mais à
direita.
Esta trajetória não é, acreditem, uma forma de
procurar me dar bem nos círculos de poder. Me sinto, meio assim, como um Forest
Gump ao contrário. Sempre estou do lado errado da história.
A percepção que quero compartilhar é de que o poder
tem a capacidade de ensurdecer quem o detêm, especialmente quando o trono se
amolda a bunda do soberano. É neste momento que o ritual de beija mão vai apontar
quem são os queridinhos do rei, e ai daquele que ousar dizer que brioches não vão
matar a fome do povo.
Enquanto isso longe das cortes, vejo a substituição das
arenas onde pelejavam leões e cristãos por outra, virtual, onde se acusam mutuamente
de ser mortadelas e coxinhas.
O ódio instalado cultuado por frases prontas se
estabelece fortemente ao se transformar em ataques pessoais. Uma ideia é o
suficiente para que lhe grudem rótulos inomináveis. O fenômeno se agrava quando
se parte para a defesa de figuras de nossa recente história que claramente têm
discursos desencontrados de suas práticas.
Além disso, fazemos tudo com desesperada pressa, pois a
pesar de hoje haver a chance de passar tanta informação quanto se quiser preferimos
a rapidez dos bordões. O que não couber em 140 caracteres simplesmente não pode
ser dito.
Perdemos de longe a capacidade de discutir ideias e
respeitar as pessoas. É muito mais fácil ridicularizar. Somada a nossa tendência
de pertencer a um grupo sua vida fica mais fácil se você toma uma posição
extrema e exclui quem não concorda de suas redes sociais. O que, aos quarenta e
cinco do segundo tempo vai lhe colocar em um lado bem definido do campo do jogo
com um monte de zagueiros para lhe defender.
Paulo Afonso matou a charada, com seu jeito bem-humorado
de ver o mundo: “Remo, para com isso, os políticos brasileiros são ambidestros,
batem com a direita e a esquerda, cruzam, cabeceiam e fazem o gol, apitam
invalidando e depois correm para o meio de campo. Uma hora depois da confusão mandam
mudar o replay e tudo vai parar no tapetão.
Excelente. Me sinto assim as vezes: a direita dos de esquerda e a esquerda dos direitistas. Foi assim quando fiz mestrado em saúde pública na Fiocruz...
ResponderExcluirSe você é independente e raciocina por si só a sua vida é mais difícil.
ExcluirE a gente fica como o torcedor enganado ou como o vendedor de material pelas arquibancadas conseguindo um troco pra deixar tudo no supermercado e no botequim...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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