domingo, 12 de fevereiro de 2017

O PODER E O VIOLINO

A máxima que atribuem ao Esperidião Amin de que poder se toma com a esquerda e se toca com a direita, aqui adaptado pela minha falta de gosto por ênclises e mesóclises, fica mais ou menos assim ao contar minha trajetória: porrada se toma quando estamos na contramão.
Só lamento saber disso depois de tanta discussão infrutífera, tanto desgaste, de tantas vezes ser acusado de ser radical de direita pelos meus amigos mais à esquerda; e de radical de esquerda pelos meus amigos mais à direita.
Esta trajetória não é, acreditem, uma forma de procurar me dar bem nos círculos de poder. Me sinto, meio assim, como um Forest Gump ao contrário. Sempre estou do lado errado da história.
A percepção que quero compartilhar é de que o poder tem a capacidade de ensurdecer quem o detêm, especialmente quando o trono se amolda a bunda do soberano. É neste momento que o ritual de beija mão vai apontar quem são os queridinhos do rei, e ai daquele que ousar dizer que brioches não vão matar a fome do povo.
Enquanto isso longe das cortes, vejo a substituição das arenas onde pelejavam leões e cristãos por outra, virtual, onde se acusam mutuamente de ser mortadelas e coxinhas.
O ódio instalado cultuado por frases prontas se estabelece fortemente ao se transformar em ataques pessoais. Uma ideia é o suficiente para que lhe grudem rótulos inomináveis. O fenômeno se agrava quando se parte para a defesa de figuras de nossa recente história que claramente têm discursos desencontrados de suas práticas.
Além disso, fazemos tudo com desesperada pressa, pois a pesar de hoje haver a chance de passar tanta informação quanto se quiser preferimos a rapidez dos bordões. O que não couber em 140 caracteres simplesmente não pode ser dito.
Perdemos de longe a capacidade de discutir ideias e respeitar as pessoas. É muito mais fácil ridicularizar. Somada a nossa tendência de pertencer a um grupo sua vida fica mais fácil se você toma uma posição extrema e exclui quem não concorda de suas redes sociais. O que, aos quarenta e cinco do segundo tempo vai lhe colocar em um lado bem definido do campo do jogo com um monte de zagueiros para lhe defender.

Paulo Afonso matou a charada, com seu jeito bem-humorado de ver o mundo: “Remo, para com isso, os políticos brasileiros são ambidestros, batem com a direita e a esquerda, cruzam, cabeceiam e fazem o gol, apitam invalidando e depois correm para o meio de campo. Uma hora depois da confusão mandam mudar o replay e tudo vai parar no tapetão.

4 comentários:

  1. Excelente. Me sinto assim as vezes: a direita dos de esquerda e a esquerda dos direitistas. Foi assim quando fiz mestrado em saúde pública na Fiocruz...

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    1. Se você é independente e raciocina por si só a sua vida é mais difícil.

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  2. E a gente fica como o torcedor enganado ou como o vendedor de material pelas arquibancadas conseguindo um troco pra deixar tudo no supermercado e no botequim...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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