Tudo que preciso na vida é uma praia e uma água de coco.
Mas quando as tiver, tudo isso me parecerá pouco.
domingo, 19 de novembro de 2017
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
REDAÇÕES
Dois
fatos recentes sobre a redação do ENEM me chamaram a atenção neste final de
semana, o primeiro foi a controversa decisão do Supremo Tribunal de impedir que
a nota zero fosse cravada para quem opina de maneira ao menos detestável. Isto
me põe nas cordas do ringue quanto à possibilidade de ter uma opinião definitiva.
Se por um lado certas falas não contribuem em nada para a construção de seja do
que for, o direito de ter uma opinião (despreparada, estranha, destrutiva ou simplesmente
escrota) é um dos pilares do que deveria ser uma democracia. Mas não é disso
que eu quero falar.
O
segundo foi o tema escolhido, que fala de inclusão, de respeito ao próximo e de
solidariedade. Penso que a banca deveria ter sido um pouquinho mais genérica. Afinal
o jovem que não teve a oportunidade de conviver com alguém que tem uma certa dificuldade poderia ser prejudicado lá no final da redação quando se espera dele ser um
tanto especifico, como requer os bons manuais espalhados aos quatro ventos.
Sobre
surdez só tenho uma história interessante para contar. Tenho um amigo que é tão
chato quando joga bola que conseguiu ser expulso por um árbitro surdo. O motivo
foi revelado pelo gesto de estender a mão direita para o ar brandindo um cartão vermelho
e a esquerda juntar os dedos intermitentemente perto do ouvido mostrando que o Izo
estava falando demais.
Só
que a surdez que mais incomoda deveria sim ser motivo de exclusão. Se trata da
surdez política. Esta tem os sintomas da vaidade e do benefício pessoal em
detrimento do interesse público. Se revela quase tão instantaneamente quando da
assunção no cargo, já que poder e vinho são dois soros da verdade. Mas também não
é disso que eu quero falar.
Sobre
lidar com alguém especial mais próximo eu lembraria da minha linda aluna, a
Cris, a quem sempre chamei de minha pequena vascaína.
Sim!
É sobre ela que quero falar.
Quando
recebi pela primeira vez uma prova de suas mãos vi dois fatos reveladores: um
coração belamente desenhado sobre o meu nome e todas as questões resolvidas
como se fossem regras de três.
Quem
não é iniciado em física ou nunca teve aulas comigo provavelmente não sabe o
que sempre digo: Meus caros antes mesmo de chutar uma resposta, pense se uma
grandeza é linear, quadrática ou cúbica. Se você dobrar as dimensões de um cubo
suas arestas vão dobrar, sua área quadruplicar e seu volume será multiplicado
por oito.
No
dia de entregar a prova, entretanto, lá estava com a camisa do meu time sob o uniforme
da escola. Ela me deu um abraço interminável e me disse que era uma boa aluna e
esperava por uma nota boa.
Sobre
uma perspectiva simplista ela não havia atingido os objetivos do curso, não demonstrando
o entendimento pleno do que é física.
Mas
vou te contar um segredo desde que você não divulgue para os meus alunos: eu também
não sei.
Só
sei que desenhei dez corações pertinho do nome dela, que foi uma das pessoas
que mais me ensinou o que é ser professor. Ou melhor, o que é ser gente.
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
e nem tô aí
Acabei
de assistir o final de uma palestra brilhante de um baita educador. Didática
deve rimar com amor, com dedicação com colaboração.
Concordo, estamos mais preparados para
avaliar, medir, estabelecer quem são aqueles que têm e os que não têm o tal do mérito
para subir os degraus das escadas corporativas.
Isso
é profundamente válido para as crianças, que aguardam acolhimento e atenção. Meu
nicho de trabalho é outro, meu barato são adolescentes e jovens adultos. Estes
caras merecem saber que a sua vida não se define por uma nota ruim, ou na repetição
do martírio de mais um ano de ENEM.
Concomitantemente
já que é para falar de vestibular uma imagem não consegue escapar de minha
cabeça doída e doida. Todo ano choro de rir, rio de chorar; mas no fim das
contas o que chega é a depressão ao ver a mesma reportagem sobre o aluno que só
chega após o portão fechado.
Meu
Deus do céu e da Terra, mas será o Benedito! Será que esta criatura não consegue
chegar na hora certa, pelo menos no que poderia ser o dia mais importante de
sua vida?
Só
compreendi o que realmente acontece quando vi o novo filme do Thor (spoiler
alert), no qual o Ragnarok seria resolvido com os maiores inimigos de Asgard se
destruindo mutuamente. Caraca! Quem sabe mais do que eu sobre a mitologia
nórdica em meu vasto conhecimento derivado da leitura dos antigos gibis da
Marvel me corrija! Pelo que imagino este evento é o fim do mundo, o motivo pelo
qual Odin aceitou perder um olho. Um vale de lágrimas, corpos espalhados no chão,
desespero e fim. E Fim. E fim.
Tudo
bem eu acho o lance hollywoodiano mó barato! Mas não é o que eu esperava.
Do
mesmo modo eu não esperava que fizessem uma propaganda com o goleiro francês tomando
gol de pênalti de todos os brasileiros frustrados pela copa de 98.
Nem
mesmo esperava ouvir uma música sertaneja na qual a mulher traída se mostra tão
nobre a ponto de dar uma grana para seu futuro ex pagar uma prostituta.
O
que estes eventos têm em comum? Um jeito estranho de transformar uma tragédia em
algo mais palatável.
Afinal
quem disse que eu perdi alguma coisa? Essas uvas não me interessavam mesmo! Isso
não foi bem assim. A culpa não é minha. Não fui eu quem errei. Não é tão ruim.
O Brasil só perdeu por que vendeu a copa (Zidane esculachou de novo oito anos
depois? Quem é Zidane?).
O
que esquecemos é que desvalorizar as derrotas imediatamente fazem o contrário. Assim
como só entendemos a grandeza de alguém quando nós o perdemos.
As
crianças devem ser protegidas da competição selvagem e devem ser nutridas para
passo a passo aprender a lidar com um mundo feroz, que vai exigir que um piloto
de avião ou um médico não podem errar nunca. Que um errinho de conta de nada
derruba uma ponte, um marujo atrasado para pegar um navio é preso por deserção.
Enfim,
em algum momento o cara é (ou deveria ser) sacodido pela realidade na qual a
gazela e o leão tem que acordar cedo e correr um bocado, sob a pena de morrer
seja atacado ou de fome.
Enquanto
eu não consigo entender todos os aspectos desse processo, que tal fazer uma
vaquinha para dar um despertador para um vestibulando desavisado?
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