VILÕES
Quando
vejo uma trama o que logo observo é o porte do vilão. Caso ele seja
linear, simplório ou algo que podemos definir nada mais do que “do mal”, me
bate a certeza de que a história não vai ser grande coisa.
Por
outro lado, Mr. Smith de Matrix é
simplesmente invencível, multiplicável, ágil e articulado. Então, o desfecho
lógico é dito pelo oráculo: Neo pode até ser bonitinho e legal, mas vai ter que
esperar por outra vida.
Abrindo
um par de parênteses do tamanho do mundo, cabe lembrar que o oráculo está longe
de ser um vilão, assim como o telefone do filme Atração fatal, trata-se apenas de um mensageiro. Neutro e impiedoso
como a verdade, inescapável como a gravidade para quem é defenestrado,
inexorável como o destino (favor não confundir com o inimigo do quarteto
fantástico).
Smith
além de carregar o nome de outro vilão já citado, brilha na nova série da Netflix
anunciando precocemente que Perdidos no
Espaço (juro que não haverá nenhum spoiler significativo – portanto pode
continuar lendo – não sou tão “do mal” assim) se posicionará anos-luz
(posicionará mesmo – ano-luz é medida de distância e não de tempo!) à frente da
série homônima, clássica e insossa.
Boas
tramas, em geral, trazem personagens complexos, capazes de grandes erros
mesclados com atitudes magníficas. Mas a vilã se posiciona muito além das linhas
vermelhas que determinam uma espécie de doença mental oriunda de total falta de
empatia.
Bem
que eu poderia dizer a ela: “você é uma pessoa horrível, com pitadas de
psicopatia”, mas há algo que não consegui definir muito bem, aquele velho
tempero que nos faz amar odiar uma personagem egoísta e ardilosa.
Sua
atuação remete à Éris, a deusa da discórdia, capaz de deixar uma maçã perdida (não no espaço, mas no
Olimpo) com a seguinte inscrição: “Pertence à mais bela das deusas”. As consequências
foram devastadoras, refletidas em uma guerra quase interminável. Isso só porque esqueceram de
convidar a tal da mexeriqueira para a festa.
Qual
seria a alternativa? Bem, esta fica para depois. Outras metáforas dizem
claramente que certas coisas não têm jeito, basta lembrar a história do sapo
que aceitou levar um dependente escorpião nas costas para atravessar um rio. Uma
picada e os dois morrem, pois é difícil fugir de sua própria natureza.
Quanto
a mim, me despeço dizendo que tenho estado bem mais tranquilo, evitando
confusão a todo custo até a hora que um baba... estaciona em fila dupla
prendendo meu carro, por se achar dono da rua. Mas assim como a senhora Smith
devo declarar: “eu não sou o vilão desta história”.
Sim, o vilão egoísta, que pensa que o mundo gira ao redor do seu Umbigo.
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