quarta-feira, 2 de maio de 2018


VILÕES

Quando vejo uma trama o que logo observo é o porte do vilão. Caso ele seja linear, simplório ou algo que podemos definir nada mais do que “do mal”, me bate a certeza de que a história não vai ser grande coisa.
Por outro lado, Mr. Smith de Matrix é simplesmente invencível, multiplicável, ágil e articulado. Então, o desfecho lógico é dito pelo oráculo: Neo pode até ser bonitinho e legal, mas vai ter que esperar por outra vida.
Abrindo um par de parênteses do tamanho do mundo, cabe lembrar que o oráculo está longe de ser um vilão, assim como o telefone do filme Atração fatal, trata-se apenas de um mensageiro. Neutro e impiedoso como a verdade, inescapável como a gravidade para quem é defenestrado, inexorável como o destino (favor não confundir com o inimigo do quarteto fantástico).
Smith além de carregar o nome de outro vilão já citado, brilha na nova série da Netflix anunciando precocemente que Perdidos no Espaço (juro que não haverá nenhum spoiler significativo – portanto pode continuar lendo – não sou tão “do mal” assim) se posicionará anos-luz (posicionará mesmo – ano-luz é medida de distância e não de tempo!) à frente da série homônima, clássica e insossa. 
Boas tramas, em geral, trazem personagens complexos, capazes de grandes erros mesclados com atitudes magníficas. Mas a vilã se posiciona muito além das linhas vermelhas que determinam uma espécie de doença mental oriunda de total falta de empatia.
Bem que eu poderia dizer a ela: “você é uma pessoa horrível, com pitadas de psicopatia”, mas há algo que não consegui definir muito bem, aquele velho tempero que nos faz amar odiar uma personagem egoísta e ardilosa.
Sua atuação remete à Éris, a deusa da discórdia, capaz de deixar uma maçã perdida (não no espaço, mas no Olimpo) com a seguinte inscrição: “Pertence à mais bela das deusas”. As consequências foram devastadoras, refletidas em uma guerra quase interminável. Isso só porque esqueceram de convidar a tal da mexeriqueira para a festa.
Qual seria a alternativa? Bem, esta fica para depois. Outras metáforas dizem claramente que certas coisas não têm jeito, basta lembrar a história do sapo que aceitou levar um dependente escorpião nas costas para atravessar um rio. Uma picada e os dois morrem, pois é difícil fugir de sua própria natureza.
Quanto a mim, me despeço dizendo que tenho estado bem mais tranquilo, evitando confusão a todo custo até a hora que um baba... estaciona em fila dupla prendendo meu carro, por se achar dono da rua. Mas assim como a senhora Smith devo declarar: “eu não sou o vilão desta história”.  

Um comentário:

  1. Sim, o vilão egoísta, que pensa que o mundo gira ao redor do seu Umbigo.

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