segunda-feira, 11 de junho de 2018


Sexto GI
Somos bombeiros. Bravos Guardiões
de Nova Friburgo, em meu coração
Com um brado heroico vou o fogo exterminar
Vidas alheias e riquezas a salvar.

Minha relação com o quartel de bombeiros de Nova Friburgo começou com um desses acasos incompreensíveis. O fato é que eu havia sido o terceiro colocado de minha turma e isto me oferecia um amplo direito à escolha. Sabia que os dois primeiros queriam ir respectivamente para o Meier e Copa. Então, passei o ano inteiro me preparando para servir na Barra, onde estava o Grupamento de Busca e Salvamento.
Na semana seguinte à formatura recebemos uma folha na qual deveríamos escolher três quartéis e a minha segunda opção foi Jacarepaguá. Mas... o que mais iria escolher? Ora, eu acabara de vir de um fim de semana INCRÍVEL em Lumiar, com direito a música de Beto Guedes e tudo. Então, perguntei a um amigo qual era o quartel mais próximo. Neste momento em que você está lendo, fica claro que nenhuma das unidades da zona oeste abriram vaga.
Hoje, todavia, não quero contar as histórias do que fiz lá. Como canso de dizer, minhas derrotas falam de mim muito mais do que as minhas vitórias.
Este filme foi remasterizado por um zap-zap do Grandini. Lembramos que um dia eu lhe redigi um baita elogio que não deixaram publicar no boletim. Fiquei puto naquela época, mas hoje lembro da história com doçura. Afinal, foi mais um motivo para comemorar o fato de que bombeiros como ele devem ser elogiados sempre.
Também não pude ser campeão das provas profissionais com a minha tropa no ano em que eu era aspirante e, portanto, responsável pela instrução. E pé frio que sou... resumindo, voltamos com a taça de prata. Naquele dia, eu falei para o meu comandante que voltaria para buscar a de campeão no ano seguinte. Só que, por uma dessas voltas do destino, fui transferido para outra seção, mas pelo menos tive o prazer de ver meu time dar a volta por cima.
Também não podia modificar o salário deles ou o meu mesmo, éramos pobres, pobres, pobres de marré, marré, marré. Só para ter um parâmetro meu salário bruto seria comparável preço de uma geladeira compacta.
Também não podia lhes dar fardas novas, o almoxarifado guardava apenas duas mudas para uma emergência e mal caberiam em um anão.
Também não podia lhes oferecer equipamentos no estado da arte. Só que o cuidado que eles tinham com o que tinham era comovente. A Auto Escada Mecânica com décadas e décadas era testemunha desse amor.
Também não podia lhes dar cortesias para eventos que varias outras instituições conseguiam. Quando a tropa me questionava, eu costumava dizer que outras pessoas tinham o que não temos, porque faziam o que não fazemos. Mais uma dessas frases tiradas da sabedoria popular que minha mãe sempre insistiu em me ensinar.
Havia, felizmente, outras coisas que eu podia fazer. Por exemplo, toda vez que as escolas vinham para visitar o quartel, eu chamava o pessoal que ralava e pedia para as crianças para aplaudir os bombeiros. E quando o socorro voltava, eu dizia ao motorista do Auto Rápido que passasse devagar na praça Getúlio Vargas, como se fosse um desfile fora de época, o que também os fazia estufar o peito.
Havia algo mais que eu podia fazer, não estava listado nos valores óbvios como encher alguém de presentes ou dinheiro. Aquele episódio do Grandini me ensinou algo valioso. Desde então, toda vez que um cara fazia algo extraordinário, eu fazia questão de pôr todo o quartel em forma para elogiar na frente de todos. Isso eu podia fazer.
Neste momento, um simples aperto de mão era tudo que eu precisava para fazer homens de valor inestimável chegar às lágrimas.

Remo Noronha

3 comentários:

  1. Com um texto primoroso, podemos descobrir o que ser um profissional íntegro, que sempre trabalhou com muitas adversidade e mesmo assim pode ser considerado um vitorioso.

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  2. Outra coisa que podia fazer: dar umas aulas extras para um bombeiro que prwtendia buscar novos horizontes. Ele buscou e, com tua parcela de ajuda, atingiu o objetivo. Obrigado Amigo Professor Coronel REMO!

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  3. Maravilhoso. Porque na verdade, para nós, os librianos, o reconhecimento é o que mais nos deixa feliz. Parabéns. Belíssimo texto.

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