Sexto
GI
Somos
bombeiros. Bravos Guardiões
de
Nova Friburgo, em meu coração
Com
um brado heroico vou o fogo exterminar
Vidas
alheias e riquezas a salvar.
Minha
relação com o quartel de bombeiros de Nova Friburgo começou com um desses
acasos incompreensíveis. O fato é que eu havia sido o terceiro colocado de
minha turma e isto me oferecia um amplo direito à escolha. Sabia que os dois
primeiros queriam ir respectivamente para o Meier e Copa. Então,
passei o ano inteiro me preparando para servir na Barra, onde estava o Grupamento
de Busca e Salvamento.
Na
semana seguinte à formatura recebemos uma folha na qual deveríamos escolher
três quartéis e a minha segunda opção foi Jacarepaguá. Mas... o que mais iria
escolher? Ora, eu acabara de vir de um fim de semana INCRÍVEL em Lumiar, com
direito a música de Beto Guedes e tudo. Então, perguntei a um amigo qual era o
quartel mais próximo. Neste momento em que você está lendo, fica claro que
nenhuma das unidades da zona oeste abriram vaga.
Hoje,
todavia, não quero contar as histórias do que fiz lá. Como canso de dizer, minhas derrotas falam de mim muito mais do que as minhas vitórias.
Este
filme foi remasterizado por um zap-zap do Grandini. Lembramos que um dia eu lhe
redigi um baita elogio que não deixaram publicar no boletim. Fiquei puto
naquela época, mas hoje lembro da história com doçura. Afinal, foi mais um
motivo para comemorar o fato de que bombeiros como ele devem ser elogiados
sempre.
Também
não pude ser campeão das provas profissionais com a minha tropa no ano em que eu
era aspirante e, portanto, responsável pela instrução. E pé frio que sou... resumindo,
voltamos com a taça de prata. Naquele dia, eu falei para o meu comandante que
voltaria para buscar a de campeão no ano seguinte. Só que, por uma dessas voltas
do destino, fui transferido para outra seção, mas pelo menos tive o prazer de
ver meu time dar a volta por cima.
Também
não podia modificar o salário deles ou o meu mesmo, éramos pobres, pobres,
pobres de marré, marré, marré. Só para ter um parâmetro meu salário bruto seria
comparável preço de uma geladeira compacta.
Também
não podia lhes dar fardas novas, o almoxarifado guardava apenas duas mudas para
uma emergência e mal caberiam em um anão.
Também
não podia lhes oferecer equipamentos no estado da arte. Só que o cuidado que
eles tinham com o que tinham era comovente. A Auto Escada Mecânica com décadas
e décadas era testemunha desse amor.
Também
não podia lhes dar cortesias para eventos que varias outras instituições
conseguiam. Quando a tropa me questionava, eu costumava dizer que outras pessoas
tinham o que não temos, porque faziam o que não fazemos. Mais uma dessas frases
tiradas da sabedoria popular que minha mãe sempre insistiu em me ensinar.
Havia,
felizmente, outras coisas que eu podia fazer. Por exemplo, toda vez que as
escolas vinham para visitar o quartel, eu chamava o pessoal que ralava e pedia
para as crianças para aplaudir os bombeiros. E quando o socorro voltava, eu
dizia ao motorista do Auto Rápido que passasse devagar na praça Getúlio Vargas,
como se fosse um desfile fora de época, o que também os fazia estufar o peito.
Havia
algo mais que eu podia fazer, não estava listado nos valores óbvios como encher
alguém de presentes ou dinheiro. Aquele episódio do Grandini me ensinou algo
valioso. Desde então, toda vez que um cara fazia algo extraordinário, eu fazia
questão de pôr todo o quartel em forma para elogiar na frente de todos. Isso eu
podia fazer.
Neste
momento, um simples aperto de mão era tudo que eu precisava para fazer homens de
valor inestimável chegar às lágrimas.
Remo Noronha
Com um texto primoroso, podemos descobrir o que ser um profissional íntegro, que sempre trabalhou com muitas adversidade e mesmo assim pode ser considerado um vitorioso.
ResponderExcluirOutra coisa que podia fazer: dar umas aulas extras para um bombeiro que prwtendia buscar novos horizontes. Ele buscou e, com tua parcela de ajuda, atingiu o objetivo. Obrigado Amigo Professor Coronel REMO!
ResponderExcluirMaravilhoso. Porque na verdade, para nós, os librianos, o reconhecimento é o que mais nos deixa feliz. Parabéns. Belíssimo texto.
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