Há um tal de Deus ex machina, um recurso literário comum,
por exemplo no teatro grego, e saber disso teria me poupado um montão de
lágrimas quando eu era moleque. A coisa funciona assim: o herói é posto em uma situação
impossível para na ultimíssima volta do ponteiro ser salvo por algo que nada
tem em comum com toda a trama.
Não é, pelo menos para mim, o melhor tipo de literatura. Sou
mais adepto de caras como o Jorge Amado que põe as personagens em um tabuleiro
qualquer e a partir de uma dinâmica (histórica, social), vão se comportar de um
modo coerente com sua estrutura interna, aí teremos algo chamado
verossimilhança.
Então você me pergunta, se eu não estou confundindo com o
mundo real.
Não! Não! E não!
O mundo real é louco!
Só a arte pode ser coerente passo a passo, isto se não for a
história de um super-herói japonês que passa a série toda apanhando e só vai
vencer depois de uma luz vermelha se acender. O problema é que nessa altura do
campeonato eu já teria ido embora chorando copiosamente, sem saber do final (impossível
e) feliz.
Perdoem-me o clichê,
mas se não está legal é porque a história não acabou.
Mesmo assim não tem nada errado em sair chorando no meio do filme. Que as
lágrimas façam o seu papel de expurgar o veneno, mas milagres acontecem.
Se você tem dúvida disto jogue uma semente no chão que algo
inacreditável pode acontecer.
Mesmo que a gente demore a crer, o fato é que todo o baobá,
já foi um dia, uma pequenina semente.