sábado, 28 de março de 2020


JORNADA NAS ESTRELAS
Spoiler alert
leia depois de ver o último episódio de Picard

Chorei duas vezes a morte do meu personagem favorito: a segunda foi junto com todo mundo na despedida de Leonard Nimoy; a primeira foi no escurinho do cinema, quando vi a partida do oficial de ciências. Cena antológica! As pernas bambeando diante de seu melhor amigo ao recitar, com lógica, a ideia de que um deve se sacrificar pelo todo.
A nota cômica fica por conta do fato que eu não conseguia parar de chorar. Quando entrei no ônibus uma senhora me perguntou o que havia ocorrido. Respondi: o Mr. Spock morreu! Ela replicou: é o seu cachorro? Sem saber o que responder, acenei com a cabeça. Então, recebi um abraço que durou até chegar no Meier.
Hoje chorei novamente, compulsivamente, por um belo ator e um personagem morreram no mesmo dia: Picard na ficção e o doce Daniel Azulay.
Dois velhos, justo quando a vida deles é declarada como descartável diante de necessidades econômicas.
É só ficção você vai me dizer. Será? Permita-me divagar um pouco com duas histórias:

- A atriz que fazia o papel da Tenente Uhura conversou com ninguém menos do que Martin Luther King e lhe falou de sua intenção de desistir do papel devido ao seu ridículo retorno financeiro. Todavia, o pastor lhe respondeu que ela tinha enorme responsabilidade com as jovens negras, que viviam a esperança de um futuro no qual a cor da pele delas não importaria. Ao voltar a gravar Nichelle Nichols contou ao Gene Roddenberry que se emocionou ao perceber que o ícone dos direitos civis entendera a sua intenção.

- Quando foram fazer a versão mais moderna da Enterprise não havia grana o suficiente para os cenários futuristas. Um produtor, em uma tentativa desesperada levou a equipe a um laboratório de astrofísica na impossível tentativa de convencer os cientistas de gravarem lá. Quando o diretor recebeu a proposta absurda chamou todo staff e pediu que as palavras fossem repetidas. O produtor, envergonhado, se desculpou e repetiu a proposta desanimado. A resposta foi dada com um sim épico emoldurado por vários sinais de prosperidade Vulcano. Todos eram fãs!
Fato. Não sou o único maluco que ama a série e foi incentivado a estudar por ela.
Então, lhes digo com a mesma veemência. A resposta vem da arte. É ela que diz o real valor dos velhos como guardiões de nossa sociedade. Picard, em especial, simboliza tudo o que queremos ver em um líder, que faz da coragem e ética o norte para tomar as decisões coerentes. É óbvio, que ele está disposto a se sacrificar para dar uma oportunidade a outros. Quem tem comando de verdade não tem apego pela cadeira.
Você pode achar que é exagero meu, mas esta série sempre me ajudou a manter a fé de que encontraremos um caminho, apesar da ignorância espalhada intencionalmente aos quatro ventos.
Nestes tempos sombrios que se aproximam arte mais uma vez traz uma alternativa.
Me despeço lhe desejando vida longa e próspera. Porém, mesmo que assim não ocorrer, que seja uma vida rica de valores que ultrapassem a mesquinhez e o egocentrismo. Afinal todos os caminhos levam, inexoravelmente, para a nossa jornada final. O que pode ser diferente é o que faremos até chegar lá.

2 comentários:

  1. Sim choraremos por nossos ídolos, irmãos,parentes.vida que segue. Que Deus nos abençoe com sua imensa misericórdia.

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