JORNADA
NAS ESTRELAS
Spoiler
alert
leia
depois de ver o último episódio de Picard
Chorei
duas vezes a morte do meu personagem favorito: a segunda foi junto com todo
mundo na despedida de Leonard Nimoy; a primeira foi no escurinho do cinema, quando
vi a partida do oficial de ciências. Cena antológica! As pernas bambeando diante
de seu melhor amigo ao recitar, com lógica, a ideia de que um deve se
sacrificar pelo todo.
A
nota cômica fica por conta do fato que eu não conseguia parar de chorar. Quando
entrei no ônibus uma senhora me perguntou o que havia ocorrido. Respondi: o Mr.
Spock morreu! Ela replicou: é o seu cachorro? Sem saber o que responder, acenei
com a cabeça. Então, recebi um abraço que durou até chegar no Meier.
Hoje
chorei novamente, compulsivamente, por um belo ator e um personagem morreram no
mesmo dia: Picard na ficção e o doce Daniel Azulay.
Dois
velhos, justo quando a vida deles é declarada como descartável diante de
necessidades econômicas.
É
só ficção você vai me dizer. Será? Permita-me divagar um pouco com duas
histórias:
- A atriz que fazia o papel da Tenente Uhura conversou com ninguém menos
do que Martin Luther King e lhe falou de sua intenção de desistir do papel devido
ao seu ridículo retorno financeiro. Todavia, o pastor lhe respondeu que ela
tinha enorme responsabilidade com as jovens negras, que viviam a esperança de um
futuro no qual a cor da pele delas não importaria. Ao voltar a gravar Nichelle
Nichols contou ao Gene Roddenberry que se emocionou ao perceber que o ícone dos
direitos civis entendera a sua intenção.
- Quando foram fazer a versão
mais moderna da Enterprise não havia grana o suficiente para os cenários
futuristas. Um produtor, em uma tentativa desesperada levou a equipe a um
laboratório de astrofísica na impossível tentativa de convencer os cientistas
de gravarem lá. Quando o diretor recebeu a proposta absurda chamou todo staff e
pediu que as palavras fossem repetidas. O produtor, envergonhado, se desculpou
e repetiu a proposta desanimado. A resposta foi dada com um sim épico emoldurado
por vários sinais de prosperidade Vulcano. Todos eram fãs!
Fato.
Não sou o único maluco que ama a série e foi incentivado a estudar por ela.
Então,
lhes digo com a mesma veemência. A resposta vem da arte. É ela que diz o real
valor dos velhos como guardiões de nossa sociedade. Picard, em especial,
simboliza tudo o que queremos ver em um líder, que faz da coragem e ética o norte
para tomar as decisões coerentes. É óbvio, que ele está disposto a se
sacrificar para dar uma oportunidade a outros. Quem tem comando de verdade não tem
apego pela cadeira.
Você
pode achar que é exagero meu, mas esta série sempre me ajudou a manter a fé de
que encontraremos um caminho, apesar da ignorância espalhada intencionalmente
aos quatro ventos.
Nestes
tempos sombrios que se aproximam arte mais uma vez traz uma alternativa.
Me
despeço lhe desejando vida longa e próspera. Porém, mesmo que assim não ocorrer,
que seja uma vida rica de valores que ultrapassem a mesquinhez e o egocentrismo.
Afinal todos os caminhos levam, inexoravelmente, para a nossa jornada final. O que pode ser diferente é o que faremos até chegar lá.
Sim choraremos por nossos ídolos, irmãos,parentes.vida que segue. Que Deus nos abençoe com sua imensa misericórdia.
ResponderExcluirUm primor!
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