sábado, 28 de novembro de 2020

HATERS

O primeiro contato emocional que tive com a palavra hate (odiar em inglês) ocorreu quando eu lecionava em um curso. Havia uma aluna com comportamento disruptivo que insistia em falar em português o tempo todo. Para tornar curta uma história longa... ela saiu da sala gritando comigo: “I hate you! I hate you! I hate you!”. Como não constumava levar para casa respondi: “Well, you really know how to speak in English when you want to”.

Hoje, esta palavra é usada para descrever pessoas que buscam a fama com a seguinte técnica:

- Escolha alguém relevante;

- Fale algo absurdo e degradante;

- Bata boca o máximo que puder; e

- Parabéns você acabou de lacrar ou mitar (aqui a escolha da palavra vai depender em qual ponta ideológica você se encontra).

Em resumo, acabou aquela história de que pode haver luz depois de um debate. Isto já se foi há muito. A ideia é ter a palavra final de preferência destruindo a reputação do inimigo. Coisa de adolescente.

Como me meti a dar aulas pela internet já recebi algumas fatias desse bolo. No começo, os dislikes me incomodavam, agora entendo que eles fazem parte do show, pois cem por cento de aprovação somente é obtido  por aqueles cujo público se restringe a robôs.

Como o primeiro hater a gente não esquece ficou gravado o “estudar é para otário”. Só que depois de alguma reflexão cheguei à conclusão de que meu interlocutor está certo. Quem estuda acaba aceitando a responsabilidade de seus resultados e vai acabar sendo mais um pagador de contas e impostos. Não é uma vida para quem é malandro.

Adoraria ter uma proposta razoável que não dependesse tanto de uma ficção de minha cabeça doida e doída. Os clássicos propunham o meio termo, entretanto o caminho do centro deixou de ser razoável. Por aqui o centro virou centrão que é um espaço onde tudo de pior acontece.

Assisto mais um capítulo de Star Trek, e ainda acredito no futuro. Estou cansado de pessoas que propõe uma solução messiânica de um passado glorioso. Chega de esperar por Dom Sebastião. O futuro começa agora com as pessoas que realizam e não com as que odeiam.

Ou seja, a resposta não está no passado, nos extremos ou no meio termo. A única chance que temos é construir o futuro, e quando isto acontece? Assim que eu terminar de escrever e você de ler. Não me odeie por isso.

domingo, 22 de novembro de 2020

Sete deusas

 


“Quisera ter a voz

Para te dizer o que digo”

 

Venha aqui musa que me inspira, para dizer aquilo que não sei falar sozinho, e conte aos quatro cantos o encanto que me encontro.

Use meus braços, lábios e a minha voz para contar uma história feita de música, chão, lágrimas e calor; como quem fala dos quatro elementos.

Conte através de minha história no pulsar de minhas veias como sete deusas encarnaram em uma só mulher.

- Primeiro veio Artêmis com seu jeito de menina. Toquei as suas tranças e nessa dança ouvi o poeta cantar como se fosse todo azul espalhado em seu olhar.

- Hera não era mais que você quando a luz dos olhos meus precisa se casar.

- Depois veio Afrodite pôs fogo em nossa cama e o olhar de quem ama não reflete o drama.

- Athena guerreira e sábia atravessou pelas escolas, mas quem mais aprendeu foi meu coração de estudante e, mesmo que por um só instante entrou em compasso com o seu.

- Demeter também veio embalar nosso filho tão pequenino e a nossa menina: ágil bailarina, até vê-los crescer. Quantas vezes cheguei em casa ouvindo Gonzaguinha a sussurrar: “durma com a criança no seu colo”.

- Perséfone lhe tocou em uma noite de setembro, esse dia eu lembro do rosto feito de cera e beleza. A transmutação acontece e psiquê é quem volta, talvez pela volta que meus joelhos faziam ao pedir para Santa Maria somente com o olhar.

- Héstia se recolhe em sua casa e suas mãos unidas, cura as últimas feridas com uma força que nos alerta.

Sete deusas, sete músicas quatro elementos não são o suficiente para dizer tudo. Então que a quintessência lhe diga o simples, o óbvio, o clichê. Como deve ser qualquer história de amor que se preza.  Então saiba “que te amo, te amo, eternamente te amo”.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Gladiadores

 

 

Gladiadores são daquelas figuras bem diferentes na vida real e nos filmes. Não há qualquer novidade aqui: eles estão acompanhados por soldados, policiais, ninjas e bombeiros. Como não sei como é ser qualquer um dos outros, fico com os últimos (que no livro sagrado e em meu coração são os primeiros).

Sei que vocês esperam por histórias contando os feitos heroicos, mas 99,9% do tempo é de treinamento.

Ou seja, você treina, treina, treina para estar pronto para uma situação qualquer que pode nunca acontecer. E a sociedade agradece se nenhum avião cair, se nenhum ônibus capotar, se nenhuma casa desabar; enfim, se nada der errado. porém aviões caem, ônibus capotam e casas desabam.

Mas, não é sobre isso que quero falar.

Alunos ao redor do mundo todo também são os gladiadores modernos.

Ninguém vai se importar se você não sobreviver ao EAD, de vez em quando o leão ganha o jogo. O importante é exaltar um processo mais barato e funcional e pronto!

Se alguns gladiadores caírem no caminho... Bem, basta apontar o polegar para baixo que o problema some dos nossos olhos!

O importante é sobreviver, mesmo que o Coliseu tenha uma infinidade de armadilhas.

Hoje, a maior delas é a cultura do control C – Control V.

Vou passar ao longo da velha discussão sobre o que realmente é importante saber. Isto, a despeito da sensação inevitável: as pessoas que fazem questão de desprezar as leis de Newton são as mesmas que insistem que a Terra é plana.

Já cansei de falar sobre cola, sobre compra de gabaritos, ou pagar para outras pessoas fazer o seu TCC. Quero falar sobre uma sociedade cheia de pressão por resultados, ela quer, espera, troce, clama e exige: você vai ter um canudo para sobreviver. E mais uma vez o resultado é mais valorizado do que o processo.

Seja como for, o mundo também vai exigir o saber de coisas das quais você não tem a mínima ideia. Sua defesa será  um pouco de marketing e o velho jeitinho, então tudo dá certo.

Por outro lado, avaliar nunca foi a melhor atividade no processo de ensino-aprendizagem. Agora ficou impossível.

Me façam a gentileza de rever todo este problema diante de da perspectiva de quem ensina: vocês estão sendo avaliados por profissionais não menos pressionados, eles têm cada uma de suas aulas gravadas para futura conferência e possível apontar de dedos, cada um desses profissionais tiveram que comprar uma série de bugigangas sem terem como pagar.

Eles também são gladiadores.

Então quem de sã consciência pode culpar quem copia e cola uma prova prontinha para ter a chance de cumprir um prazo impossível, não importando em qual lado que esta pessoa esteja de um quadro negro virtual?

E o que tem isso haver com ser bombeiro, que eu disse no comecinho de meu texto?

Ser bombeiro é não ter o direito de colar: tudo que aprendemos deve estar como dizemos “na massa do sangue”, quando a crise acontece só há duas opções: ou você sabe o que fazer ou alguém morre.