domingo, 24 de janeiro de 2021

INIMIGO MEU

Para Marco Resende o amigo que me trouxe um ramo de oliveira 

Um dos maiores amigos que tenho responde pelo apelido de Geriba. Ele herdou o epíteto do alienígena que se opunha ao personagem do Dennis Quaid. Estávamos no Curso de Formação de Oficiais do Corpo de Bombeiros e tivemos uma questão tão importante, tão pivotal, que eu nem sei mais do que se tratava.

O tempo passou e as feridas se transformaram em cicatrizes diáfanas que nem percebo mais. Porém, quando as chagas ainda estavam abertas um dos pontos que me fez repensar toda aquela rivalidade veio do filme de ficção científica com jeitão de blockbuster.

Após tentarem se matar mutuamente os dois opositores entenderam que somente juntos eles poderiam sobreviver a um terreno mais que inóspito.

Em um momento crucial o alienígena feioso recita belas palavras de seu livro sagrado, para depois perguntar ao astronauta para qual Deus ele dobrava os joelhos. A resposta foi... Mickey Mouse!

Na cena seguinte em um acesso de raiva Geriba amaldiçoa o que seria mais sagrado para Dennis Quaid: Mickey Mouse. Este ao invés de retribuir a agressão tem um ataque... de risos!

Após tentarmos nos agredir mutuamente recebi meu estranho amigo no quartel que servi por mais de dez anos. Passados os tempos de cadete, finalmente entendemos que somente juntos nós poderíamos sobreviver a um terreno quase tão inóspito.

Para isso precisamos rever nossos conceitos do que seria sagrado durante a Academia e assim amadurecer. Afinal, amigos não são necessariamente aquelas pessoas que concordam em tudo e sim aquelas que toleram e aprendem com as diferenças.

Também tive que reavaliar meus conceitos sagrados, sem fundamentalismo e entender que algumas vezes eu tolamente também rezava para Mickey Mouse.

Mudando totalmente de assunto, lhes convido a se posicionar na Távola Redonda um segundo após o arrebatamento causado pelo Graal. Nesse instante os cavaleiros se comprometem a busca do símbolo sagrado. Para isso é necessário passar pela mata, onde não há qualquer trilha, pois o caminho é único para cada um deles.

O meu é recheado de metáforas e de encontros improváveis. Não espero que você entenda, do mesmo modo que não entendo o seu, mas talvez, só talvez podemos rever as nossas posições sem tanta tensão e ver o quanto do Mickey Mouse está lá, agarrado em nossas visões fixas e imutáveis do que vem a ser sagrado. Assim se encontrarmos o Graal poderemos beber chope nele juntos.  

 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

CRENÇAS

 

Muita gente me pergunta em que acredito. Acredito em ciência.

Observe que não tenho nada contra religião e a sua espiritualidade. Podemos, todavia, discutir a filosofia ao redor de qualquer instituição humana, porém também entendo que quando a coisa fica dogmática é a hora certa de pisar no freio e respeitar as suas crenças, mesmo que me pareçam absurdas.

Também sei que o mesmo respeito nem sempre é recíproco.

Então não! Não espere que eu perca meu tempo tentando fazer você entender que coisas como TERRAPLANISMO, CRIACIONISMO, HORÓSCOPO, WICCA, ALIENÍGENAS DO PASSADO, USO DE MEDICAMENTOS SEM PESQUISA, ANTI-VACINISMO ou REPITILIANOS podem ser levados a sério como teorias científicas.

Nada contra se você acredita em qualquer uma dessas coisas, faz parte do show. Também tenho um lado muito doido cultivado por Isaac Asimov, Patrick Rothfuss, Homero, Jung, Machado de Assis, Bernard Cornwell, Arthur Clarke e (minha preferida) Jornada nas Estrelas; porém se você quiser conversar sobre esses assuntos saiba que o papo será regado a chope sem nenhum compromisso de chegar a qualquer TEORIA DA CONSPIRAÇÃO.

Se você teve paciência de ler até aqui vou lhe dizer do que se constitui minha espiritualidade. Poucas certezas me restam, posso enumerar algumas aqui:

Deus existe e fui testemunha de vários milagres. Ele ama a diversidade. Sua obra é todo universo, portanto ela não se esgota na fala de nenhum ser humano, texto ou instituição. Ele nos deu um incrível presente chamado cérebro, use-o com cuidado e atenção. Se você não concorda com nada disso a vida segue, partindo do princípio de o que é sagrado para você deve ser sagrado para mim.

sábado, 16 de janeiro de 2021

NOSSOS RAPAZES NÃO MORRERAM EM VÃO

Depois das devidas correções dos historiadores de plantão o que digo pode até até ficar coerente.

Acredito, entretanto, que minha versão resumida vai servir de ponto de partida. Se não for exatamente isto me perdoem. Mesmo assim jamais deixe que a verdade estrague uma boa estória.

É mais ou menos assim: tipo 1915 políticos inflamados convenceram a nação italiana a reconquistar a grandeza da velha Roma e todos embarcam em uma tremenda furada.

15 mil mortos!

Então o que você poderia esperar como reação? Alguém no microfone do parlamento dizendo: Gente, vamos deixar os austríacos para lá, eles já estão todos enrolados no outro front e vão aceitar fácil um tratado de paz, basta admitir que erramos, nos desculpamos com a população e a vida segue. Bem foi justo o contrário...

60 mil mortos! N capa pi feridos.

O pior de tudo a ascensão do fascismo.

“Pra que ficar juntando pedacinhos do amor que acabou?” Pergunta inocentemente Guilherme Arantes.

It´s the human nature. Responde Michael Jackson.

É difícil admitir que o Titanic está afundando. Porém, quanto antes admitirmos que encontramos a namorada errada, compramos o terreno errado, votamos errado melhor.

Responsabilidade significa responder ao que fazemos. Somente quem admite quem errou é capaz de romper os ciclos nefastos que nos arrastam para o fundo.

Só assim poderemos chegar a um “novo tempo, apesar dos castigos”. Fico por aqui na companhia de Ivan Lins na esperança de que a boa música que evoquei ajude a atravessar um vale de lágrimas.

 

 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Sobre o Maicon, Marcelo, Fernanda, Márcia, Guilherme e Fábio Henrique

 


“Quando eu não puder pisar mais na avenida,

quando as minhas pernas não puderem aguentar...”

Sou professor.

Não é minha primeira profissão, mas sou de corpo, de alma, de uma cabeça cansada e de calos nas pontas dos dedos.

E assim o sou porque tive o privilégio de ver os melhores em ação. Os grandes mestres, os gênios, os homens e mulheres que serviram de modelo. Referência e reverência aos sérios, aos bem humorados, aos criativos, aos metódicos, aos exigentes, aos amigos. Todos geniais.

Como eu poderia seguir estes passos com meus pés claudicantes? Lecionar é um ato de esperança, mas também de coragem. Tantos pares de olhos miúdos seguindo meus movimentos, ciente que era modelo e inspiração. Uma terrível responsabilidade.

Depois de tudo fica o vazio quando as luzes da ribalta se apagam. Como passar este nobre papel para outros atores e atrizes?

Meu caminho começa com uma disputa boba: vivia as turras com uma amiga que amava matemática e dizia que a ciência de Pitágoras e Euler é a maioral, já eu defendia com todas minhas forças Newton e Einstein. Nossos primeiros passos estavam apontando para o árduo e maravilhoso caminho de ensinar exatas. Tudo que tínhamos era paixão pelos livros e fórmulas. Não sabíamos então, que isso é quase tudo que é preciso (exato, necessário) para apontar o norte. Ela não se desviou do caminho, eu dei muitas voltas.

Outra história é da menina que seguiu os passos do pai ao entender que grandes mestres são antes de tudo generosos e gentis. Ah! Não se esqueça da pitada de humor! Esta hoje ensina a ensinar.

Quem também cruzou meu caminho foi o jovem que fala sobre a vida. Novas técnicas, novas tecnologias e muito a me ensinar na nova jornada. Não fosse o suficiente ele está sempre na torcida. É impossível não oferecer o meu máximo quando o vejo como que aos gritos de um torcedor apaixonado.

Outro cara está ao meu lado, mesmo que distante. Ele traz consigo a arte dos alquimistas que virou ciência. A pedra filosofal está ali na esquina, basta que os alunos percebam o misto de esforço e excelência. Ele vai brilhar.

Aula a distância me aproximou de dois futuros professores: o que queria ser militar e o que quer se despedir da carreira. Diversas vezes aprendemos juntos, logo eles saberão mais do que eu jamais pensaria ser possível. É assim mesmo que deve ser. Professores são só bases de lançamento.

Um dia vou parar de me preocupar com questões, vestibulares e aulas. Este dia ainda não chegou, mas estou em paz. Quando vier sei que há muitos que vão carregar a chama.

Meu anel de bamba ( se é que um dia o mereci)? Já passei adiante!

Para

Maicon Marques, Marcelo Emilio Santos, Márcia Spíndola, Fernanda Veiga, Guilherme Tostes e Fábio Henrique