sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Sobre Tróia e Matrix

 


Duas mortes me chocaram por motivos opostos em temas mitológicos (se é que já posso tratar Matrix assim). A derrota de Heitor e a queda daquela personagem loira que foi unplugged, sem que o Neo pudesse fazer nada.

Juro que pesquisei, para saber o nome da personagem para facilitar que você se encontre aqui no meu texto, porém como sou um bocado analógico é claro que não achei. Só que aqui eu tenho um bom motivo: Matrix é tão f, mas tão... (desculpe minha falta de vocabulário – fodástico mesmo) ao ponto de dar pouca relevância a um tema que me choca até hoje.

Tudo bem, vou lhe explicar melhor. Estou falando daquela cena em que o cara que traiu o grupo começa a tirar o plug de quem ainda está na Matrix e o Neo fica só vendo um a um morrer, impotente. Então aquela loira diz algo como “assim não!”, mesmo assim ela desfalece como se fosse um saco de batatas.

Sacanagem! Ela era uma guerreira e merecia cair atirando, no melhor estilo bang-bang.

Cabe aqui dizer que tenho uma relação bem razoável com a derrota, poderia citar Darcy Ribeiro dizendo que eu odiaria estar no time que venceu cada uma de minhas batalhas perdidas, mesmo que os dragões sejam moinhos de vento. Ou melhor ainda: rolar de rir com as crianças que respondem ao famoso “é canja de galinha, arranja outro time pra jogar na nossa linha” com “parreira, parreira, parreira de chuchu, o nosso time perde, mas não fica jururu”. Mas repito, ela merecia ter caído em uma boa luta.

O problema já foi detectado pelos Engenheiros do Havaí em duas passagens: “satisfação garantida, obsolescência programada, eles ganham a corrida antes memo da largada” e “muito prazer, me chamam de otário,..., por amor as causas perdidas”.

Perder faz parte. Já que é para falar de derrota não vou fugir da raia e opinar sobre o famoso 7X1. Para mim não foi nada demais. Apenas um resultado esportivo. Derrota de verdade foi o quanto se roubou para fazer estádios. E não digo isso para opinar que não deveria haver grandes eventos por aqui. Podemos ganhar muito, com um potencial turístico gigantesco. O que atrapalha de verdade é a nossa vocação para sermos roubados.

É isso vou ficando por aqui. Não tenho muito mais o que dizer.

Só me resta a obrigação de um parágrafo que justifique o título. Então eu digo que preferia o meu corpo derrotado sendo arrastado por três dias e três noites, diante do choro de meu pai no alto da muralha.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Sobre Romanos, a Cruz Céltica e o círculo trigonométrico

Meu amor traz na pele uma tatuagem. Tatuagem não é uma coisa qualquer. Os Romanos a chamavam de estigma, assim poderiam saber de qual legião vinha cada soldado, então o soldo pago em sal poderia ter total controle, eles realmente sabiam como organizar tudo. Por isso voz digo: em Roma faça como os Romários (ou quase isso).

O problema é que quando o soldado chegava a General todos sabiam de onde ele vinha. Aquele militar não havia sido indicado pelo Senado, ele vinha da tropa: era estigmatizado! Isso era realmente complicado nos mais altos círculos. Porém, tendo eu mesmo vindo da classe que anda aos mil, posso até imaginar que o respeito que lhes era negado nas cortes era garantido pela tropa.

A tatuagem de meu amor é temporária, por isso mesmo ultrapassa o espaço e o tempo. Tem algo de espiritual, pois as sete marcas do grande mestre também são estigmas. Marcas do sofrimento impingido pelos Romanos (então nem sempre faça como os Romários!), duas delas ficavam nos punhos, pois a pele da mão não suportaria o peso do torturado.

E como é esta marca? Para responder, basta seguir instruções bem simples: trace uma linha reta na vertical, outra na horizontal, finalmente um círculo com o centro no encontro dessas retas. Então chegamos à Cruz Cética, ou caso você preferir ao círculo trigonométrico.

Este pode lhe lembrar que a vida é cíclica e a cada dois K pi tudo volta ao que era antes, seus valores oscilam, são as ondas do mar e da natureza mais profunda da matéria. E bem sabemos que matéria é mãe, é Mater. Ele dá as voltas das horas e das órbitas. Mostra onde está o pêndulo que faz os opostos se alternarem.

Aquela é espírito, pontífice vertical que nos permite ter os pés na Terra e os olhos no além. É matéria horizontal, lembrando que não vale em momento algum dizer que a carne é fraca. 

Assim como matéria e energia têm em comum a fórmula de Einstein, matéria e espírito se encontram no círculo quaternário que é o coração humano.

Meu amor traz isso tudo na pele.

A pele que faz arrepiar a minha.

A tatuagem é temporária.

A eternidade também.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

SHADOW OF SHELDON

Não sou um simples fã. Por um motivo não menos simples: sou nerd até a base nitrogenada mais escondida de meu DNA. Então, minha identificação com o quarteto de The Big Bang Theory não é de forma alguma casual.

Dois em especial me deixaram marcas profundas, o Leonard e o seu amor desengonçado pela Penny já seria o suficiente para me fazer cair de amores pela série. Entretanto, é o magricela feioso que mais me chama a atenção.

Sheldon é uma de minhas sombras e sempre me lembra que quando não sou humilde e solidário me dou mal.

Assim como a ele fique a vontade em me definir como terrivelmente chato, principalmente quando quero ser didático e é exatamente o que vou fazer agora.

Não uso a palavra sombra somente para fazer o trocadilho que se encontra no título aí em cima. Este é um dos aspectos do inconsciente pontuado por Carl Jung. A partir das observações ele concluiu que a psique possui intensas energias, muitas das quais escapam nossa visão consciente, como a água passa por uma peneira. 

Deste modo, um desses nossos próprios aspectos pode desenvolver o arquétipo da sombra. Quando este é indesejável podemos, por exemplo, projetar em outros na tentativa de expurgar os nossos defeitos, entregando-os aos inimigos como quem os oferece um cavalo de madeira grávido de soldados gregos.

Por outro lado, quando nos tornamos conscientes deles podemos tirar grande proveito. E qual não foi minha enorme surpresa quando um de meus melhores amigos decide me comparar justo ao... Sheldon!

Poderia esperar tiro, porrada e bomba, pois é certo que somente verdadeiros amigos nos avisam se estamos com um terrível mal hálito! Todavia, quando abro o vídeo vejo o Young Sheldon, ateu convicto, convencendo sua mãe a continuar acreditando, por entender que isso era fundamental para a sanidade dela.

Sim! Há um menino, há um moleque em meu coração. Sei que ele é arrogante, egocêntrico, mimado e desprovido de empatia, mas ele também é o reizinho que concede o título de Sir ao cavaleiro que luta contra os moinhos de vento.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 

Tem gente que sofre, tem gente que se adapta. Zé era um sobrevivente e faria tudo o que é necessário para se adaptar.

O sistema está aí e não há muito o que se fazer sobre isso. Então, o que lhe cabia fazer era fingir ser bem comportado para ganhar a cota toda.

Ele realmente não entendia para que tanta revolta e costumava zombar dos meia-tigela. Portanto, vê-lo denunciar aquele outro roubando manga logo depois de tomar a caneca de leite não causou nenhum espanto ao feitor.

E tanto informou sobre os maus feitos dos outros que ele mesmo acabou sendo promovido. Sua subida nas escadas da vida foi meteórica e logo lhe deram um chicote para desempenhar melhor o seu nobre trabalho.

Engana-se quem pensa que o pelourinho na Praça do Meio era usado para escravos. Somente endividados, ladrões e prostitutas tinham o privilégio de serem açoitados pelo Procurador Geral. Dos outros escravos da fazenda ele mesmo cuidava amarando-os na acha do chiqueiro.

Bom mesmo eram as gurias que se aproximavam dele para evitar a força de sua chibata. Porém, as que ele preferia eram aquelas que resistiam aos seus encantos e lhe levavam a doce obrigação de sentir a força de seu açoite. Para essas as manchas de sua calça de algodão eram as verdadeiras testemunhas de seu prazer.

Tudo ia muito bem até o dia em que se distraiu e tocou nas mechas louras de Nha Moça.

Mão esquerda amputada!

Tem gente que sofre, tem gente que se adapta. Zé era um sobrevivente e faria tudo o que é necessário para se adaptar.

Definitivamente ele não precisava da outra mão para segurar o açoite.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Sonhos

 

Desde que cumpri minha missão no Corpo de Bombeiros um sonho recorrente tem me assombrado:

Chego no portão do Quartel Central só de short e descalço. Está prestes a acontecer a formatura da espada e todos já estão no pátio com uniforme de gala, tenho que correr me escondendo ao máximo para chegar no alojamento e pôr a farda correta.

Se isto não é assustador para você, provavelmente nunca cumpriu o serviço militar.

Mesmo rompendo com o tecido do texto, preciso de um interlúdio antes de seguir.

Sonhos me dizem muito. Fiquei meses impressionado com as paisagens oníricas da pré-adolescência e uma delas me levou ao terraço de minha casa em Marechal Hermes:

Acordei assustado com meu próprio grito, pois, encostada em meu peito, lá estava a poderosa e imensa espada de Ogum e seu fio estava prestes a iniciar um corte que vinha do infinito até as bordas de meu coração.

Obviamente ambos os sonhos têm algo a me dizer de um modo profundamente simbólico, pois de fato não tenho nenhuma peça das fardas do CBMERJ, já passados seis anos de reserva. Sei que há vida pelo mundo afora, mesmo para quem não é bombeiro. E ainda, se não tenho poderes sobrenaturais sobre qualquer outra pessoa, ao menos entendo uma espada que toca meu ser e vai até o céu é uma ponte.

A última mensagem de Morfeu veio um pouco diferente na noite passada:

Estava colocando o uniforme de prontidão e já usava o coturno, a calça e cinto, estava prestes a colocar a gandola e o capacete quando fui interpelado por um jovem oficial que queria me contar uma história. Ouvi com entusiasmo, porém no final lhe disse que o personagem da história que ele contava era eu mesmo. Então, me despeço dele e vou para o pátio para a passagem de serviço sabendo que em pouco tempo eu poderia ir para casa.

A interpretação é tão óbvia que decidi não a fazer desfilar aqui em respeito à inteligência de quem lê.

Digo apenas que vários símbolos vêm invadindo minha vida ultimamente, não sei se por sincronicidade ou pelo simples fato de que tenho andado acordado por aí.

Dentre estes a cruz céltica tomou conta de tudo, se você não sabe o que ela é apenas desenhe um círculo encravado no coração de uma cruz.

Enquanto o círculo segue em suas voltas completas e infinitas unindo o começo e o fim a cruz une o que é horizontal como o mar e vertical como o fogo.

É como se a luz de Deus em seu círculo solar abençoasse a mãe que se deita e pai que se ergue em uma ponte entre matéria e espírito. Pois assim o foi, é e será.