quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 

Tem gente que sofre, tem gente que se adapta. Zé era um sobrevivente e faria tudo o que é necessário para se adaptar.

O sistema está aí e não há muito o que se fazer sobre isso. Então, o que lhe cabia fazer era fingir ser bem comportado para ganhar a cota toda.

Ele realmente não entendia para que tanta revolta e costumava zombar dos meia-tigela. Portanto, vê-lo denunciar aquele outro roubando manga logo depois de tomar a caneca de leite não causou nenhum espanto ao feitor.

E tanto informou sobre os maus feitos dos outros que ele mesmo acabou sendo promovido. Sua subida nas escadas da vida foi meteórica e logo lhe deram um chicote para desempenhar melhor o seu nobre trabalho.

Engana-se quem pensa que o pelourinho na Praça do Meio era usado para escravos. Somente endividados, ladrões e prostitutas tinham o privilégio de serem açoitados pelo Procurador Geral. Dos outros escravos da fazenda ele mesmo cuidava amarando-os na acha do chiqueiro.

Bom mesmo eram as gurias que se aproximavam dele para evitar a força de sua chibata. Porém, as que ele preferia eram aquelas que resistiam aos seus encantos e lhe levavam a doce obrigação de sentir a força de seu açoite. Para essas as manchas de sua calça de algodão eram as verdadeiras testemunhas de seu prazer.

Tudo ia muito bem até o dia em que se distraiu e tocou nas mechas louras de Nha Moça.

Mão esquerda amputada!

Tem gente que sofre, tem gente que se adapta. Zé era um sobrevivente e faria tudo o que é necessário para se adaptar.

Definitivamente ele não precisava da outra mão para segurar o açoite.

2 comentários:

  1. Podemos adaptar para os dias atuais ?Tem um monte de ze por ai.

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    1. É uma metáfora, portanto a interpretação é livre... bem diferente do Zé, pois qyem é promovido a capataz permanece escravo

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