Como posso falar de Lupina? Só posso definir como ousadia.
Ela era minha mãe, mas quase poderia ter sido
minha vó. Só tive chance de ver parte de quatro de suas dez primaveras vividas
nesse mundo.
Entretanto, nada me impede de ser ousado, pois posso
falar de como ela era madura, doce, alegre, sofrida, divertida, grande, grande
e grande. Se quisesse definir em uma palavra corajosa.
Toco na toca. Pois ela seguiu, em seus últimos passos
os meus. E foi no meu cantinho buscar abrigo.
Se eu tivesse um pouquinho de senso me calaria. Calar
é sempre mais fácil, pelo menos na superfície. Saiba, contudo, que lá dentro
cada palavra calada cobra o seu preço sob a luz intensa que ela emanava. Isso
pode encher de sombras um coração afogado.
Então fiat lux!
Mesmo que seja uma luz artificial, reflexo do Sol e da
Lua que viu essa grande loba pisar na terra, beber da água mais fresca,
contemplar o fogo sagrado e respirar o ar do mundo.
Hoje ela me foge das mãos. Ela se reflete na vida de
muitas outras lobas, portanto, a Lupina da qual falo é apenas um vulto do que
ela foi.
Mesmo assim ela é mais que verdadeira. É lendária. É o
coração que pulsa em tantas outras lobas. É minha herança. É o que tenho de decente
e me faz ético, toda vez que que a dúvida me assola. É exatamente neste momento
minha alma pergunta como eu agiria se ela pudesse me ver.
Deixe Lupina invadir o seu mundo, caso você se abra e
veja nela o reflexo de tantas outras grandes lobas que já passaram por aqui,
saberá do que digo.
Saiba também que esta Lupina, que construo agora,
feita de letras e estórias não me pertence, assim que anuncio o que digo. Nesse
momento, ela corre o enorme risco de tomar um pedacinho da alma da loba que lhe
trouxe a luz ou lhe abrigou em seu seio. Todos sabem que elas se multiplicam e
a única coisa que muda é o endereço.
Portanto, não me diga que a história dela é infinita,
porque isso já sei. Mas entenda o que faço neste presente dia: não irei até o
infinito para lhe mostrar estrelas. Ficarei aqui na beira da praia e vou lhe
mostrar como se conta os grãos de areia.
Simplesmente vou falar o que um grão me disse e vou
estimar quantos são necessários para encher a praia.
Estimar, não é exato! Você brada do outro lado do
mundo.
Respondo que estimar Lupina, sempre fez toda a
diferença para mim.
Você conseguiu simplificar a pessoa mais complexa que conheci, tão doce e tão ousada . Essa é Lupina.
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