quarta-feira, 6 de abril de 2022

Você está sempre em minha mente

 

Maybe I didn't treat you
Quite as good as I should have
Maybe I didn't love you
Quite as often as I could have.

Vejo o vídeo do Elvis contando sobre seu amor (perdido) pela Priscilla. Ele estava obeso, com olhos caídos, voz trêmula. Mesmo assim era genial.

Não adianta eu tentar fazer aulas de canto, aprender a tocar violão, projetar isso para quando era jovem, estar no melhor de minha forma física, jogar em São Januário, comprar a arbitragem, conseguir a melhor indicação midiática que o dinheiro possa comprar, ou qualquer outra vantagem que eu possa imaginar. Ele é (no presente, pois não morreu) o Elvis e eu sou eu.

Entendo muito bem disso, desde que vi o Garrinha jogar no Olaria pelos idos de 1972.

Gênios são gênios.

A grande diferença é que eu fiquei com a garota, o Elvis não!

Entretanto nem disso posso me orgulhar.

A garota ter ficado depende muito mais dela do que qualquer outra coisa.

Deveriam escrever um tratado sobre a semelhança entre a manutenção de um relacionamento com o processo de perda, a saber:

I – Negação;

II- Raiva;

III- Tristeza;

IV – Barganha; e

IV- Aceitação.

Cada um desses itens ou seus conceitos diametralmente opostos povoam os relacionamentos, até porque se homens vêm de Marte e mulheres de Vênus há uma chance enorme de que os casais se percam em algum cinturão de asteroides com consequências trágicas.

Olha que não estou falando de nada patológico, tipo caras que acham que o Nelson Rodrigues estava certo ao dizer que mulher gosta de apanhar; ou ainda qualquer pessoa que tente justificar salários menores para as meninas por qualquer motivo que seja; ou ainda pensar que seja errado elas desprezarem homens só por causa da orgia; e ainda por cima gostar a ponto de se enroscar de dizer que a parte mais fraca é a mulher.

Falo apenas do meu cantinho do mundo, de onde fui criado para ser irremediavelmente machista, a ponto de pensar que meu falo cairia no chão se eu ousasse lavar um prato.

Pelo que sei uma tábua suja de urina ou um par sapatos cheios de lama bailando na sala, ou a incompreensão de que a responsabilidade de cuidar de uma casa é mútua; são fatos que estragam as melhores histórias das princesas da Disney.

Imagino que estas questões do dia a dia não devem ter dado fim ao relacionamento do casal famoso, pois eles tinham muito mais que o suficiente para que outras pessoas fizessem tudo isso por eles. Nem assim ele foi capaz de cuidar de sua garota.

Uma pontinha, injustificada, de orgulho me assalta nesse exato momento e penso que pelo menos nisso sou um cara melhor. Portanto, não tenho que ficar por aqui gastando meu latim dizendo que eu deveria ter me aprimorado no processo.

De certa forma, foi exatamente isso que aconteceu. Homens têm, em geral, duas chances de serem educados pelas mulheres. Uma vez pela mãe e outra pela esposa. Não há uma terceira chance que não venha sem alguma dor, mesmo que o bacana tenha uma filha.

Talvez, só talvez, a grande chance de não ver sua nave explodir na colisão com algum asteroide seja a nossa capacidade de perdoar, tanto um ao outro, como a si mesmo. Pois os relacionamentos com todos os processos adjacentes de euforia, negação, alegria, barganha e aceitação devem ser vividos de um modo pleno e honesto.

Mesmo assim tudo pode dar errado.

Como tudo que é humano.

Então se você tem alguém com quem dançar coladinho com a voz do Elvis lamentando seu amor perdido faça o que digo: Jogue suas mãos para o céu e agradeça. Seja na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

4 comentários:

  1. Uma cronica de homem para mulher, poderia ser vice versa, por que acho que nas estradas da vida aprendemos mais se seguirmos juntos.

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    1. Vou aproveitar suas palavras Cleópatra para dizer que marido e esposa são anjos de uma asa só. Isto porque para voarem rumo ao horizonte da felicidade no casamento, dependem um do outro.

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  2. Eu também fiquei com a garota Remo. Lá se foram praticamente 30 anos, mas não carrego os louros, estes são dela indubitavelmente.
    Parabéns pelo texto.

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