terça-feira, 1 de novembro de 2022

O grilo falante do Júlio

Ter dois ouvidos e uma boca nem sempre foram suficientes para nos ensinar a medir as palavras. Tudo isso vai ficando cada vez mais difícil se nos corredores da torre se acumularem assessores. Assessores são muito comumente tampões de ouvidos.

Reza a lenda que os imperadores chineses tinham o hábito de mandar matar todos os mensageiros que trouxessem más notícias. Custo acreditar nisso, pois um dos principais fatores que sustentam as estruturas em longo prazo, sejam elas de engenharia ou sociais, é a devida manutenção. Para tal se faz necessário saber onde estão aparecendo as fissuras.

Mesmo assim perdi uma enorme chance de ter ouvido um amigo que me disse: “quando o chefe pede uma opinião, na verdade está esperando por um elogio”. Quem sabe se eu tivesse seguido essa cartilha teria recebido algumas promoções ao longo de minha carreira.

A condição do chefe surdo se agrava quando se deixa levar pelo ego, se tornando arrogante e lá vai mais um encastelado capaz de oferecer brioches quando o povo pede pão.

Agora as fissuras no poder estão evidentes. Mesmo assim Édipo se esquece de arrancar os próprios olhos para começar a enxergar o que ocorre além dos muros e dos cercadinhos.

Lá na torre a canalização de esgoto está prestes a explodir, entretanto falta espaço para alguém que diga: “chefe isso pode dar...”. E redunda no momento crítico no qual nem todo perfume francês encomendado é incapaz disfarçar e esconder o que não dá mais pra ocultar.

Tendo olhos, ouvidos e nariz tapados chega o momento em que Midas morre de inanição pois o elemento de número atômico 79 não é capaz de o alimentar.

Reza outra lenda que na mesma biga que Júlio Cesar chegava triunfante em Roma após as campanhas vitoriosas ele tinha um escravo que lhe dizia que tudo aquilo iria passar, se fosse eu aproveitaria para dizer que ele estava ficando careca e barrigudo. Quem sabe isso seria o suficiente para que não tomasse uma facada nas costas, justo de seu assessor favorito.

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