quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Um pequeno teste

 Você está andando de bicicleta em uma cidade grande qualquer no Brasil. Estaciona e a tranca para fazer um lanche. Ao voltar para pegar ela percebe que colocou o cadeado errado prendendo a roda ao quadro, como o que pode dar errado vai dar errado ainda mais (dá-lhe lei de Murphy) se dá conta que perdeu a chave.

O que você faz?

Se sua resposta (tem que ser sincera) é que você vai andar arrastando a sua bicicleta até o chaveiro mais próximo sem sequer imaginar que poderia ser incomodado por algum transeunte ou agente da lei, isso me faz saber qual etnia você declarou para o CENSO do IBGE.

Sei que não tenho lugar de fala no assunto, a única vez em minha vida que me senti discriminado foi quando fui impedido de entrar num supermercado, isso aos oito anos de idade, ouvindo o segurança gritar “SAI DAQUI PIVETE!”. É lógico que estava com meu traje normal na época: short curto (herdado do Maninho), descalço e sem camisa. Naquele dia acabei aprendendo o valor das aparências e que deveria disfarçar a origem de pobre vira-latas. O que foi facilitado por não ter herdado tanta melanina.

Tais fatos me rondam justo quando soube que o tal do Novo Ensino Médio traz um tal de projeto de vida e carreira, o que considero ser um nome bonito para dizer “se vira aí, se der errado a culpa é sua”.

Podemos conversar sobre a tal da meritocracia. Por princípio não seria a cor da pele, origem ou classe que deveriam determinar a capacidade de alguém. Entretanto, só estarei disposto a realmente discutir esse assunto depois que todos tiverem pão e livros.

Não sendo assim tudo redunda em um mal disfarçado sistema de castas. Onde as exceções (me incluo) confirmam a regra. E isso deveria encerrar o assunto. Porém prometo não lhe deixar no vácuo sobre o final feliz das duas histórias.  

Arrastei a bicicleta até o destacamento de bombeiros onde peguei um tesourão emprestado da guarnição, um privilégio de quem é veterano do casarão vermelho.

Na ocasião mais distante voltei para casa sem o café que ia comprar. Meia hora depois o segurança do supermercado teve que se esconder de minha mãe que sabia rodar a baiana como ninguém.

Um comentário:

  1. Como vc mesmo disse, filho de pobre q se forma e uma benção, porem temos evoluido a cada geração , nos mesmo nossos filhos e os netos se formaram, e assim vamos evoluindo .

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