quinta-feira, 8 de março de 2018



Determinante

Mais uma vez recebo de um amigo que quer me pilhar a velha piada: “outro dia passou e não usei Δ = b2-4ac.”
Sei que deveria levar na esportiva, assim como quem aguenta as falas sobre um time que cansa de cair para a segunda divisão.
Não consigo.
O assunto é sério demais para mim.
Cada vez que ouço essa gracinha penso o quanto as pessoas foram torturadas em uma sala de aula para conseguir odiar algo tão fascinante quanto a matemática.
Talvez isto ocorra porque as salas de aulas são parte da sociedade, e não uma ilha da fantasia isolada do mundo. Canso de ouvir falarem por aí que a solução é a educação, como se só a escola fosse capaz de ser panaceia de um mundo doente. Claro que é bom caminho, mas nossas dores não se resolvem somente ali.
Especialmente ao se falar de matemática penso o quanto um profissional desmotivado e desvalorizado deve lutar para que seus alunos acompanhem e avancem a cada passo. Isso se não forem estes mesmos profissionais os responsáveis em fechar as portas.
Essas portas vão ser trancadas a sete chaves para todos aqueles que passarem a odiar a matéria. O que vai se refletir na piadinha que começou este texto.
Graças a Deus há muitos professores pelo mundo afora superando estas dificuldades ensinando com técnica e qualidade. Alguns têm acesso a uma série de tecnologias que facilitam sua labuta. Há sempre algo novo. Começou com o rádio, depois foram as teleaulas, então vieram os computadores, quadros inteligentes, programas de TI. Bem, a lista é infinita.
Quando não havia nada disso um grupo de gregos meio doidos desenhavam uma estrela de cinco pontas na palma da mão para se reconhecer mutuamente. Eles achavam que a matemática e a música tinham mensagens divinas. Estudar seria, então, uma obrigação espiritual.
O desenvolvimento de uma sociedade com arquitetura, arte e engenharia espetaculares foi uma consequência lógica, pois todas essas coisas têm matemática em seu estofo.
Entendo, é claro, que se desenvolver em alto nível em qualquer área é uma decisão individual que vai demandar tempo e esforço, mas que cada macaco se pendure no cateto que bem entender. Eu, por exemplo, não sei tocar nenhum instrumento; mas gosto muito de música. Então, poderia esperar que quem não tem um pentagrama tatuado na palma da mão ao menos aprecie a arte de Pitágoras, Thales, Euler e tantos outros.
Voltando aos professores, considero que nós somos atores essenciais em todo esse processo. A próxima tecnologia de ensino, por mais P das galáxias que seja, ainda não nos vai substituir; da mesma forma que a aula por rádio não o fez.
Nos cabe inspirar àqueles que vão tocar este barco doravante.
Faço um pequeno exercício para reconhecer estas pessoas, pergunto logo na primeira aula o que eles querem fazer de suas vidas. É nesse momento que vejo as respostas apinhar minha sala de futuros médicos, advogados, atletas, escritores e historiadores. Ao final do curso ao refazer a mesma pergunta surgem engenheiros, físicos e matemáticos. Que eles me desculpem, mas é assim que aprendi a entortar a vida dos meus alunos.
Remo Noronha

3 comentários:

  1. Vc meu amigo, como sempre sabio em suas palavras e pensamentos. Te amo.

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  2. E nessas horas que vê....ninguém assistiu ao formidável enterro da minha última quimera,
    Somente a solidão, esta pantera, foi minha companheira inseparável. Acostumo-me a lama que me espera
    O homem que neste mundo miserável vive entre feras,
    Sente inevitável necessidade de também ser fera.
    Toma um fósforo amigo, acende teu cigarro pois eu não fumo,
    O beijo e a véspera do escarro, a mao que afaga e a mesma que apedrejá.
    Se ainda a alguem causa pena a minha chaga,
    Eu apedrejou esta mão viu que me afaga,
    E escarro nesta boca que me beija. Gostou da adaptação?
    Kkkkkkkk. Augusto, que me perdoem os anjos,
    Mas eu sou um poeta kkkkkkkk

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  3. Vamos lá. Também nunca usei, a não ser em concursos, mas tinha que saber sim. E adorei aprender matemática, umas vezes com muita facilidade, outras com muita, e tive a grande ajuda de um grande amigo.
    Não gosto dessas coisas. Acho falta de respeito, mesmo que seja aquela típica brincadeira de amigo. No começo, faz graça, mas com o tempo, vai cansando.
    Outra coisa que eu gostaria de acrescentar. Aqui na Espanha, quando termina o ensino fundamental, o aluno tem duas opções: fazer cursos técnicos de nível médio e superior, mas não é faculdade; ou o segundo grau puro, com duas opções: se ele quer seguir humanas, já faz a opção das disciplinas; se ele quer exatas, escolhe as matérias de exatas. É um ponto de vista.
    Outra observação: na faculdade de Educação Física, não tem Língua Portuguesa...como pode???

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